São Paulo, segunda-feira, 13 de junho de 2011

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Preço da obra-prima é uma incógnita

Por ROBIN POGREBIN
e KEVIN FLYNN
Como todas as conversas demonstram, a arte contemporânea atingiu o máximo de valor dos últimos dez anos, ultrapassando as ações como opção de investimento. Mas nem todos os barcos estão nessa direção.
Talvez nada no mundo da arte é tão místico para o leigo quando a mudança sempre abrupta de valor das obras de arte.
Por exemplo, uma caixa de cigarros pintada por Larry Rivers, que já chegou a valer US$ 40 mil, foi vendida em setembro por menos de US$ 4.000. Em abril, o quadro repleto de figuras de Eric Fischl foi vendido por US$ 194.500, US$ 70 mil a menos do que foi cotado há seis anos.
E a "Parabola", de autoria de Francesco Clemente, um quadro que a Sotheby avaliou em US$ 90 mil um ano atrás, foi vendida por um terço disso em março.
"Há um constante movimento de maré baixa e alta na reputação histórica da arte", disse Jeffrey Deitch, que dirige o Museu de Arte Contemporânea de Los Angeles. "A reputação, até mesmo de grandes figuras como Picasso, está sempre mudando".
Certamente, o valor de um trabalho individual pode ser afetado por seu tamanho (é melhor que seja maior), estado de conservação, procedência, e quão reconhecível ele é, a força para chamar a atenção quando exposto.
Andy Warhol, por exemplo, é uma marca de sucesso. Em maio, um auto-retrato de Warhol causou confusão na Christie´s antes de ser vendido por US$ 38,4 milhões, muito acima do valor estimado de US$ 30 milhões. "Algumas pessoas gostam desse instante de reconhecimento", disse Mary Hoeveler, uma conselheira de arte em Nova York.
Os preços podem ser afetados por análises negativas ou se o artista está há muito tempo sem uma exposição importante. E ajuda se os trabalhos forem vendidos para um colecionador famoso: colecionadores reconhecidos pelo mundo da arte resultam em credibilidade ou visibilidade para as obras-primas que compram.
"É uma verdade inconveniente quando algumas pessoas compram com os ouvidos em vez de usarem seus próprios olhos -ouvindo quem comprou determinada obra", disse Cristin Tierney, que controla uma galeria em NY. "Eles querem simplesmente entrar no jogo. Eles não estão analisando o trabalho".
Há também a regra da procura e oferta. Mas Warhol continua mantendo os altos preços, apesar de ter produzido muito. "Se eles percebessem quantos exemplos existem (do trabalho de Warhol), não dariam tanto valor quanto dão", disse Elaine Stainton, da casa de leilão Doyle New York.
O preço de Clemente na história dos leilões é ilustrativa.
Ele era um querido do mundo das artes nos anos 1980, parte de um grupo que incluía Julian Schnabel, Keith Haring e Jean-Michel Basquiat. Seus quadros e gravuras, que enfocam o corpo, já foram tão populares que as três galerias de NY mostraram seu trabalho simultaneamente.
Mas agora ele não é mais representado pela Gagosian, uma das galerias mais poderosas do mundo. Ainda, no ano de 2007, a crítica de arte do jornal "The New York Times", Roberta Smith, o descreveu como "o artista italiano neo-expressionista de maior destaque". Os representantes dos artistas que não se deram bem no leilão dizem que o valor não reflete o verdadeiro valor da obra. Peças mais ambiciosas são sempre vendidas sozinhas, ele disseram, e esses preços, geralmente, não vêm a público.
Somente metade de todas as aquisições de arte é feita por meio de leilão.
"É uma ferramente que você precisa usar com precaução", disse Ron Warren, o diretor da Galeria Mary Boone, que representa Schnabel e Fischl. "O leilão é um instrumento cego", disse Marc Glimcher, o diretor da Galeria Pace. Melhor medição, ele argumentou, seria um critério como: "Quantas galerias estão tentando conseguir uma exposição de Murakami? Quantos museus ou quantas galerias expõem determinado artista por ano?
Mais pessoas agora consultam os dados do leilão. "Não há outra medição verificável de flutuação de valor -para cima ou para baixo", disse Michael Plummer, coproprietário da Artvest, uma empresa de consultoria artística.
Ultimamente, a maioria concorda que o valor artístico pode subir ou cair, sempre baseado por alguma coisa como uma nova exposição de museu -como a que está na Galeria Uffizil em Florença sobre o trabalho de Clemente.
"Clemente está ainda preso na força dos artistas dos anos 1980, o que, em cinco anos, pode se tornar a nova tendência", disse Tierney. "Talvez algo bom a fazer seja comprar Clemente agora. Você estará à frente de todos".


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