Casas de moda e criadores de animais se desentendem

Por CAMPBELL ROBERTSON
RACELAND, Louisiana - Após cinco anos, Tommy Fletcher e sua criação de aligatores (répteis dos EUA, muito semelhantes aos jacarés e crocodilos) estão enfrentando diferenças irreconciliáveis. "É como um casamento", ele disse. "Foi um caminho acidentado que, de repente, terminou."
A indústria de crocodilos constitui uma estranha mistura de homens durões dos "bayous" (charcos do sul dos EUA) e criadores de moda em Paris e Nova York, que consideram razoável pagar US$ 12 mil por um relógio com pulseira de crocodilo.
Esse relacionamento peculiar funcionou bem durante décadas, mas, há pouco tempo, azedou. No ano passado, os criadores da Louisiana, que produzem a maior parte das peles de crocodilos do mundo, coletaram mais de 500 mil ovos na natureza. Neste ano, pela primeira vez, a maioria dos criadores não apanhou nenhum.
Desde o primeiro semestre de 2008, até as clientes ricas começaram a reclamar do preço de produtos de couro de crocodilo. Mas alguns criadores insistem em que a nova parcimônia das elegantes por si só não explica o colapso dos negócios de couro de crocodilo. Muitos estão começando a culpar as práticas dos executivos no ramo da moda europeia.
"Como essa indústria pôde cair tão rapidamente?", perguntou Stephen Bonnecarrere enquanto tocava jacarés vivos para dentro de galpões na fazenda de seu sogro, perto de Houma. "Aconteceu depressa demais."
Desde a década de 1980, o setor de Vida Silvestre e Pesca do Departamento de Estado dos EUA trabalha com os agricultores para manter a população de aligatores do Estado, estimada em 1 milhão a 2 milhões.
A criação desses répteis é difícil, complexa e cara. Os agricultores, muitas vezes em equipes de pais e filhos, em helicópteros, marcam os locais dos ninhos dos répteis e depois vão para os pântanos em barcos para recolher os ovos, afastando as fêmeas com varas. (Por lei, 12% dos aligatores adultos são devolvidos à natureza.)
Os proprietários de terras recebem pelos ovos, e é caro criar um crocodilo depois que ele nasce. Os grandes -que poderão terminar como bolsas- tendem a morder-se entre si, inutilizando as peles.
Durante décadas, os couros foram vendidos para 10 ou 15 curtumes independentes de propriedade familiar em todo o mundo, especializados em peles de répteis, ou as chamadas peles exóticas. Os curtumes, por sua vez, vendiam para casas de moda de alta gama como Cartier, Hermès e Gucci.
Mas as coisas mudaram. Em meados da década de 1990, a Hermès começou a comprar curtumes e, alguns anos atrás, tornou-se o maior ator no negócio de couros exóticos.
Enquanto os curtumes oferecem pouco aos criadores pela matéria-prima, citando a recessão, as casas de moda se queixam dos preços astronômicos cobrados pelos couros tratados. Marcas de luxo como Manolo Blahnik dizem que está cada vez mais difícil ter lucros com um produto tão caro.
"Cada vez que vou à Neiman Marcus [rede de artigos de luxo] e digo que o preço aumentou, eles me atacam com unhas e dentes", disse George D. Malkemus 3?, presidente da Manolo Blahnik. "Eles dizem: 'Eu não vou gastar US$ 4.000 num sapato de crocodilo'."
Se o crocodilo ainda é popular mas simplesmente caro demais, perguntou Zachary Casey, que até três anos atrás era dono de uma das maiores fazendas do Estado, por que os preços da matéria-prima caíram tanto? Ele diz que a Hermès está estocando as peles, forçando outras casas de moda a pagar caro e deixando os criadores com poucas opções.
Caroline Schwartz-Mailhe, porta-voz da Hermès, disse por e-mail que a companhia comprou apenas cerca de um terço das peles produzidas na Flórida, Geórgia e Louisiana e está bem longe de um monopólio.
Há sinais de recuperação no mercado de luxo. Mas alguns dos criadores menores de jacaré vão falir.
Fletcher tem perdido US$ 15 mil por mês em sua pequena fazenda perto de Raceland, a cerca de 80 km de Nova Orleans. "Acho que é como ser casado com a Miss EUA", disse Fletcher. "Você ganha beijos e abraços, mas a manutenção é muito cara."


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