São Paulo, segunda-feira, 13 de dezembro de 2010

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LENTE

O outro Big Brother


Quem está assistindo a quem? Um raio-X de uma boneca Barbie em vídeo revela seu funcionamento interno

Uma busca em strip virtual pode soar como uma atividade que somente seu avatar participaria, mas é assim que os críticos dos escâneres de corpo inteiro nos aeroportos as estão chamando. Enquanto mais pessoas conheciam as máquinas, que criam imagens de um corpo quase nu, houve queixas de que os escâneres eram indecentes e ameaçavam a privacidade.
É mesmo? Hoje em dia, quando a maioria tem uma lente apontada para si e para os outros, todo mundo deveria estar acostumado a esse sistema vigilante.
O Big Brother diz que tem um motivo para vigiar: combater o terrorismo e garantir a segurança. Mas para outros não está tão claro. Fama, curiosidade, poder, tédio? Não parece importar muito. E isso talvez torne os voyeurs comuns mais assustadores que o Big Brother.
Sempre há uma câmera de celular pronta. Uma nova boneca Barbie vem equipada com uma câmera de vídeo e tela nas costas.
E um professor de fotografia na Universidade de Nova York acaba de implantar uma câmera na parte de trás de sua cabeça que vai tirar fotos a cada minuto durante um ano, para um projeto artístico. Como os preços estão diminuindo, as câmeras não estão mais fora do alcance da pessoa média. E mais donos de casa, irritados com os atos de vizinhos que danificam a propriedade pessoal, estão comprando kits de vigilância para apanhá-los em flagrante, relatou o "Times".
Steve Miller, da Flórida, comprou um kit de vigilância de vídeo de US$ 400 para gravar seu vizinho jogando excrementos de cachorro em seu gramado.
O ofensor recebeu uma citação, mas, como não pediu desculpas, Miller disse ao "Times" que se divertiu um pouco e publicou um vídeo do vizinho no YouTube, que atraiu mais de 4.000 exibições. Na Índia, as pessoas não têm problemas para denunciar seus concidadãos por infrações de tráfego. Quando a polícia de trânsito de Déli abriu uma página no Facebook no verão passado, os moradores -de maneira "orwelliana"- tornaram-se informantes digitais, publicando fotos de motoristas burlando as leis de trânsito, escreveu o "Times".
Essa capacidade de humilhar publicamente os infratores "toca uma parte muito básica de quem somos como seres humanos", disse Gaurav Mishra, executivo-chefe de uma consultoria de empresas sociais, ao "Times". Outros se satisfazem com a fama casual.
Quando Allen S. Rout, da Flórida, publicou fotos de seu filho de cinco meses em seu site, elas ganharam vida própria. Ele encontrou uma foto de Stephen sorridente cercada de textos em japonês: "Não me chame de bebê! Chame-me de Senhor Bebê!" Outras imagens mostravam o rosto de Stephen colado sobre a cabeça de Kurt Cobain esculpido no monte Rushmore e tatuado no tórax de David Beckham, relatou o "Times".
De alguma forma, o rosto de Stephen tinha acabado na cultura visual japonesa, aparecendo até em programas de jogos na TV.
As fotos tinham se tornado "um meme da Internet: uma ideia, imagem, frase ou um vídeo que se torna viral, ganhando formas inesperadas em remixes de amadores", escreveu o "Times".
Por quê? Não existe um motivo real.
Às vezes, os resultados das publicações on-line são trágicos. Em setembro, um estudante da Universidade Rutgers, Tyler Clementi, cometeu suicídio depois que seu colega de quarto usou uma câmera em seu dormitório para gravar e publicar na internet um encontro íntimo de Clementi.
Em um constante fluxo de fotos e vídeos, onde nós somos os criadores, consumidores e consumidos, as pessoas assistem sem qualquer motivo.
Jay Risner, de Michigan, que instalou câmeras de vigilância em sua casa, disse ao "Times":
"Não tenho certeza se devo me preocupar mais com estranhos ou com meus vizinhos".
ANITA PATIL


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