São Paulo, segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

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Procurando bandidos de terras-raras

Por KEITH BRADSHER
BAISHAZHEN, China - Bandidos que fazem a extração ilegal de alguns dos metais industriais mais procurados do mundo há muito assolam esta região no sul da China. Os bandos obtêm lucros que rivalizam com o dinheiro do tráfico de drogas, deixando em seu rastro poluição e violência.
Hoje, os governos nacional e provinciais da China começaram a atacar as minas ilegais, que as autoridades há muito toleravam.
Pequim também está reduzindo as exportações legais: as cotas serão 35% menores neste início de ano, em comparação com a mesma época do ano passado.
Operações ilegais no sul da China produzem cerca da metade do suprimento mundial de terras-raras pesadas, os tipos mais valiosos de metais de terras-raras. Elas são cada vez mais vitais para a fabricação de uma série de produtos de alta tecnologia -incluindo iPhones, televisores de tela plana, carros híbridos, turbinas de energia eólica e diversos equipamentos militares.
A China extrai 99% do suprimento global de terras-raras pesadas, com as minas legais de propriedade do Estado representando a maior parte do resto da produção chinesa. Isso significa que os únicos concorrentes efetivos do governo chinês são os grupos criminosos dentro das fronteiras do país.
E assim Pequim, decidida a manter seu domínio global, começou uma campanha enérgica para esmagar os sindicatos do crime que dominam as minas a céu aberto nesta parte da província de Guangdong, que abriga a maioria das áreas de mineração de terras-raras pesadas do sul da China.
Os preços dos elementos de terras-raras extraídos quase exclusivamente aqui nestas montanhas de argila vermelha -disprósio, térbio, európio- têm aumentado. Os negociantes dizem que refinarias ilegais pagam com sacos de dinheiro aos garimpeiros fora-da-lei pelo minério de terras-raras semiprocessado.
Nos últimos meses, equipes de dezenas de policiais efetuaram batidas nos morros do norte de Guangdong e prenderam pelo menos cem proprietários e gerentes das minas e refinarias, disse um especialista chinês do setor.
As gangues aterrorizam os moradores de aldeias que se queixam do ácido sulfúrico e outros produtos químicos que foram despejados nos rios durante o processamento do minério. A mineração ilegal de terras-raras e os dejetos químicos já poluíram milhares de hectares de terra agrícola produtiva, segundo o governo de Guangdong, e foram culpados por muitas doenças.
Além das preocupações ambientais, a geopolítica também parece ter tido um papel na repressão. O governo chinês impôs um embargo imprevisto a todos os carregamentos de terras-raras em bruto para o Japão durante dois meses, desde meados de setembro, durante uma disputa territorial sobre ilhas.
O contrabando para o Vietnã, onde comerciantes japoneses atuam há muito tempo, de certa forma minou a eficácia das sanções, segundo autoridades do setor.
Juntamente com os mineradores ilegais, refinarias no norte de Guangdong que compram deles também são violentas.
Alan Crawley, principal executivo britânico da Pacific Ores Metals and Chemicals, companhia de comércio de minérios raros em Hong Kong, lembrou um terrível incidente em seu escritório alguns anos atrás, durante uma disputa de US$ 5 milhões com uma refinaria.
Alguém sequestrou o gerente geral da Pacific Ores, Constant Li. Os sequestradores levaram Li até o escritório de Crawley em Hong Kong certa noite, o amarraram a uma cadeira com fita adesiva e cortaram seu pescoço com estiletes.
Em Baishazhen, um plantador de arroz, Song Zuokai, 81, disse não entender por que pessoas de longe da China são tão ávidas pelos flocos dourados de terras-raras que salpicam a argila de seu vale, antes impoluto.
"Não sei o que é, mas tem dinheiro aí, por isso as pessoas vêm e cavam", disse. Os mineradores "são ferozes porque têm dinheiro", acrescentou.


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