São Paulo, segunda-feira, 12 de julho de 2010

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Asiático-americanos despontam no YouTube

Por JOSH KUN

O grupo Legaci, de quatro cantores filipino-americanos de R&B, parece ser formado pelas figuras pop mais visíveis e, ao mesmo tempo, mais invisíveis do mundo. Antes de se tornarem backing vocals do ídolo "teen" Justin Bieber, os quatro cantores eram astros em ascensão no YouTube, hoje uma plataforma de lançamento crucial para artistas asiático-americanos em busca de exposição.
"O estereótipo [em relação a asiático-americanos] é que somos violinistas ou matemáticos", disse o crítico cultural Oliver Wang. "Por isso, muitos executivos da indústria musical estranham quando veem um americano de origem asiática cantando R&B. Mas o YouTube está reduzindo essa percepção."
Micah Tolentino, 30, fundou o Legaci em 1997, quando ainda era estudante secundarista em Vallejo, Califórnia, sob a influência de grupos de R&B como Boyz II Men e Shai.
"Mesmo que a maioria das pessoas só nos conheça como os backing vocals asiáticos de Justin Bieber, temos orgulho de estarmos aí fora, de mostrar ao mundo que asiático-americanos têm talento", disse Tolentino.
As paradas pop dos EUA não têm sido receptivas aos artistas de origem asiática.
"Os asiático-americanos são excluídos", comentou Phil Yu, autor do blog de cultura pop Angryasianman.com. "Há elementos nítidos de racismo, mas é também porque o público não está acostumado a ver rostos asiáticos nas paradas pop ou em clipes, e as gravadoras não querem se arriscar."
O Legaci pode contar seus "colegas" nos dedos de uma mão. Há a Pussycat Doll Nicole Scherzinger (seu pai é filipino), a popstar filipina iniciante Charice (que canta um dueto com Iyaz em seu primeiro single lançado nos EUA, "Pyramid") e, o mais famoso deles, Allan Pineda, também conhecido como Apl.de.ap, do Black Eyed Peas.
"Geralmente, quando se veem artistas asiáticos, são DJs ou produtores", disse Pineda, que nasceu nas Filipinas e emigrou para Los Angeles aos 11 anos de idade. "Estamos sempre no segundo plano."
Pineda conseguiu incluir nos álbuns do Black Eyed Peas duas canções em tagalog, uma língua filipina. Ele fundou seu próprio selo de gravação focado em artistas asiáticos, Jeepney Music, e recentemente gravou "Take Me to the Philippines", com patrocínio do Departamento de Turismo das Filipinas.
O único lugar onde artistas asiático-americanos crescem e aparecem no pop contemporâneo é no YouTube. No mês passado, o nono canal musical do YouTube em número de assinantes pertencia ao cantor pop coreano-americano David Choi.
Dos 50 canais musicais com mais assinantes, 4 eram de artistas de origem asiática: AJ Rafael (178 mil assinantes), Kina Grannis (177 mil), Gabe Bondoc (143,8 mil) e Cathy Nguyen (140,9 mil). A versão de "I'm Yours", de Jason Mraz, cantada por Nguyen, de um ano atrás, já foi vista mais de 5 milhões de vezes.
"Os asiático-americanos querem ver pessoas que se parecem com eles, que refletem seu estilo, que falam inglês com o mesmo sotaque deles", disse Yu. "Hoje, para jovens de origem asiática, a personalidade mais famosa não é necessariamente Lady Gaga, mas David Choi."
A estética amadora que está ao cerne do YouTube faz parte da criação do Legaci, há muito tempo. Todos os integrantes do grupo cresceram cantando sucessos pop e de R&B nas máquinas de karaokê de seus pais filipinos.
"A cultura filipina é baseada em pessoas que se apresentam", disse Chris Abad, 28, integrante do Legaci. "Nas Filipinas as pessoas são criadas tendo a música como parte de suas vidas. Nossos pais colocaram isso em nossas cabeças desde uma idade muito tenra."
Foi a versão cantada pelo Legaci de "Baby", sucesso de Justin Bieber, que os tornou conhecidos.
O vídeo, no qual juntaram-se a eles Cathy Nguyen e o rapper Traphik (outra presença constante no YouTube), mal tinha estado no ar havia um dia quando o grupo recebeu um telefonema do empresário de Bieber, Scooter Braun, que, há apenas três anos, descobriu o próprio Bieber da mesma maneira, assistindo a ele cantar versões cover no YouTube. Braun ficou tão impressionado com o Legaci que convidou o grupo a acompanhar Bieber.
O Legaci ficou agradavelmente surpreso com o grau de aceitação que teve da parte dos fãs de Bieber.
"Sabemos quanto tempo levou para os grupos afro-americanos serem totalmente aceitos pelo grande público", disse Delfin Lazaro, 28, do Legaci. "Isso vai acontecer também com os asiático-americanos. Queremos abrir essa porta, e vamos trazer todo o mundo junto."


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