São Paulo, segunda-feira, 13 de junho de 2011

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Na Espanha, empregos se vão, e drogas são opção

Por RAPHAEL MINDER
BARBATE, Espanha - Para o prefeito desta cidade portuária no sudeste de Andaluzia, um jovem que não consegue encontrar trabalho e parte para a venda de drogas não pode ser considerado delinquente ou marginal.
"Um jovem não tem chance de encontrar um trabalho fixo aqui", disse Rafael Quirós durante entrevista na Prefeitura. "Os políticos em Madri que consideram minha visão dos jovens ocasionalmente lidando com drogas errada ou não entendem a situação, ou não ligam para o quanto as pessoas estão sofrendo aqui".
Em Barbate, uma crise fiscal arrasou as finanças públicas, uma indústria pesqueira em crise deixou ainda mais grave a situação de desemprego na Espanha, e o tráfico de drogas retornou, problema que atinge essa área por causa da proximidade com o norte da África. Os traficantes em barcos de borracha, carregando haxixe, fazem viagens de 40 minutos vindos do Marrocos.
Por volta de 300 dos 22 mil habitantes de Barbate estão na cadeia por envolvimento com o tráfico, de acordo com Quirós. Cinco anos atrás, eram 160 na cadeia.
Andaluzia tem o maior índice de desemprego das 17 regiões da Espanha, 29,7% no final do primeiro trimestre, de acordo com o Instituto Nacional de Estatísticas. Em âmbito nacional, o índice é de 21%, o dobro da média da União Europeia. Um estudo separado aponta Barbate como sendo a cidade espanhola com o segundo maior índice de desemprego no final de 2010, atrás de Ubrique, que também fica em Andaluzia.
Para ajudar a criar empregos, Quirós está tentando desenvolver alternativas para a pesca, uma ocupação de gerações que caiu cerca de 80% nos últimos 20 anos, por causa, entre outros fatores, da competição intensa de barcos estrangeiros e do declínio recente no consumo doméstico de peixe.
Uma pequena fábrica de lâmpadas abrirá suas portas neste ano, empregando cerca de 200 pessoas, assim como uma fazenda de peixes com 270 novos empregos. Alguns projetos de hotéis devem sair do papel. A pesca representa cerca de 60% da economia local.
Nem todo mundo em Barbate acredita que exista o problema da droga. Miguel Molina, o líder local do Partido da Andaluzia, de centro-esquerda, disse que "algumas pessoas parecem estar determinadas a conferir a Barbate essa reputação ruim, mas, em toda minha vida aqui, nunca alguém me ofereceu drogas".
A cinco minutos da sede do escritório de Molina, no entanto, em um bairro descrito pela polícia como a sede do tráfico, dois menores estacionaram seu BMW preto na rua Vejer. Perguntados sobre o carro, o motorista revelou que conseguiu comprá-lo "devido ao tráfico de drogas, é claro".
Perto dali, uma dúzia de jovens caminham, alguns deles admitindo que vendem drogas. Paco é um deles, um homem de 30 anos que esteve na prisão cumprindo sentença de quatro anos. Desde a sua soltura, ele não encontrou emprego. A prisão não fez com que ele abandonasse o comércio de drogas, ele disse, mas "melhorou sua habilidade no tráfico".
Em Conil, após cerco para confiscar embarcações, os barcos de borracha com motores potentes se amontoavam. Um policial disse: "Esses que controlam as drogas costumavam ter negócios, mas a crise acabou com eles, o que fez com que considerassem o mercado negro das drogas".


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