São Paulo, segunda-feira, 14 de março de 2011

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LENTE

A grande corrida para a frente

Alimentar-se leva tempo, assim como muitas coisas que são boas para nós: comer devagar alimentos sustentáveis; uma desintoxicação gradual; um modo de vida mais descontraído e reflexivo.
Mas a velocidade parece governar a vida moderna, e muitas pessoas sentem que não há possibilidade de desacelerar as coisas. "Conforme as cidades crescem, tudo começa a se acelerar", disse à revista do "New York Times" o físico teórico Geoffrey West. "Não há equivalente disso na natureza. Seria como encontrar um elefante que fosse proporcionalmente mais rápido que um rato."
Mais rápido é melhor, e cada segundo conta. O Google assumiu isso quando introduziu o Instant, que prevê as pesquisas na internet e mostra os resultados assim que a pessoa começa a digitar. O Google calculou que a ferramenta economizaria para seus usuários mais de 3,5 bilhões de segundos por dia.
E o que você poderia fazer com esses segundos economizados? Certamente, não relaxar tomando um gostoso café. A maioria das cafeterias dos EUA costumavam ser lugares onde alguém poderia passar horas sentado, provavelmente com um laptop -e desfrutar o tempo que desejasse pelo preço de um capuccino. Mas um número crescente de bares de Nova York, como o Café Grumpy e o Stumptown Coffee Roasters, estão eliminando as cadeiras confortáveis, as mesas grandes e as tomadas elétricas, e tornando-se mais como seus homólogos da Itália, onde um espresso é tratado como uma rápida parada para reabastecer.
"Não é um acontecimento tão precioso", disse ao "Times" Matthew Schnepf, que costuma frequentar o bar do Stumptown.
E muitas pessoas que antes se debruçavam sobre laptops não estão mais blogando. Os blogs perdem a atração, especialmente para a geração mais jovem, que prefere atualizações rápidas no Facebook e no Twitter. Novas pesquisas mostraram que, de 2006 a 2009, blogar entre crianças de 12 a 17 anos caiu pela metade, e antigos blogueiros disseram que não têm mais tempo para escrever longos posts.
Na Ásia, os corretores de Bolsa estão ocupados demais para fazer pausas. Os mercados em rápido crescimento da região se atualizam com máquinas de alta velocidade que podem concluir transações em 90 microssegundos e pretendem ser um polo para investidores internacionais. Hong Kong disse que vai prolongar o horário de seu pregão e reduzir a pausa para o almoço; Cingapura está eliminando totalmente esse intervalo.
"Estamos comendo em nossas mesas, não importa o que aconteça", disse ao "Times" Hani Shalabi, que supervisiona os negócios de ações eletrônicas para clientes do Credit Suisse na região Ásia-Pacífico.
Velocidade é o que vence, e não apenas para os corretores. A Coreia do Sul reivindica as conexões de internet mais rápidas do mundo, mas o governo quer que sejam ainda mais velozes. Até o final do próximo ano, a Coreia do Sul pretende conectar cada casa à internet com um gigabit por segundo.
"O nome do jogo é com que rapidez você pode obter o conteúdo", disse ao "Times" Kiyung Nam, porta-voz da Samsung Electronics.
Será que um dia atingiremos um muro? Talvez. Mas vamos nos adaptar e rapidamente. West sabe que nada pode crescer para sempre. Ele diz que a história humana é definida por uma tensão constante entre o crescimento incontível e os recursos limitados. O que nos salvará? Como disse West à revista do "Times", a única esperança é a inovação constante -e mais rápida: "É como estar em uma esteira-rolante que gira cada vez mais depressa".
ANITA PATIL

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