São Paulo, segunda-feira, 17 de janeiro de 2011

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Um sequenciador genético para massas

Por Andrew Pollack
Jonathan M. Rothberg quer fazer pelo sequenciamento do DNA o que Steve Jobs, da Apple, fez pela computação: colocá-lo ao alcance das massas.
Ele é o fundador da Ion Torrent, que no mês passado começou a vender um sequenciador chamado Máquina Genômica Pessoal. A maioria dos sequenciadores custa centenas de milhares de dólares e tem o tamanho de uma geladeira pequena, mas este custa um pouco menos de US$ 50 mil e tem as dimensões de uma impressora grande de mesa.
A máquina tem o potencial de ampliar o uso do sequenciamento, levando-o para hospitais e consultórios. "Quero tornar o sequenciamento algo onipresente", disse Rothberg, Ph.D. em biologia.
O Hospital Massachusetts General, em Boston, já está sequenciando 130 genes de amostras de tumores de pacientes, à procura de mutações que possam dar indícios de quais medicamentos funcionarão melhor.
Alguns críticos acham que a máquina não tem capacidade para dar conta de muitas tarefas, entre elas o sequenciamento do genoma inteiro de uma pessoa. Rothberg disse que os modelos futuros serão mais potentes.
A máquina da Ion Torrent usa chips como os de um computador em lugar das câmeras e dos lasers empregados pela maioria dos sequenciadores.Isso lhe permite incrementar os aperfeiçoamentos contínuos feitos na tecnologia de semicondutores.
A Life Technologies, fabricante de sequenciadores, comprou a Ion Torrent em agosto por US$ 375 milhões à vista, mais US$ 350 milhões a serem pagos posteriormente, se as vendas alcançarem determinados níveis.
Foi uma boa notícia inesperada para Rothberg, 47 anos, que abrira a empresa com seu próprio dinheiro, além de ter levantado US$ 37 milhões junto a investidores. A Ion Torrent foi fundada há três anos e tem sua sede em Guilford, Connecticut; é a quinta companhia fundada ou financiada por Rothberg. Ele fundou a 454 Life Sciences em 2000 depois de ver uma foto do microprocessador Pentium da Intel, com seus milhões de transistores, na capa de uma revista. A foto o inspirou a acelerar o sequenciamento, trabalhando sobre vários fragmentos de DNA em paralelo.
A companhia foi vendida à Roche em 2007 por US$ 140 milhões. Rothberg fundou a CuraGen, pioneira em genômica, depois de obter seu doutorado, em 1991.
As ações das empresas de genômica subiram vertiginosamente, e Rothberg entrou para a lista dos 40 americanos mais ricos com até 40 anos de idade em 2001, com fortuna líquida de cerca de US$ 168 milhões. Com colaboradores, a 454 publicou um dos dois primeiros genomas completos de uma pessoa e também o de neandertais. O sequenciamento envolve a determinação da ordem das bases -as unidades químicas de DNA, representadas pelas letras A, C, G e T- em um gene ou cromossoma. A sequência ajuda a determinar as características de um organismo.
Para detectar as bases, outras máquinas prendem tintas fluorescentes a elas e usam uma câmera. Mas a máquina da Ion Torrent utiliza um chip de silício que pode detectar os íons de hidrogênio liberados quando uma nova base é acrescentada a um feixe de DNA.
O sequenciamento de uma amostra leva apenas uma ou duas horas, contra dias no caso de máquinas maiores. Mas o preparo da amostra pode levar mais de um dia, e o equipamento que o faz custa quase tanto quanto o próprio sequenciador. A máquina da Ion Torrent sequencia apenas cerca de 10 milhões de bases por vez, contra bilhões no caso de algumas das outras máquinas. O custo por unidade de DNA sequenciado é altíssimo: US$ 500 a cada vez, em parte porque toda vez é necessário um chip novo de US$250.
A Ion Torrent oferece prêmios de US$ 1 milhão a quem conseguir aperfeiçoar a máquina.
Outras empresas também vêm fazendo avanços. Em alguns anos deverá ser possível sequenciar um genoma humano por menos de US$ 1.000, e muitas pessoas poderão obter o mapa de seu DNA.
No início deste ano, a 454 introduziu o "GS Júnior" com preço de cerca de US$ 100 mil. A empresa está trabalhando em chips de sensoriamento químico com a britânica DNA Electronics, que licenciou suas patentes à Ion Torrent.
"Se alguém ganhar o Nobel pelo sequenciamento de próxima geração", disse Michael Weiner, que trabalhou com Rothberg por muitos anos, "esse alguém deveria ser Jonathan."


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