São Paulo, segunda-feira, 16 de novembro de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Cérebro canino vai além do olfato apurado, dizem estudos


Cães podem processar informações de modo parecido ao humano

Por SARAH KERSHAW

A questão de o que exatamente passa na cabeça de um cachorro é complicada, e até recentemente grande parte das pesquisas sobre a inteligência canina era vista com bastante ceticismo.
Mas, nos últimos anos, pequenos estudos científicos sobre a capacidade dos cães para tarefas como detectar tumores ou convulsões, resolver problemas complexos ou aprender idiomas sugerem que eles podem saber mais do que pensávamos que soubessem.
Pesquisadores húngaros divulgaram, no ano passado, um estudo em que um cão guia de um cego epilético ficava ansioso ao pressentir que seu dono sofreria um ataque e aprendeu a latir e lamber o rosto e o braço do dono quando notasse um episódio em fase inicial, 3 a 5 minutos antes das convulsões. Ainda não se sabe ao certo como os cães pressentem as convulsões —se ao notar mudanças comportamentais ou cheirar algo estranho—, mas vários pequenos estudos demonstraram que um olfato poderoso é capaz de detectar odores emitidos por cânceres de pulmão e de outros tipos.
Além dessas capacidades sensoriais, em que os instrutores podem usar os instintos naturais dos cães, algumas pesquisas examinaram a real capacidade cognitiva deles. “Acredito que, com tantas pesquisas recentes sugerindo que podemos ter subestimado certos aspectos da capacidade mental dos cachorros, até o cínico mais empedernido tem de pensar duas vezes antes de rejeitar as possibilidades”, disse Stanley Coren, professor de psicologia da Universidade da Colúmbia Britânica (Canadá) e autor de vários livros sobre cães.
O trabalho de Coren sobre a inteligência, junto com outras pesquisas sugerindo que o cérebro canino processa informações de forma algo semelhante ao das pessoas, tem recebido críticas.
Mas, em 2004, pesquisadores alemães noticiaram que um border collie chamado Rico conseguia aprender o nome de um objeto em uma tentativa, tinha 200 objetos no seu repertório e lembrava de todos um mês depois, num comportamento muito parecido com o dos humanos.
Submetendo os cães a testes idiomáticos e de outros tipos criados para bebês e crianças, Coren montou um ranking de inteligência de cem raças, liderado pelo border collie. Ele diz que as raças mais inteligentes (poodles, retrievers, labradores e pastores) podem aprender até 250 palavras e sinais, enquanto outras podem aprender 165. O cão médio é intelectualmente equivalente a uma criança de 2 a 2,5 anos, concluiu ele, com capacidade para compreender alguns conceitos abstratos. O animal pode ter uma “ideia de ser um cão” ao diferenciar fotos onde cachorros aparecem ou não.
Mas Clive Wynne, professor associado de psicologia da Universidade da Flórida especializado em cognição canina, contesta os esforços para comparar os cérebros de pessoas e cachorros.
Ele argumenta que a profunda sensibilidade dos cães aos humanos ao seu redor, sua obediência sob treinamento rigoroso e seu desejo de agradar podem explicar a maioria dessas capacidades. Para Wynne, os cães podem ser hábeis na leitura de pistas humanas —e podem aprender isso—, mas não significa que estejam pensando como pessoas. O mundo de um cão gira em torno de seu dono primário, e ele irá responder a essa pessoa para conseguir o que deseja —geralmente comida, cuidados ou afeto.
“Assumo a opinião de que os cães têm sua forma única de pensar”, disse Wynne. “É um feliz acidente que o pensamento do cachorro e o pensamento humano se sobreponham suficientemente para que possamos ter essas relações com os cães, mas não deveríamos nos enganar de que os cães estão vendo o mundo como nós vemos.”


Texto Anterior: Certos cânceres podem sumir sem tratamento
Próximo Texto: Cientistas investigam antigo tsunami

Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.