São Paulo, segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

ENSAIO

MARY TRIPSAS

Escapando ao limbo tecnológico

Os linotipos dos jornais não se tornaram obsoletos do dia para a noite

Propelidas pela pressão por inovação, empresas tecnológicas acatam os conselhos de gurus de gestão sobre como desenvolver produtos criativos e pioneiros.
Novas tecnologias são evidentemente importantes, mas até mesmo no ambiente em mutação atual elas podem demorar muito tempo a substituir suas predecessoras. E, enquanto isso, inovações incrementais baseadas em velhas tecnologias podem ajudar uma empresa a sobreviver.
Quando a Sony anunciou sua câmera eletrônica Mavica, em 1981, as manchetes trombetearam que "o filme fotográfico está morto". Mas foram necessários 28 anos para que o Kodachrome de fato morresse, em junho passado.
A realidade é que a maioria das tecnologias termina por desaparecer. Mas os executivos atuais não precisam presumir que o destino de uma velha tecnologia esteja predeterminado. As empresas podem administrar o jogo da inovação. Melhoras continuadas que prolonguem a vida de uma tecnologia, especialmente se consideradas as margens atraentes que as velhas tecnologias podem oferecer, podem ser uma sábia decisão de negócios.
A chave é estender a vida lucrativa daquilo que é velho por tempo suficiente para que tenha uma chance no mundo do novo. Mas como?
Os clientes se movem em velocidades diferentes, de modo que os investimentos devem se concentrar em mercados que valorizem o velho. Há muitas críticas à estratégia digital da Kodak, mas seu ponto forte é a capacidade que ofereceu à empresa de manter sua posição em segmentos como o cinema -os quais, embora pequenos, avançam de forma mais lenta em direção às plataformas digitais.
A história oferece outro exemplo. Máquinas mecânicas que usavam chumbo derretido dominavam o setor de tipografia há mais de 60 anos, quando novas máquinas de fotocomposição foram introduzidas, em 1949. Em companhia de muitas novas concorrentes, as duas empresas que dominavam a velha tecnologia, Mergenthaler Linotype e Intertype, investiram pesadamente na novidade.
Mas a tecnologia mecânica "era bem conhecida das pessoas que a usavam", disse Carl Schlesinger, ex-operador de tipografia do "New York Times". A nova tecnologia requeria que os clientes realizassem pesado investimento no treinamento de seu pessoal.
Assim, ao longo dos anos 50 e 60, Mergenthaler Linotype e Intertype continuaram a desenvolver máquinas mecânicas inovadoras, disse Herb Klepper, engenheiro da Mergenthaler na época. A velocidade das máquinas antigas mais que dobrou, e os jornais as mantiveram. Em 1978, quando o "New York Times" aposentou suas máquinas mecânicas, a Mergenthaler Linotype era a líder estabelecida da nova tecnologia, e a Intertype, embora não liderasse, havia sobrevivido para avançar em direção à composição digital.
É claro que os executivos ainda precisam saber a hora de mudar. É tudo questão de equilíbrio. O futuro de uma empresa depende de seu sucesso com o novo. Mas o velho não precisa ser definido como origem de inércia que reprima os impulsos criativos de uma companhia. A inovação inteligente daquilo que é velho pode ser a chave para o futuro.


Mary Tripsas é professora de administração de empresas na Universidade Harvard



Texto Anterior: TENDÊNCIAS MUNDIAIS
O firmamento do tempo volta a atrair atenções

Próximo Texto: A Terra esquenta? Ajuste o termostato
Índice


Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.