São Paulo, segunda-feira, 14 de março de 2011

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

Investidores voltam a considerar o Japão

O índice Nikkei vai se valorizar depois de anos muito ruins
Por HIROKO TABUCHI

TÓQUIO - As finanças do governo do Japão estão à beira de um colapso, e sua economia se arrasta há duas décadas. Com essa situação em mente, por que muitos investidores globais consideram a Bolsa de Valores japonesa uma boa compra?
"O Japão é de longe um dos mercados mais baratos do mundo", disse Charles de Vaulx, da International Value Advisers, firma de investimentos sediada em Nova York. "Ele é tão odiado universalmente, mas poderia ser um dos mercados de melhor desempenho no mundo nos próximos cinco anos."
Dos US$ 12,7 bilhões em ativos que De Vaulx administra, 15% já estão investidos no Japão, e ele pensa em aplicar mais. "Há muitas companhias japonesas que são bem administradas do ponto de vista industrial", ele disse.
Entre novembro e fevereiro, investidores de fora do Japão foram compradores líquidos de ações japonesas durante 15 semanas consecutivas, segundo dados divulgados pela Bolsa de Valores de Tóquio. Esse foi o período mais longo desde 2005.
Uma atração para os touros são os preços. Apesar de o índice de referência Nikkei ter atingido recentemente um pico de quase dez meses, ainda está mais de dois terços abaixo do pico anterior ao estouro da bolha dos mercados de ações e imobiliário do Japão em 1990.
As ações em Tóquio também estão cerca de 20% abaixo de seus níveis anteriores à crise financeira global em 2008 -é um dos poucos grandes mercados que ainda não se recuperou. Os preços estão tão deprimidos que, no final de dezembro, quase dois terços das 1.700 empresas listadas na seção principal da Bolsa de Tóquio tinham proporções entre preço e último balanço abaixo de 1. Isso quer dizer, na verdade, que se uma dessas empresas fosse desmontada e vendida por partes alcançaria mais que seu valor de mercado.
Certamente, o Japão ainda pode dar motivos para dúvida aos investidores -como as consequências em longo prazo da alta dívida do governo e do envelhecimento da população. Também há a rentabilidade sofrível de companhias como a Sony, que atingiu a média de 3% de retorno sobre as ações nos últimos cinco anos, enquanto sua rival coreana Samsung ultrapassou os 13% por essa mesma medida.
Por um lado, a recuperação econômica nos Estados Unidos está fortalecendo os investidores, enquanto ajuda a melhorar a previsão da economia japonesa, liderada por exportações.
Ao mesmo tempo, o turbilhão no Oriente Médio, o aumento da inflação alimentar e as políticas monetárias mais duras em economias de rápido crescimento como a China levam investidores globais a pensar duas vezes sobre os mercados emergentes.
Na verdade, agora que a China é o principal parceiro comercial do Japão, as ações de exportações japonesas parecem uma maneira menos arriscada de investir indiretamente no crescimento chinês. E, enquanto o faturamento corporativo está longe de excelente, o lucro líquido total das empresas listadas na Bolsa do Japão mais que duplicou neste ano fiscal, segundo um cálculo do Nikkei.
Mas os investidores advertem que ganhar dinheiro com ações japonesas exige um conhecimento íntimo da paisagem corporativa local. Em vez de escolher companhias globais conhecidas como Toyota ou Sony, os administradores de investimentos visam empresas de pequeno e médio porte que são negociadas abaixo de seu potencial.
O interesse renovado dos investidores é bem-vindo em um mercado que perdeu seu impacto para rivais regionais de rápido crescimento. Por volume de negócios, a Bolsa de Tóquio perdeu sua posição como principal mercado da Ásia para Xangai em 2009, embora Tóquio ainda tenha a maior Bolsa por valor de mercado.
Em junho, o governo pretende definir medidas para aumentar seu imposto sobre consumo, o que, se for mal executado, poderá prejudicar a recuperação do Japão. "A recuperação deverá continuar até junho -depois disso, tudo depende", disse Naruse. "É uma recuperação frágil e os investidores poderiam perder a fé no Japão mais uma vez, de repente."


Texto Anterior: Fazendo as coisas durarem mais
Próximo Texto: Microsoft abre janela para a criatividade na empresa

Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.