São Paulo, segunda-feira, 13 de abril de 2009

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Novo concreto visa benefícios ambientais


Como tornar mais verde um material de construção secular


Por HENRY FOUNTAIN

Um trabalho notável em concreto foi erguido sobre o rio Mississippi, a leste do centro de Minneapolis (EUA).
Ali, na rodovia Interstate 35W, a ponte St. Anthony Falls abre espaço para dez pistas de tráfego, erguida sobre vigas mestras suportadas por maciças pilastras em arco, que, por sua vez, se apoiam sobre fundações e estacas profundas.
Erguida para substituir uma ponte anterior que desabou em 2007, a construção é quase inteiramente de concreto reforçado com barras de aço. Mas não é uma estrutura monolítica: seus componentes são feitos de mistos diferentes de concreto, cujas receitas foram ajustadas para se adequar a exigências específicas de força e durabilidade e para reduzir o impacto sobre o meio ambiente.
Um dos mistos, incorporado em esculturas onduladas nas duas extremidades da ponte, foi criado para se manter branco, ao limpar do ar alguns poluentes causadores de manchas.
A obra, que custou mais de US$ 230 milhões e foi concluída em setembro, "pode ter sido o trabalho em concreto mais complicado construído nos Estados Unidos em 2008", disse Richard D. Stehly, presidente da American Engineering Testing, empresa de Minneapolis que participou do projeto. A ponte é um exemplo excelente das grandes mudanças que vêm ocorrendo na produção e no emprego do concreto -mudanças essas que fazem uso de pesquisas de base e se devem em parte à necessidade de reduzir a pegada de carbono do concreto.
O material pode parecer improvável para avanços científicos. Um bloco de concreto é basicamente semelhante a um bolo de frutas mais sólido. As "frutas" da mistura estão no agregado graúdo, geralmente de pedras britadas. O agregado miúdo, que costuma ser de areia, é outro componente importante. Acrescentam-se água e algo para ajudar a aglomerar tudo -ovos, no caso do bolo, e cimento Portland, no caso do concreto-, mistura-se tudo e despeja-se o resultado numa forma. O produto básico se mantinha relativamente igual desde a invenção do cimento Portland, no início do século 19.
Os produtores sempre mexeram com a mistura para encontrar as proporções corretas dos ingredientes básicos do concreto. Agora a experimentação se torna mais complexa, visando adaptar o concreto a cada necessidade. E, cada vez mais, isso inclui o meio ambiente.
A manufatura do cimento Portland é responsável por cerca de 5% das emissões de dióxido de carbono, o gás causador do efeito estufa, geradas pelo homem.
"Nos últimos dez anos, a novidade vem sendo a tentativa de evitar os materiais que geram CO2", disse Kevin A. MacDonald, vice-presidente de serviços de engenharia da Cemstone Products Company, fornecedora do concreto usado na ponte sobre a I-35W.
Em suas misturas, MacDonald substituiu boa parte do cimento Portland por dois resíduos industriais: cinzas volantes, resíduos da queima de carvão em usinas elétricas e escórias de alto-forno. Os dois produtos são conhecidos como pozzolanas, materiais reativos que ajudam a tornar o concreto mais forte. Como as emissões de CO2 associadas a eles são feitas já na geração de eletricidade e na produção siderúrgica, eles também ajudam a reduzir a pegada de carbono do concreto.
Alguns cientistas e engenheiros estão indo além, para desenvolver concreto que possa capturar permanentemente CO2 de usinas elétricas e outras fontes, de modo que ele não possa mais contribuir para o aquecimento do planeta.
As possibilidades de captura de carbono são enormes. Alguns pesquisadores querem eventualmente eliminar por completo o cimento Portland e substituí-lo por outros cimentos, de modo a produzir concreto que seja zero carbono ou até carbono negativo.
Num canteiro adjacente a uma usina de geração elétrica movida a gás em Moss Landing, Califórnia, a Calera Corporation está desenvolvendo um meio de processar gases, fazendo-os passar por água marinha ou outra água salobra, usando o CO2 nos gases para precipitar minerais carbonatados para uso como cimento ou agregados no concreto. O processo imita, até certo ponto, o que fazem os corais e outros organismos marinhos calcificadores.
A Calera calcula que a produção de uma tonelada desses materiais consome meia tonelada de CO2, de modo que o concreto resultando poderia, potencialmente, ser carbono negativo, capturando dióxido de carbono permanentemente.
Brent R. Constantz, fundador da empresa, já trabalhou com cimentos no passado, tendo manufaturado produtos especiais para uso em cirurgias ortopédicas. Mas ele não descreve a Calera como empresa produtora de cimento. "Somos movidos principalmente pela necessidade de capturar permanentemente grandes quantidades de CO2", disse ele.
A empresa provavelmente começará por produzir o agregado, porque as barreiras à fabricação de um produto comercialmente aceitável são menores que com o cimento. Mesmo no caso de um agregado, qualquer produto novo precisa obedecer aos padrões e ser aceito pela indústria do concreto, que pode ser avessa a novidades. "Sempre que se introduz algo novo, é um desafio", disse Constantz.


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