São Paulo, segunda-feira, 13 de junho de 2011

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CIÊNCIA & TECNOLOGIA

Uso da água visto do espaço

Por FELICITY BARRINGER
IRVINE, Califórnia - Cientistas têm usado pequenas variações na gravidade da Terra para identificar lugares ao redor do mundo onde as pessoas estão fazendo um uso insustentável da água subterrânea, uma das principais fontes de água doce do planeta.
Eles encontraram problemas em lugares tão díspares quanto o norte da África, o norte da Índia, o nordeste da China e o vale de Sacramento-San Joaquin, na Califórnia, centro da indústria agrícola daquele Estado.
Jay S. Famiglietti, diretor do Centro de Modelagem Hidrológica da Universidade da Califórnia, disse que o Experimento de Clima e Recuperação de Gravidade do centro (Grace, na sigla em inglês) conta com a interação de dois satélites que monitoram um ao outro em órbita da Terra, produzindo alguns dos dados mais precisos sobre variações gravitacionais. Os resultados estão redefinindo o campo da hidrologia que se tornou mais crítico conforme a mudança climática e o crescimento da população reduzem os suprimentos de água doce do mundo.
O Grace vê "toda a mudança no gelo, na neve e no armazenamento de água, toda a água de superfície, toda a umidade do solo e a água subterrânea", explicou o doutor Famiglietti.
Mas, enquanto os dados indicam uma próxima falta d'água, os políticos são temerosos em adotar as conclusões. Existem outras sensibilidades em regiões áridas onde as bacias de água subterrânea são compartilhadas por vizinhos inamistosos -Índia e Paquistão, Tunísia e Líbia ou Israel, Jordânia, Líbano, Síria e os territórios palestinos- que suspeitam uns dos outros sobre o uso excessivo desse recurso comum.
Em 1992, o doutor Famiglietti ouviu falar no Grace, então um projeto de experimento para medir variações no campo gravitacional da Terra. "Eu disse: 'Isto é incrível, surpreendente, abre toda essa área'", ele contou.
Dez anos depois, dois satélites foram lançados da base espacial russa em Plesetsk, em uma colaboração entre a Nasa e o Centro Aeroespacial da Alemanha, e começaram a enviar para a Terra dados sobre gravidade. Os dois satélites, cada um do tamanho de um carro pequeno, viajam em órbitas polares a cerca de 215 km de distância. Cada um deles bombardeia o outro com micro-ondas, calibrando a distância entre os dois a intervalos menores que a espessura de um cabelo humano.
Se a massa abaixo da trajetória do satélite principal aumentar -porque a bacia inferior do Mississípi está inundada-, aquele satélite se acelera, e a distância entre os dois aumenta. Então, a massa atrai os dois, e a distância diminui. Ela aumenta quando o primeiro satélite sai do alcance enquanto o segundo fica para trás.
Os dados do Grace têm limites. Os dados gravitacionais tornam-se mais esparsos conforme a área examinada diminui e, em áreas com menos de 195 mil quilômetros quadrados, torna-se mais difícil tirar conclusões sobre o suprimento de água subterrânea.
A medição da distância entre os satélites se traduz em medida da massa da superfície em qualquer região. Em algumas áreas do mundo, como o norte da Índia, a novidade das medições gravitacionais provocou resistência.
John Wahr, geofísico da Universidade do Colorado, e seu colega Sean Swenson enfrentaram oposição a um estudo sobre o esgotamento dos aquíferos no norte da Índia. Como explicou o doutor Swenson, "quando em um lugar como a Índia você diz: 'Estamos fazendo algo insustentável e é preciso mudar', bem, as pessoas resistem à mudança. Mudar custa caro".


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