São Paulo, segunda-feira, 16 de novembro de 2009

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CIÊNCIA & TECNOLOGIA

Vara de detecção de bombas suscita dúvidas

Johan Spanner para o New York Times
Artefato usado pelas forças iraquianas para detectar armas é visto como inútil por oficiais dos EUA

Por ROD NORDLAND

BAGDÁ — Apesar de crescentes atentados a bomba no Iraque e dos temores de que a violência cresça com a saída das tropas dos EUA, as forças iraquianas vêm empregando um artefato que as Forças Armadas americanas e especialistas afirmam ser inútil para detectar explosivos e armas.
Trata-se de uma pequena vara, que é segurada na mão e conta com uma antena telescópica. O aparelho vem sendo usado em centenas de postos de verificação no Iraque. Mas funciona “segundo o mesmo princípio de um tabuleiro Ouija” —ou seja, o poder da sugestão—, disse o tenente-coronel Hal Bidlackum, oficial aposentado da Força Aérea americana, para quem a vara não passa de uma varinha de rabdomante para detectar explosivos.
Apesar disso, o governo iraquiano já comprou mais de 1.500 unidades do artefato, conhecido como ADE 651. Quase todos os postos de verificação da polícia e muitos postos militares iraquianos contam com um deles.
As forças americanas não o utilizam. “Não acredito que exista uma varinha mágica capaz de detectar explosivos”, disse o general Richard J. Rowe Jr., supervisor das forças americanas para o treinamento da polícia iraquiana. “Se houvesse, todos nós a estaríamos usando. Não tenho confiança alguma no funcionamento dessa coisa.”
Mas os iraquianos acreditam piamente nela. “Quer seja mágica ou científica, o que me interessa é que ela detecta bombas”, disse o general Jehad al Jabiri.
Dale Murray, que testa artefatos para o Departamento de Defesa dos EUA, disse que “já testou vários objetos dessa categoria, e nenhum deles até agora apresentou desempenho melhor que o acaso aleatório”.
Aqeel al Turaihi, inspetor-geral do Ministério do Interior iraquiano, informou que o órgão comprou 800 unidades do artefato de uma empresa chamada ATSC (UJ) Ltd. em 2008, por US$ 32 milhões, e uma quantidade maior, não especificada, por US$ 53 milhões. Turaihi disse que as autoridades iraquianas pagaram até US$ 60 mil por cada vara, que poderiam ter sido adquiridas por US$ 18,5 mil. Ele informou que abriu uma investigação sobre contratos com a ATSC feitos sem licitação.
No ano passado, a Fundação Educacional James Randi, grupo que procura desmentir alegações de paranormalidade, ofereceu publicamente US$ 1 milhão à ATSC se um teste científico pudesse comprovar a capacidade do artefato de detectar explosivos. Segundo a Randi, a empresa não aceitou a oferta.
Os materiais promocionais da ATSC alegam que a vara é capaz de localizar armas, munições, drogas, trufas, corpos humanos e até mesmo marfim contrabandeado a distâncias de até 1 km, no subsolo, atrás de paredes, debaixo d’água e até desde aviões voando a 5 km de altitude. Segundo a empresa, a varinha funciona com “atração de íons magnéticos eletrostáticos”.
Para detectar materiais, o operador coloca uma fileira de cartões de cartolina revestidos de plástico, contendo códigos de barra, em um invólucro conectado à vara por um cabo. Para o coronel Bidlack, “seria risível, não fosse pelo fato de que alguém ali na rua está contando com isso para tirar bombas das ruas”.
Os defensores da varinha frequentemente argumentam que os erros se devem ao operador humano do aparelho, que, segundo eles, precisa estar descansado, com pulso e temperatura corporal estáveis ao usar o artefato.
Daí o operador precisa caminhar por alguns minutos para “carregar” o aparelho, já que este não possui bateria ou fonte de energia, e então andar com a vara formando um ângulo reto com seu corpo. Se há explosivos ou drogas à esquerda do operador, a vara deve girar para o lado esquerdo deste e apontar para eles.


Colaborou Riyadh Mohammed


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