São Paulo, segunda-feira, 12 de outubro de 2009

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DINHEIRO & NEGÓCIOS

Para credores indianos, garantia em gramas

Por VIKAS BAJAJ

KOCHI, Índia - Os indianos possuem mais ouro do que os cidadãos de qualquer outro país. Eles usam o metal reluzente como enfeites para exibir a riqueza da família, como fonte de poupança para a aposentadoria e seguro contra calamidades.
Mas, ultimamente, o ouro tornou-se uma coisa diferente: garantia e a base de um dos negócios de maior crescimento no país, os empréstimos baseados em ouro.
Enquanto penhorar as joias da família seria um sinal de dificuldades no Ocidente, trocar ouro por dinheiro na Índia é cada vez mais considerado o equivalente a fazer um empréstimo sobre a hipoteca da casa para expandir uma empresa ou simplesmente comprar coisas.
"É o cartão de crédito rural", disse V. P. Nandakumar, presidente do Manappuram Group, uma das maiores empresas de empréstimos sobre ouro do país. "Essa é realmente a única maneira de uma pessoa conseguir um empréstimo instantâneo, em três minutos."
A maioria dos indianos, especialmente os que trabalham na economia informal -92% dos 400 milhões de trabalhadores do país-, têm poucas opções quando precisam pedir empréstimo: eles não têm outras garantias nem documentos para comprovar renda.
As firmas de empréstimos a ouro também se beneficiaram da crise financeira. Nos últimos 18 meses, muitos credores pararam de fazer empréstimos pessoais sem garantias por causa dos crescentes calotes na Índia.
Hoje, "é muito mais palatável para os bancos dar empréstimos em troca de joias de ouro", disse Viren Mehta, diretor da Ernst & Young India. Em consequência, para mutuários como Vishwanathan C. R. Pai, um mecânico de riquixás, os empréstimos a ouro são um instrumento essencial.
Ele frequentemente entrega as joias de sua família na Muthoot Finance para pagar despesas operacionais de sua firma. Muitas vezes ele empresta 10 mil a 25 mil rupias (R$ 380 a 950) para comprar peças e repaga os empréstimos quando os clientes o remuneram. Ele paga de 15 a 18% de juros.
Pai disse que não conseguia um empréstimo comercial dos bancos porque eles pediam documentação de renda. Mas seus clientes, que mal ganham R$ 180 por mês, não fazem cheques ou recibos. "Aqui é muito fácil, não há formalidades", disse Pai, 29, sobre os empréstimos na Muthoot.
Há apenas uma década, pessoas que precisavam de dinheiro, como Pai, tinham de recorrer a parentes ou agiotas. O sistema bancário da Índia, principalmente controlado pelo Estado, racionava rigidamente o crédito, emprestando principalmente aos ricos ou a indústrias apoiadas pelo governo.
Penhoristas e agiotas há muito operavam nos becos da Índia, fazendo empréstimos em troca de joias para famílias em dificuldades, com taxas de juros de 30% ou mais. Mas os empréstimos a ouro feitos pelos bancos e empresas financeiras são diferentes. As taxas são menores -14% a 30%-, e os negócios são regulamentados.
Não há dados disponíveis sobre empréstimos a ouro, mas empresas financeiras especializadas neles estão crescendo depressa. A Manappuram, pioneira no ramo, ganhou R$ 1,3 bilhão em empréstimos a ouro no ano passado -contra R$ 700 milhões em 2007.
A Muthoot Finance, firma privada, diz que seus empréstimos estão crescendo 60% ao ano. O valor total do ouro nas mãos de particulares é de aproximadamente 60% dos depósitos em bancos, segundo dados do Conselho Mundial do Ouro e do Banco Central da Índia. Uma pesquisa de 2006 do governo descobriu que menos de 41% das famílias indianas tinham contas de poupança em bancos ou no correio.
Historicamente, muitos indianos compravam ouro porque viviam longe demais dos bancos e porque a inflação alta desvalorizava seu dinheiro.
Na primeira filial do Manappuram em uma aldeia, um avaliador está sentado em um cubículo fechado. Quando uma mulher aparece com um amuleto de ouro quebrado, ele leva apenas dois minutos para decidir que pode lhe emprestar 3.430 rupias, cerca de R$ 130, durante três meses, a uma taxa de juros anual de 29%.
A mulher, Bindu Sunil Kumar, toma o empréstimo, mas depois resmunga que os juros parecem altos demais. Quando perguntada sobre o que fará com o dinheiro, Kumar riu e olhou para seu marido, Sunil, que sorriu.
Apesar de os juros ainda serem altos, analistas dizem que os empréstimos a ouro representam uma espécie de progresso, pois permitem que as famílias usem seus bens mais valiosos para fins produtivos. "Isso traz muita gente para o sistema financeiro", disse Rajesh Chakrabarti, professor de finanças na Escola Indiana de Economia em Hyderabad.


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