São Paulo, segunda-feira, 13 de setembro de 2010

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Do opaco mundo dos fundos de hedge, sai uma figura que fala tudo

Hendry não leva fé na China e no euro

Por JULIA WERDIGIER
LONDRES - O euro? Já era, proclamou Hugh Hendry. A China? Está indo para o buraco. O presidente Obama? "Se houvesse um jeito de acabar com Obama, eu acabaria", disse Hendry.
Hendry dirige a bem-sucedida Eclectica Asset Management, uma administradora de fundos de hedge. Aos 41 anos, ele está emergindo do mundo cheio de mistérios dos fundos de hedge e conquistando fãs e inimigos com sua franqueza surpreendente e sua fama de ser alguém que desafia o "establishment" econômico.
Em maio passado, na TV britânica, ele duelou verbalmente com Jeffrey Sachs, diretor do Instituto Terra da Universidade Columbia (Nova York) e talvez o mais conhecido economista a escrever sobre questões de desenvolvimento. Antes disso, discutiu com o Prêmio Nobel Joseph Stiglitz sobre o futuro do euro. Um vídeo do encontro fez enorme sucesso no YouTube.
"Tenho uma boca muito grande", disse Hendry. "Tenho de ser muito cuidadoso com o que eu digo."
Sua grande preocupação ultimamente tem sido a China. Hendry diz acreditar que os dias de crescimento impetuoso do país estão contados. "A ideia é que hoje aconteceriam coisas que são habitualmente consideradas impossíveis, mais notavelmente uma reversão significativa da China", disse.
Marc Faber, gestor financeiro conhecido como "Dr. Apocalipse" devido às suas opiniões pessimistas, se refere a Hendry como "um pensador profundo". "Ele tem opiniões fortes e as expressa, não para ganhar publicidade, mas porque ele tem uma grande compreensão dos mercados", disse Faber.
Alguns investidores de Londres são mais críticos. Dois disseram que não fariam comentários, porque não queriam "arrumar briga" com Hendry.
Hendry já ganhou -e às vezes perdeu- muito dinheiro para os seus investidores. Em 2008, o fundo Eclectica teve alta de 50% num mês e queda de 15% em outro. O fundo apostou corretamente que os problemas da Grécia teriam repercussões no mercado dos títulos alemães. Mas perdeu dinheiro ao fazer apostas na dívida soberana europeia no ano passado.
Filho de um caminhoneiro, ele foi o primeiro da sua família a frequentar uma universidade -a Strathclyde, em Glasgow. Estudou contabilidade e foi contratado por um grande gestor financeiro de Edimburgo.
Frustrado por não conseguir desafiar as estratégias de investimento de seus patrões, ele passou para o Credit Suisse Asset Management, em Londres. Não muito depois, partiu para carreira solo.
A inspiração para a sua abordagem de investimentos vem de uma fonte improvável: o romance "The Gap in the Curtain" (1932), de John Buchan. A trama gira em torno de cinco pessoas escolhidas por um cientista para participar de uma experiência que lhes permitiria ter uma visão do futuro dali a um ano.
Para Hendry, se trata do "melhor livro de investimentos já escrito", porque lhe ensinou a antever o futuro sem negligenciar o que aconteceu antes, um erro, segundo ele, que muitos investidores cometem.


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