São Paulo, segunda-feira, 15 de junho de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Buracos na teoria sobre a racionalidade do mercado

JOE NOCERA
ENSAIO

Há alguns meses, Jeremy Grantham, respeitado estrategista de mercado da GMO, companhia institucional de gestão de capitais, vem se queixando da -veja só!- hipótese do mercado eficiente.
Essa teoria brotou do departamento de finanças da Universidade de Chicago e predominou por muito tempo em círculos acadêmicos. Diz que a Bolsa não pode ser vencida em uma base consistente, porque toda a informação disponível já está embutida nos preços das ações. Em outras palavras, a Bolsa é racional.
Na última década, a hipótese do mercado eficiente, quase um dogma desde o início dos anos 1970, recebeu algumas críticas sérias. Primeiro veio a ascensão dos economistas behavioristas, como Richard H. Thaler, da Universidade de Chicago, e Robert J. Shiller, da Universidade Yale, que mostraram que a psicologia de massas e o comportamento de rebanho podem ter enorme efeito nos preços das ações -o que significa que o mercado não é tão eficiente, afinal. Depois vieram provas tangíveis: a bolha da internet e a bolha imobiliária.
Hoje em dia seria difícil encontrar alguém, mesmo na Universidade de Chicago, que afirme que o mercado é perfeitamente eficiente. Mas Grantham não desanimou com seu declínio. Na opinião dele, a hipótese do mercado eficiente é mais ou menos diretamente responsável pela crise financeira.
Ele continuou: "A incrivelmente imprecisa teoria do mercado eficiente foi totalmente adotada por muitos de nossos líderes financeiros. Ela deixou nosso establishment econômico e governamental esperando confiantemente, enquanto uma combinação letal de bolhas de ativos, controles frouxos, incentivos perniciosos e instrumentos malignamente complexos levaram a nossas atuais dificuldades".
Não pude deixar de pensar na explicação de Grantham enquanto lia o livro de Justin Fox, "The Myth of The Rational Market" (O mito do mercado racional), história do que se poderia chamar de ascensão e queda da hipótese do mercado eficiente. A tese de Fox é que os marqueteiros eficientes originalmente apoiavam uma boa ideia. Mas, isolados em seus casulos acadêmicos, eles desenvolveram uma lógica interna muito distante das realidades do mercado. Foi preciso um novo grupo de economistas, os behavioristas, para trazer os profissionais de volta à realidade.
Fox afirma, ecoando Grantham, que a hipótese do mercado eficiente teve um papel exagerado em moldar o pensamento americano que atuou nos últimos 30 anos ou mais. Mas Fox também discorda dele, ao afirmar que o efeito não era necessariamente todo ruim.
"Não há maneiras fáceis de superar o mercado", disse Fox. Se você quiser indicar a melhor coisa que a hipótese do mercado eficiente nos ensinou é a lição: não podemos vencer o mercado.
Na visão de Grantham, se os investidores profissionais admitissem as aberrações do mercado -e negociassem levando em conta o fato de que o mercado estava desordenado- eles poderiam ter vencido o mercado. Mas graças à hipótese do mercado eficiente, ninguém se dispôs a chamar a bolha de bolha -porque, afinal, os preços das ações eram racionais.
Perguntei a Burton Malkiel, autor de "A Random Walk Down Wall Street" (Um passeio ao acaso por Wall Street) e economista da Universidade Princeton, o que ele acha das teorias de Grantham.
"É ridículo" culpar a hipótese do mercado eficiente pela crise, ele disse. "Se você está alavancado 33-1 e detém papéis de longo prazo e usa endividamento de curto prazo, e então acontece uma corrida ao banco -que foi o que aconteceu no Bear Stearns-, como você pode pôr a culpa na teoria do mercado eficiente?"
Então começamos a falar sobre bolhas. "Eu acho que as bolhas existem", ele disse. "O problema delas é que você não pode reconhecê-las antecipadamente." Pensei: se um sujeito inteligente como Burton Malkiel teve de esperar a bolha da internet acabar para perceber que estávamos em uma, então talvez Grantham tenha certa razão, afinal.


Texto Anterior: Empresas de tecnologia de Taiwan saem das sombras
Próximo Texto: Taleban perde apoio entre paquistaneses
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.