São Paulo, segunda-feira, 13 de setembro de 2010

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Projeto no Marco Zero divide os muçulmanos

Por PAUL VITELLO
Para muitos muçulmanos, nada desde os atentados de 2001 cristalizou tanto as dificuldades de ser ao mesmo tempo americano e muçulmano quanto a discussão sobre um centro comunitário muçulmano perto do lugar onde terroristas, alegando agir em nome do islamismo, mataram mais de 2.700 pessoas.
O debate tempestuoso sobre a construção do centro, que deverá se chamar Park51, atraiu opiniões intensas. Mas o resultado poderá ter seu impacto mais duradouro sobre os cerca de 600 mil muçulmanos que residem em Nova York e seus subúrbios.
Alguns dizem se sentir irritados ou magoados pelas críticas ao projeto, e ao islã em geral, mas que entendem as preocupações dos oponentes. Para outros, os muçulmanos-americanos devem continuar pressionando pela construção do centro como um meio de afirmar seus plenos direitos de cidadãos -mas não com força demais, ou atrairão ainda mais ressentimento. Alguns poucos disseram que o projeto nunca deveria ter sido proposto.
"Já faz nove anos, mas parece que não avançamos um centímetro para um acordo sobre essa questão", disse Muntasir Sattar, 30, estudante de antropologia na Universidade Columbia em Nova York.
Muitos questionam profundamente, através da tensão atual, as antigas ambiguidades sobre seu lugar na sociedade americana, nove anos depois do 11 de Setembro.
Malik Nadeem Abid, um agente de seguros no bairro do Brooklyn, disse que "não é um grande defensor" da decisão da Iniciativa Córdoba, o grupo muçulmano que promove a cooperação ecumênica, de construir o centro cultural próximo do Marco Zero.
"Ninguém quer um centro em Manhattan que seja um símbolo permanente dessa terrível tensão", disse Abid, 45.
Mas, ele disse, "não podemos permitir que as vozes mais estridentes ditem os fatos". Essa ambivalência, segundo alguns, foi em parte a questão: os muçulmanos nos Estados Unidos personificam a mesma diversidade que qualquer outro grupo.
Majeed Babar, 39, um jornalista paquistanês que vive no bairro de Queens, diz que fala com pessoas preocupadas com a segurança de seus familiares. "As pessoas simplesmente querem poder trabalhar e sustentar suas famílias, e não temer que seus filhos sejam agredidos nas ruas por causa dessa animosidade", disse.
O diretor do Centro Muçulmano Jamaica, em Queens, imã Shamsi Ali, disse que o debate sobre o Park51 é quase uma distração do que ele acredita que seja a verdadeira preocupação: "A islamofobia, que está causando a mesma resistência à construção de mesquitas em Staten Island, no Tennessee e na Califórnia".
Ele acrescentou: "Estou mais preocupado com a questão maior do que se este projeto terá sucesso ou não".
Moinul Haque, 25, um aluno de graduação, moderado, hesitou quando perguntado sobre a polêmica em relação ao centro em Manhattan. Ele disse estar um pouco ressentido por ter de defender os direitos de cidadãos dos muçulmanos em "uma controvérsia totalmente artificial".
Mas ele acha que os construtores não devem recuar unilateralmente. "Isso tem de ser discutido", disse Haque. As incompreensões simplesmente crescem se não forem enfrentadas, segundo ele.
Essa foi a preocupação de Ahmed Habeeb, presidente do Centro Islâmico de Long Island, a leste de Nova York. Como as festividades que marcam o fim do Ramadã este ano ocorreram perto de 11 de setembro, Habeeb pediu que os moradores não interpretassem mal o ambiente alegre na mesquita naquela última noite.
"Isso não significa que estamos comemorando os atentados de 11 de Setembro", disse. "Parece estranho dizer isso, eu sei. Mas, neste clima, cuidado nunca é demais."
Habeeb disse que está cansado de falar sobre os planos do centro. "Se eu fosse o encarregado, provavelmente repensaria a coisa toda pelo bem da harmonia comunitária", afirmou. "Mas existem riscos em recuar. Se nós recuarmos agora poderá ser visto como um sinal de fraqueza", disse. "É muito complexo nesta altura."


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