São Paulo, segunda-feira, 15 de fevereiro de 2010

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TENDÊNCIAS MUNDIAIS

Dívida tem impacto limitado na Ásia

Por VIKAS BAJAJ e KEITH BRADSHER

MUMBAI, Índia - A dívida governamental crescente suscita preocupação cada vez maior na Europa e nos EUA, mas as economias da Ásia continuam a demonstrar notável resiliência, ou mesmo ânimo, ressaltando como o poderio econômico tem se deslocado do Ocidente para o Oriente.
Ao mesmo tempo em que economistas especulam se a Grécia precisará de socorro internacional e se perguntam por quanto tempo os EUA poderão manter seu deficit orçamentário recorde, a China vem saldando as poucas dívidas externas que tem. "Evitamos a crise econômica", disse Philip S. Carmichael, presidente de operações asiáticas da Haier, maior fabricante chinesa de eletrodomésticos.
Mesmo as economias asiáticas que encolheram durante a recessão, como Malásia e Camboja, escaparam de seus efeitos piores -com a notável exceção do Japão, o primeiro país da Ásia a ter se industrializado.
Devido à crise asiática de 1997, muitos países do continente têm sido mais conservadores com as dívidas contraídas e os gastos feitos nos últimos dez anos do que foram os países ocidentais, que mergulharam em uma orgia de contração de dívidas durante os tempos de bonança e continuaram a fazer mais dívida durante a recessão, na tentativa de imprimir uma virada a suas economias.
Muitos economistas preconizam que os países gastem durante recessões, inchando seu deficit e suas dívidas. Mas investidores e economistas se preocupam com o efeito de longo prazo da dívida monumental sobre a vitalidade da Europa e dos EUA. Quanto mais tempo o Ocidente levar para lidar com seus gastos excessivos, dizem especialistas, maior e mais rápida será a ascensão da Ásia.
Embora as Bolsas asiáticas tenham apresentado queda neste mês, analistas dizem que não há equivalente asiático evidente ao caso da Grécia, por exemplo. Os investidores veem pouco risco de inadimplência, mesmo entre países fortemente endividados como Índia e Japão.
A dívida pública da Índia chega a quase 80% do PIB nacional, mas o governo deve mais de 90% desse dinheiro a seus próprios cidadãos. Da parte restante, uma parcela considerável é devida a organismos como o Banco Mundial, que dificilmente irão pressionar por sua devolução em pouco tempo.
Comparados ao caso da Grécia, "o risco de inadimplência desses dois países não chega perto disso, e a razão é que, graças aos altos índices de poupança doméstica, sua dívida é quase inteiramente financiada internamente", ponderou Kim Eng Tan, analista da Standard and Poors' em Cingapura.
"Se você vende títulos de dívida a seus próprios cidadãos, e o faz em sua própria moeda, não tem um problema tão grave assim", disse Ajay Kapur, estrategista global chefe da empresa financeira sul-coreana Mirae Asset.
A China vem saldando suas dívidas, que são pequenas, à medida que vencem. É um luxo ao qual pode se dar um país que tem mais de US$ 2 trilhões de reservas em moeda estrangeira.
A China apresentou superavit governamental nos primeiros 11 meses de 2009, mas economistas ocidentais preveem deficit pequeno no ano como um todo, porque os órgãos públicos mergulham em orgias de gastos a cada dezembro, para evitar a obrigação de devolver verbas não utilizadas.
Alguns poucos países asiáticos menores tiveram dificuldades no último ano e meio. Mas eles têm sido prejudicados mais por tensões políticas que por problemas econômicos. Pode-se afirmar que o país asiático mais afetado pela crise global foi a Mongólia, onde uma queda aguda, mas temporária, nos preços mundiais do cobre levou o governo a pedir (e obter) do FMI um empréstimo de US$ 224 milhões em março.
Embora o risco de uma grande crise de dívida na Ásia possa parecer distante, economistas dizem que há outras razões pelas quais investidores e políticos devem preocupar-se com um deficit alto.
Na Índia, o deficit fiscal crescente -que no ano passado chegou a 8% do PIB, contra 3,3% em 2008- pode prejudicar o crescimento, por dificultar e encarecer a contração de empréstimos por empresas e pessoas físicas, disse Ila Patniak, do Instituto Nacional de Finanças e Política Públicas, em Nova Déli.
Assim como a Índia, a China tem conflitos internos -entre populações rurais e urbanas e entre Pequim e as Províncias- que dificultam a política fiscal.
Mas os problemas enfrentados pelos países asiáticos não são tão imediatos nem têm alcance tão longo quanto a dívida crescente da Europa e dos EUA.


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