São Paulo, segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

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LENTE

TOM BRADY

A liberação dos confortos modernos

A vida sem as conveniências modernas -calefação, eletricidade, eletrodomésticos- pode parecer um pouco bárbara para aqueles que estão habituados demais a elas. Mas, para alguns, escolher se virar sem isso tudo pode ser libertador.
Viver numa pequena cidade litorânea do Alasca, numa cabana sem aquecimento central, água corrente, chuveiro, banheira ou privada, é uma forma que Brentwood Higman e Erin McKittrick encontraram para baratear despesas e simplificar suas vidas, liberando-se para longos passeios a pé ou de esqui e experimentando o mundo em seus próprios termos, escreveu o "New York Times".
"Sou alguém que não se importa em abrir mão de algum nível de conveniência para ter uma experiência interessante", disse McKittrick.
A cabana circular de 41m2 do casal tem cobertura de vinil e isolamento térmico pesado, e um fogão a lenha está constantemente aceso. Mas a temperatura lá dentro é gélida.
"As paredes mexem quando [o vento] sopra forte", disse Higman. "É um pouco mais expostos aos elementos."
O casal não está sozinho em sua decisão de abrir mão de um lar aconchegante. Um blogueiro ambientalista de Seattle propõe como desafio baixar o termostato da calefação para 13°C, a fim de poupar energia.
Winifred Gallagher, cientista comportamental que vive em uma casa aquecida no Upper West Side, bairro de Manhattan, contou ao "New York Times" que no inverno ela faz visitas mensais a um antigo edifício escolar de um cômodo que ela possui cerca de duas horas ao norte da cidade. Ela acende uma fogueira e sai para passear, e o quarto fica a cerca de 15°C, mas volta a congelar durante a noite, disse ela.
Há quem renuncie ao aquecimento por razões ecológicas ou financeiras. Para Gallagher, a motivação é mais espiritual. A principal razão para as suas viagens de inverno é que, quando sua casa está a -9°C, "o único problema que você tem é se esquentar", segundo ela. "Focar na sobrevivência está logo ali com um retiro zen quando se trata de limpar a mente."
O escultor Justen Ladda, 56, que vive há três décadas sem calefação no seu loft no Lower Manhattan, dá de ombros quando o creme dental congela ou quando o refrigerador desliga porque faz frio demais.
Outros simplesmente dão adeus a uma invenção do século 20 que modernizou a vida na cozinha: a geladeira.
Há cerca de dois anos, Rachel Muston, 32, profissional de tecnologia da informação do governo canadense em Ottawa, e seu marido, Scott Young, decidiram elevar o grau do seu compromisso ambiental e tiraram de vez a geladeira da tomada.
"Já faz tempo, e estamos bastante felizes", disse Muston ao "New York Times" no ano passado. "Estamos surpresos por como tem sido fácil."
Mas outros acham que o movimento dos sem geladeira é um pouco radical. Primeiro porque, pela complicação em armazenar alimentos, torna-se necessário comprar comida em menores quantidades, o que é mais caro. Segundo, porque é difícil evitar que a comida se estrague, o que significa mais idas ao supermercado e mais inconvenientes.
"A geladeira foi um avanço inteligente para a sociedade", disse ao "New York Times" Gretchen Willis, 37, uma mãe ambientalmente consciente de quatro filhos em Arlington, no Texas. "É burrice não ter uma, considerando qual é a alternativa: beber um galão de leite em um dia para que não estrague."


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