São Paulo, segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

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LENTE

O lado estranho da ciência

A natureza abomina o Grande Colisor de Hádrons? Ou será que alguém ou algo do futuro voltou no tempo, como o Exterminador, para sabotá-lo?
O instrumento científico de US$ 9 bilhões -projetado para criar as partículas bóson de Higgs que, acredita-se, estiveram presentes no nascimento do Universo- foi atingido por explosões e atrasos, enquanto circulavam rumores de que ele poderia provocar um buraco negro, destruindo toda a vida na Terra.
Coincidência? Dois físicos, Holger Bech Nielsen e Masao Ninomiya, acham que não. Nielsen até sugeriu que o suposto vandalismo pode ser de alto nível, relatou o "New York Times".
"Poderíamos quase dizer que temos um modelo de Deus", ele escreveu em um ensaio, sugerindo que "Ele talvez odeie as partículas de Higgs e tente evitá-las".
Deixando de lado Deus e sabotadores que viajam no tempo, o colisor suíço foi ligado com sucesso em 30 de novembro (embora tenha sofrido uma falha elétrica maciça no dia seguinte).
Mas os dois físicos fazem parte de uma grande tradição de sóbrios cientistas que desejam expandir seu pensamento. De robôs conscientes a criptozoologia, a ciência séria e as teorias marginais costumam se entrecruzar.
Um exemplo é Robert Rines, inventor com mais de 800 patentes que morreu no mês passado aos 87 anos. Ele ensinava na Universidade Harvard e foi pioneiro em tecnologias de radar, sonar e ultrassom. Também passou décadas procurando o monstro do lago Ness e pesquisou um método para conter tornados.
"Eles podem simplesmente me chamar de louco, para mim tudo bem", disse Rines em 2008. "Pelo menos não serei preso por isso, como Galileu."
Outros cientistas se ocupam prevendo a singularidade, um evento que outros chamaram de "o Rapto dos Nerds". Seria o momento em que computadores, de maneira semelhante ao Hal do filme "2001 - Uma Odisseia no Espaço", tornam-se superinteligentes, conscientes e possivelmente perigosos. Alguns até acreditam que isso poderá ocorrer dentro de algumas décadas.
"Eu vejo o debate sobre se devemos construir esses intelectos artificiais como a questão política dominante neste século", disse ao "Times" Hugo de Garis, pesquisador de inteligência artificial. Garis acredita que essas máquinas inteligentes poderão provocar uma guerra global devastadora.
E o cientista da computação e romancista Vernor Vinge disse ao "Times" que robôs governantes poderão nos usar do mesmo modo que usamos bois e burros.
Se não pudermos vencer os robôs, poderíamos ter algumas novas oportunidades de nos unir a eles. Raymond Kurzweil, futurista e pioneiro em inteligência artificial, acredita que poderemos atingir uma forma de imortalidade pós-humana ao carregar o conteúdo de nossos cérebros em computadores.
Kurzweil tem uma visão geralmente utópica da singularidade e acredita que a ascensão dos computadores é boa. Caso ele esteja errado, os físicos teóricos sonham com alguns planos de fuga de alta tecnologia. Buracos como túneis através do espaço e do tempo -se é que eles realmente existem- poderão nos permitir saltar de uma estrela para outra ou de um século para outro.
Na teoria, poderíamos migrar para um mundo distante onde as máquinas são mais gentis conosco. Ou pelo menos viajar para o futuro e deter esses incômodos sabotadores.


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