São Paulo, segunda-feira, 17 de agosto de 2009

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"Intervenção" poderia salvar um astro perturbado?

Viciados são confrontados no programa "Intervention" ; houve quem buscasse ajuda, em vão, para Michael Jackson e Kurt Cobain

Por SARAH KERSHAW

Nos dias seguintes à morte de Michael Jackson, pessoas próximas ao cantor disseram ter alertado familiares e implorado a ele que buscasse ajuda para se livrar das drogas.
As autoridades que investigam sua morte acreditam que Jackson, tratado em 1993 por uma dependência de analgésicos, teria receitas médicas sob mais de uma dúzia de nomes falsos.
"Ele estava cercado por facilitadores, inclusive uma vergonhosa pletora de médicos em Los Angeles e outros lugares que lhe forneciam medicamentos vendidos sob receita", escreveu Deepak Chopra, guru e amigo de Jackson, no site Huffington Post em 26 de junho, logo depois da morte do cantor.
"Assim como tantas vezes ele confessava abertamente que tinha um problema, em outras tantas a conversa sempre terminava com um desvio ou uma negativa", afirmou ele.
Especialistas em intervenções contra drogas -campo em rápido crescimento desde que o conceito se desenvolveu, no final da década de 1960- acompanharam de perto o caso de Jackson, apontando-o como um exemplo clássico de oportunidade perdida. A negação está no centro da dependência, e superá-la, dizem muitos deles, pode exigir medidas extremas.
Não está comprovado que Jackson fosse dependente, mas os investigadores estão agindo sob a premissa de que houve abuso de drogas. Eles tentam juntar provas contra o médico pessoal do cantor, que teria lhe administrado uma dose do poderoso anestésico propofol pouco antes da sua morte.
J. Randy Taraborelli, biógrafo de Jackson que o conheceu por 40 anos, disse em entrevista que parentes tentaram intervenções nos últimos anos.
A forma mais comum de intervenção, conhecida como "emboscada na sala", envolve surpresa e ultimato. O dependente é atraído para uma reunião familiar, com uma promessa do tipo "a vovó tem um cheque para te dar no domingo". As malas são preparadas para uma temporada num centro de tratamento, e a família é incentivada a impor um limite em uníssono: fique sóbrio, ou caia fora.
Essa abordagem é conhecida também como "método Johnson", em alusão ao religioso Vernon E. Johnson, cujo livro "I'll Quit Tomorrow" ("Amanhã em paro") deu origem à crença de que parentes e amigos, com a ajuda de um interventor profissional, podem superar a negação do alcoólatra ou dependente.
Alguns especialistas agora se referem causticamente à intervenção tradicional como "modelo A&E", em alusão ao canal que transmite um popular reality show chamado "Intervention", que traça um perfil de famílias e dependentes e termina com uma confrontação-surpresa.
Mas críticos dizem que o confronto pode agravar o trauma em famílias já devastadas e dissuadir um dependente de buscar ajuda.
Assim como a morte de Jackson demonstrou a dificuldade em ajudar um dependente, foi a morte de outra celebridade, Kurt Cobain, em 1994, que deu impulso a uma filosofia alternativa, chamada de "entrevista motivacional" ou intervenção "convidativa".
Cobain, viciado em heroína, suicidou-se dias depois de sumir de um centro de reabilitação, onde aceitara se internar após uma intervenção clássica feita por sua mulher, Courtney Love, e seus colegas da banda Nirvana, segundo relatos da época.
Isso gerou preocupação entre especialistas e psicólogos a respeito das intervenções "tudo ou nada", segundo G. Alan Marlatt, diretor do Centro de Pesquisas de Comportamentos Aditivos da Universidade de Washington.
As abordagens menos confrontativas envolvem pedir a um dependente que se reúna com seus parentes, que podem passar por longas consultas antes e depois do encontro com o dependente. A família não necessariamente exige que um dependente pare de usar drogas ou beber; pode pedir que diminua o uso -parte de um tratamento, por si só polêmico, chamado "redução de danos".
"Acho que a entrevista motivacional não vai ser o próximo reality show de TV, porque é chata demais", disse Jeffrey Foote, fundador e diretor-executivo da entidade de tratamento e pesquisa Centro para a Motivação e a Mudança. "É matizada, é mais suave, é trabalhar com as pessoas de um jeito mais lento, e é efetiva. Mas não é boa para a TV. O que é bom para a TV é levar viciados em drogas, aproveitando a raiva que as pessoas sentem da dependência e dos dependentes em drogas, e escrachá-las."
Uma das mais novas alternativas ao modelo Johnson, desenvolvida por Brad Lamm, especialista de Nova York, baseia-se muito em tecnologias como Skype, podcasts e bate-papo pela internet, para conectar as famílias aos dependentes num esforço para incluir o máximo possível de parentes e amigos próximos.
"O pensamento era de que o dependente precisa ser capturado, e que uma vez capturado precisa ser tratado", disse Lamm. "Mas o que eu sei pelo trabalho com as famílias é que podemos usar a força familiar para nos levar aonde queremos ir, para relacionamentos mais saudáveis, mesmo diante de uma dependência esmagadora."


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