São Paulo, segunda-feira, 15 de dezembro de 2008

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O euro ganha mais adeptos

Por CARTER DOUGHERTY

COPENHAGUE - A crise econômica mais profunda desde a Grande Depressão está levando países que até agora faziam resistência ao euro a ver com novos olhos as vantagens da moeda européia comum.
Depois de a turbulência nos mercados ter quase destruído as moedas de Islândia e Polônia, os dois países estão revendo sua oposição ao euro. Mais surpreendentemente, a Dinamarca - um modelo quase perfeito de administração econômica - parece mais inclinada a adotar a moeda, depois de rejeitá-la duas vezes no passado.
A Dinamarca foi obrigada a recorrer a juros altos para defender sua moeda (a coroa dinamarquesa) contra os ataques especulativos. Os efeitos desses juros mais altos agora estão repercutindo na economia, levando alguns no país a apoiar a mudança para o euro.
"Segundo todos os critérios macroeconômicos, a Dinamarca é extremamente estável", disse Thomas Mirow, presidente do Banco Europeu de Reconstrução e Desenvolvimento. A evolução de sua postura em relação ao euro "diz muito sobre as opções isolacionistas em tempos difíceis".
A queda enorme nos mercados financeiros provocou uma "fuga para a qualidade", termo empregado por investidores para descrever uma transferência repentina do dinheiro, de ativos potencialmente arriscados para os ativos mais seguros possíveis. O euro e os investimentos em euro vêm se beneficiando dessa transferência.
No final de outubro, o zloty polonês se desvalorizou fortemente em relação ao euro, enquanto os mercados temiam que a crise econômica que dominava a Hungria pudesse disseminar-se para a vizinha Polônia.
O Partido nacionalista de direita da Lei e Justiça, do presidente Lech Kaczynski, vem pedindo há muito tempo um referendo sobre a adoção do euro, acreditando que a iniciativa seria derrotada. Mas a desvalorização repentina do zloty coloca em situação difícil muitos dos eleitores do partido que contraíram empréstimos em euro, dizem analistas. Kaczynski logo concordou com um plano que prevê a adoção do euro até 2012, e, sem alarde, abandonou a exigência do referendo.
A Hungria, que também recebeu ajuda do Banco Central Europeu, é outra que se aproxima de adotar o euro. E a opinião pública em relação à moeda européia vem mudando na Suécia, que integra a UE mas rejeitou o euro em 2003.
A Islândia rejeitou durante anos a possibilidade de integrar a União Européia, pré-requisito para adotar o euro, porque temia que a política pesqueira comum do bloco lhe privaria do controle sobre um recurso natural vital para o país. Mas quando o país chegou à beira da falência este ano, antes de ser socorrido pelo FMI, a coroa islandesa perdeu quase 80% de seu valor em relação ao euro.
Agora, com o país em recessão profunda, pesquisas de opinião mostram que entre 60% e 70% dos islandeses são a favor de integrar a UE e abrir mão de sua moeda nacional.
Analistas apontam para a Dinamarca como prova final do apelo do euro. O país já tinha rejeitado a moeda comum em dois referendos, o mais recente dos quais em 2000. O primeiro-ministro Anders Fogh Rasmussen aproveitou o momento atual para anunciar planos para a realização de um terceiro referendo.
Mas o principal obstáculo para a Dinamarca entrar para a zona do euro ainda é de natureza política. O Partido Socialista do Povo, o principal agrupamento oposicionista, rejeita há muito tempo a adoção do euro, dizendo que a União Européia precisa dedicar mais atenção a causas populares, como frear a especulação e adotar políticas agrícolas mais ecológicas.
Os partidários da moeda comum hoje acreditam que terão o apoio de um grupo novo de eleitores: os jovens dinamarqueses. A estudante Marie Petersen, 21, disse que o ano que passou estudando na Espanha a convenceu de que prefere ter euros a coroas dinamarquesas na carteira. "Em outros países você vê como a coisa funciona", disse.


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