São Paulo, segunda-feira, 14 de fevereiro de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Gregos dificultam entrada de imigrantes no país

Por SUZANNE DALEY

ORESTIADA, Grécia - Numa noite fria recente, meia dúzia de rapazes aguardavam nas sombras de uma estação ferroviária minúscula em Orestiada, batendo os pés no chão para espantar o frio. Apesar de não terem dinheiro, estavam esperando para embarcar em um trem para Atenas. Alguns eram do Marrocos, outros da Argélia. Todos contaram que tinham ido a Istambul de avião, tomado um ônibus até a fronteira entre Turquia e Grécia e, então, entrado na Grécia a pé, atravessando à noite campos de batata e alho.
"Um amigo me contou como fazer", revelou Yousef Silimani, 23, que, como os outros, estava bem vestido, até mesmo na moda. "Meus pés estavam congelados. Mas foi muito fácil." Dez anos atrás, corpos apareciam em praias espanholas, trazidos pelo mar, enquanto traficantes de pessoas levavam embarcações frágeis e sobrecarregadas até perto da terra, onde forçavam os imigrantes a pular no mar e nadar até a costa. Alguns anos mais tarde, os traficantes estavam dando preferência ao litoral da Itália e às ilhas gregas.
Contudo, depois de a segurança ganhar o reforço de helicópteros e lanchas de patrulha -e de Itália e Espanha terem firmado acordos de repatriamento com países do norte da África-, imigrantes e traficantes se adaptaram.
Agora é a fronteira entre Grécia e Turquia, incluindo um trecho de 12 quilômetros a poucos quilômetros de distância de Orestiada, que se tornou o ponto mais recente de travessia de imigrantes que procuram entrar na União Europeia. Segundo a polícia, cerca de 3.500 imigrantes atravessaram a fronteira vizinha em 2009. Em 2010, esse número se multiplicou por mais de dez -36 mil pessoas chegaram.
No barrento rio Evros, de correnteza forte, que demarca a maior parte da fronteira entre Grécia e Turquia, 21 imigrantes se afogaram.
A onda de novos imigrantes chegou tão forte e tão rapidamente que as autoridades gregas pediram ajuda emergencial à agência da União Europeia para a gestão das fronteiras, a Frontex. Em janeiro, a Grécia anunciou que vai construir uma barreira ao longo da fronteira terrestre. O anúncio provocou reações de ultraje de alguns grupos de defesa dos direitos de imigrantes que temem que candidatos legítimos a asilo, especialmente do Irã e Afeganistão, não conseguirão passar.
Os novos imigrantes estão chegando em um momento em que a Grécia não pode se dar ao luxo de ser hospitaleira, pois enfrenta dúvidas enormes e uma economia enfraquecida. Alguns dos atravessam a fronteira buscam refúgio de guerras e conflitos. Para muitos, porém -gente como Oussan Benchikha, 18 anos, que aguardava o trem para Atenas-, estão apenas à procura de uma vida melhor.
"Quero me casar", contou Benchikha, revelando que, em seu país, a Argélia, seu trabalho era preparar pizzas. "Para se casar, é preciso ter dinheiro. Quero arrumar um emprego já."
A enxurrada de imigrantes mudou a vida nesta cidade. Com frequência, Fani Penitidou, 31, chega à sua loja na Nea Vissa e vê imigrantes dormindo no pequeno ponto de ônibus coberto situado do outro lado da rua. "A gente os vê uns em cima dos outros, tentando afastar o frio", ela contou. "São pessoas, nada mais. Mas eles não têm futuro aqui. A Grécia não tem como recebê-los."
Nos últimos meses, a cidade vem enfrentando uma onda de ataques a imigrantes. Acredita-se que os ataques sejam obras de extremistas de direita. Imigrantes foram espancados e apunhalados no centro de Atenas, e, no ataque mais sério, em outubro, os agressores trancaram as portas de uma mesquita improvisada e atiraram bombas incendiárias pelas janelas, ferindo quatro fiéis.
Papoutsis diz que o envolvimento da União Europeia é crucial para ajudar Grécia e Turquia na obtenção de acordo sobre o tratamento a ser dado aos imigrantes.
Nas últimas semanas, desde que a Frontex chegou, com equipamentos de visão noturna e câmeras que buscam o calor, o número de imigrantes que chega diminuiu, disseram as autoridades.
Enquanto aguardavam no ponto de ônibus em Orestiada, os rapazes contavam piadas e fumavam. Não sabiam ao certo onde estavam e ficaram espantados quando lhes foi dito que Atenas ficava a mais de 900 quilômetros de distância.

Com reportagem de Niki Kitsantonis


Texto Anterior: Tendências Mundiais
Inteligência - Roger Cohen: O longo caminho de volta

Próximo Texto: Análise do noticiário: No exemplo turco, um mapa para o Egito
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.