São Paulo, segunda-feira, 15 de agosto de 2011

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Museu temporário é laboratório urbano

Por CAROL VOGEL
A Fundação Solomon R. Guggenheim é conhecida há muito tempo por criar construções singulares para abrigar seus museus, desde sua sede em Nova York, criada por Frank Lloyd Wright em 1959, até o enorme Guggenheim Bilbao, de titânio, erguido por Frank Gehry na Espanha em 1997. Recentemente, porém, ela abriu uma estrutura de tipo muito diferente: um espaço "pop-up" (ou seja, criado em pouco tempo e que deve ter duração curta) para reuniões num terreno baldio da prefeitura no East Village, em Nova York, um lugar que, até algumas semanas atrás, era "apenas ratos e lixo", nas palavras de um representante do Guggenheim.
Chamado BMW Guggenheim Lab -é patrocinado pela montadora alemã-, o espaço é em parte instituto para a discussão de políticas, em parte fórum ao ar livre, em parte centro comunitário, tudo isso em um terreno baldio ensanduichado entre dois prédios de apartamentos. O objetivo de sua criação é atrair nova-iorquinos para discussões sobre o viver no espaço urbano.
Nova York será a primeira escala na turnê mundial do laboratório, que vai passar também por Berlim e Mumbai. A intenção é que sejam criados três laboratórios, cada um com sua própria estrutura móvel projetada por um arquiteto diferente e tratando de um tema distinto relativo à vida urbana.
Os três vão percorrer cidades pelo mundo afora, em um projeto previsto para durar seis anos. Em cada cidade, curadores vão convidar líderes em campos como arquitetura, arte, design, tecnologia, educação e ciência para participar de palestras, workshops, jogos, performances e sessões de filmes, todos abertos ao público e gratuitos.
Nos últimos anos, lojas do tipo pop-up vêm surgindo por pouco tempo em vários países, proporcionando a construtoras soluções temporárias para ocupar terrenos baldios ou lojas vazias e a varejistas a oportunidade de testar conceitos ou marcas sem assumir compromissos de longo prazo. Mas acredita-se que o projeto do Guggenheim seja o primeiro exemplo de um importante museu de Nova York fazendo a mesma coisa.
O antes esquecido terreno baldio em formato de T, de 186 metros quadrados, foi limpado e transformado com a criação de uma estrutura em dois andares, com a base de fibra de carbono preta e um par de telões eletrônicos de vídeo suspensos, na frente e atrás. O projeto da empresa de arquitetura Atelier Bow-Wow, de Tóquio, possui um espaço aberto no nível da rua, com lugar para cerca de 300 pessoas.
Mas a parte de cima, envolta em duas camadas de malha semitransparente de fibra de carbono preta, oculta o que é necessário para fazer o espaço funcionar. Arquibancadas modulares de madeira criadas para esse espaço, mesas e cadeiras dobráveis pintadas em tons pastéis podem ser guardados em recipientes de metal e erguidos ou abaixados por um sistema de cordas.
Os laboratórios são frutos de ideias de dois curadores do Museu Guggenheim na casa dos 30 anos, David van der Leer e Maria Nicanor, que destacam que não se trata de um museu efêmero.
"Queríamos que os Guggenheim Labs ficassem no meio de um ambiente urbano onde pessoas vivem, trabalham e se divertem", disse Van der Leer.
Mais de cem atividades e eventos foram planejados para o local, que vai operar até 16 de outubro. Cada evento vai focar um tema ligado a "Confrontando o Conforto", sobre como tornar a cidade mais vivível.
Yoshiharu Tsukamoto, um sócio da Bow-Wow, disse que percebeu que tinha um desafio pela frente quando viu o terreno baldio.
"Era um espaço estreito em formato de T. Percebi imediatamente que seria melhor usar a metáfora de um teatro, em lugar de espaço de exposições, porque os teatros mudam constantemente, como o laboratório", ele explicou.
Nada aqui é superficial. Os muros de tijolos recobertos de pichações que percorrem os dois lados do terreno foram deixados expostos. "Todo o mundo espera um prédio icônico do Guggenheim, mas dissemos especificamente que não queríamos isso", falou Van der Leer. "Queríamos pisar leve, sem causar reações contrárias no bairro."
Em uma ponta do terreno, há um barraco de madeira e mesas de piquenique; o lugar será um café que funcionará enquanto houver laboratório. Há também caminhos ajardinados e banheiros públicos.
O design é facilmente adaptável a novos ambientes. Em Berlim, por exemplo, o museu pop-up será montado numa fábrica. "Em cada lugar, será diferente", disse Nicanor. "Aqui, a ideia era que fosse aconchegante, como uma sala de estar urbana."


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