São Paulo, segunda-feira, 13 de junho de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Mapa detalha 19.993 árvores do Central Park

Por LIZ ROBBINS
Cerca de 37 milhões de pessoas vão ao Central Park todos os anos, e, vendo-se cercadas por 23 mil árvores, a maioria não sabe diferenciar um sassafrás de um Euonymus alatus. Mas Ken Chaya e Edward Sibley Barnard não são como a maioria. Passe duas horas com eles caminhando pelo oásis carregado de oxigênio em Manhattan, e você terá a impressão de que todos seus sentidos estão aguçados ao extremo.
Você sente o aroma fresco de gaulthéria de um ramo de bétula aberto. Você pega uma vagem resistente do gimnóclado e saboreia a geleia que há em seu interior, que lembra um melaço. Você passa as mãos sobre os ramos alados do Euonymus alatus e percebe rapidamente que a textura é semelhante à da cortiça.
E, então, você começa a entender o puro assombro que levou esses dois homens a dedicar dois anos e meio de suas vidas a traçar um mapa que detalha 19.993 árvores no Central Park.
O mapa inclui 174 espécies e representa 85% da vegetação contida nos 341 hectares do parque.
"Se eu gostaria de incluir todas as árvores?', pergunta Chaya, 55, ornitólogo amador e designer gráfico freelancer. "É claro que sim, mas eu sou maluco. Não é possível incluir todas. Isso seria soberba. Citamos as árvores grandes, as importantes."
Chaya e Barnard contaram que gastaram US$ 40 mil com o projeto, pois o Central Park significa muito. Os dois esperam apenas recuperar esse valor.
O mapa, que é à prova d'água e frente e verso, tem como título "Central Park Entire: The Definitive Illustrated Folding Map" (Central Park por inteiro: o mapa ilustrado dobrável definitivo) e é vendido por US$ 12,95 na lojinha de presentes do parque e no site de seus autores na internet, CentralParkNature.com. Desde janeiro, eles já venderam 1.100 exemplares da versão do mapa em pôster, que custa US$ 35.
Foi Chaya quem fez os desenhos, que incluem as trilhas, os monumentos, as pontes e os playgrounds de Central Park. Todos os banheiros estão indicados.
Barnard, conhecido como Ned, conta que o mapa foi ideia dele. Ele queria escrever um livro sobre as árvores do Central Park e atraiu Chaya, seu amigo desde os anos 1970, para o projeto. Mas, depois de Chaya ter penetrado na moita do bosque Ramble para desenhar uma amostra da vegetação, os dois se deram conta de que tinham um produto maior para oferecer, algo que teria utilidade imediata maior.
Perto do Portão dos Inventores, na esquina da rua 72 e Quinta Avenida, Barnard apontou para grupo de cerca de 20 espécies, incluindo a magnólia, o cárpino, com casca fibrosa, o majestoso olmo americano, a onipresente cerejeira preta (há 3.839 delas no mapa), o ésculo e o invasivo bordo norueguês, que Chaya descreveu, em tom de brincadeira, como "eurotrash", pois ele rouba recursos de outras espécies.
No primeiro plano, havia plátanos londrinos, espécie favorita de Robert Moses, o urbanista que a plantou por toda a cidade, pensando tratar-se de uma árvore britânica. É um híbrido de jardim, disse Barnard. Sua folha ainda é o símbolo do departamento de parques da cidade.
Perto do laguinho "Conservatory Water", Barnard e Chaya apontaram para três carvalhos Quercus palustris envelhecidos, todos inclinados em direção a um feixe de sol, como torres de Pisa.
"Os poderes de observação deles são tremendos", disse Neil Calvanese, vice-presidente de operações da Central Park Conservancy, falando dos criadores do mapa. A Conservancy é a organização sem fins lucrativos que administra o parque e levanta 85% de seu orçamento anual de US$ 37,4 milhões.
Calvanese trabalha com as árvores do Central Park há 30 anos, mas Chaya e Barnard lhe falaram sobre um carvalho Quercus prinus na área de North Woods que ele nunca tinha visto. "Aquilo me incomodou um pouco", ele comentou. "Eu deveria ter sabido da existência dessa árvore."
Desde que o pôster saiu, Calvanese já promoveu a remoção de quase 70 árvores precárias; essa tarefa é uma parte importante do trabalho da Conservancy. Nos últimos dois anos, a queda de galhos provocou duas mortes.
A organização está tentando preencher uma seção do norte do parque que perdeu mais de 500 árvores em uma tempestade em agosto de 2009. O mapa dobrável traz 303 árvores novas no local.
Restam no Central Park apenas 150 árvores da era dos paisagistas que o criaram, Frederick Law Olmsted e Calvert Vaux. Uma delas, de 1862, é uma das favoritas de Barnard: a Nyssa sylvatica que ocupa um campo só dela na Ramble, a área de bosque do parque. "Árvores antigas, na minha opinião, possuem algo de sagrado", disse Barnard. "Foram elas que nos criaram. Somos mamíferos que passávamos nosso tempo no dossel."


Texto Anterior: Nova York
Comércio coreano em dificuldades

Próximo Texto: Chorar não tem vez nos funerais ganenses
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.