São Paulo, segunda-feira, 14 de dezembro de 2009

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TENDÊNCIAS MUNDIAIS

Romenos recorrem a líder de etnia alemã

Os saxões, minoria na Romênia, se beneficiam de estereótipos positivos

Por NICHOLAS KULISH
SIBIU, Romênia - Klaus Johannis, prefeito da cidade de Sibiu, na Transilvânia, se descobriu no centro de uma eleição presidencial fortemente disputada, apesar de não ser candidato à Presidência e nem sequer ser etnicamente romeno. O fato de Johannis fazer parte da pequena minoria romena de etnia alemã, algo que em outros países da Europa do Leste seria uma desvantagem séria, o beneficia na Romênia. Tanto assim que o candidato social-democrata à Presidência, Mircea Geoana, prometeu nomear Johannis para o cargo de premiê se conseguisse derrotar o candidato de centro-direita, o atual presidente, Traian Basescu. Basescu foi declarado vencedor com 50,3% dos votos no último dia 7. Os social-democratas contestam o resultado e denunciaram suposta fraude no pleito, mas Johannis aceitou a derrota: "Meu caminho termina aqui", disse à imprensa. A decisão de Geoana de nomear Johannis para primeiro-ministro se deveu ao êxito deste na Prefeitura de Sibiu. Ele reconstruiu a cidade antiga, fazendo-a ser nomeada capital europeia da cultura em 2007, e atraiu investimentos estrangeiros e milhares de empregos. Mas Johannis também se beneficia dos estereótipos positivos que os romenos associam aos integrantes da minoria de etnia alemã, conhecidos como saxões da Transilvânia, que vivem na região desde o século 12. Os saxões são vistos como trabalhadores, detalhistas e intransigentes, qualidades atraentes num país farto de corrupção e má administração. Outro ponto a seu favor é o fato de a Romênia ter vivido alguns de seus melhores momentos sob o governo de reis alemães, há mais de um século. "Acho uma vantagem o fato de ele ser alemão", disse a estudante Bianca Florea, 18, na praça principal de Sibiu no dia da eleição. "Bem, não exatamente alemão, mas saxão." Indagada sobre o porquê disso, ela respondeu: "Nós, romenos, somos um pouco preguiçosos". Johannis pertence ao pequeno Fórum Democrático Alemão, que representa os 60 mil alemães étnicos remanescentes na Romênia. Centenas de milhares de outros deixaram o país sob o regime de Nicolae Ceaucescu e nos anos após a queda do comunismo, há 20 anos. Moradores de Sibiu brincam, dizendo que as porcentagens de voto conseguidas por Johannis nas vezes em que foi eleito (87% em 2004 e 83% em 2008) lembram eleições fraudadas sob o comunismo. E isso apesar de os alemães étnicos representarem apenas 2.000 dos 155 mil habitantes da cidade. Para despertar interesse por Sibiu, Johannis viajou pela Europa, ajudando a atrair grandes empresas como Renault e Siemens. Mas ele reforçou sua reputação entre os eleitores ao levar aquecimento às escolas que antes não o tinham e ao ir a repartições municipais e obras de construção para fiscalizações-surpresa -forma de administração que ele reconheceu que não seria possível em escala nacional. "Uma coisa é transformar e administrar uma cidade", disse Johannis. "Transformar e administrar um país inteiro é outra coisa. Mas acho que, em última análise, as habilidade de gestão pública que um premiê precisa são as mesmas de que precisa um prefeito."

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