São Paulo, segunda-feira, 17 de outubro de 2011

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MORADIA & VIDA

Megaprédio gera debate habitacional

Por JOHN TAGLIABUE

VERNIER, Suíça - Alexa Magalhães não tem planos de se mudar do prédio onde mora há seis anos. Esse condomínio, um dos maiores do planeta, oferece tudo o que precisa, ela diz.
"Adoro este prédio, é uma aldeiazinha, há tudo aqui -escola, hospital, famílias com filhos", disse Magalhães, que vive com a filha pequena em uma unidade de "três cômodos e meio".
O sentimento dela não é algo unânime. "É um monstrengo", disse Jean Paul Laurent, 53, funcionário da companhia elétrica local. "Sou de uma pequena aldeia, vivo em uma casa de três andares, chamo isso de escala humana."
O debate sobre o Le Lignon é pertinente porque o gigante, com seus 2.780 apartamentos, mais de 930 mil m2 de área construída e cerca de 6.800 moradores, foi erguido há quatro décadas como uma resposta à premente falta de moradias ao redor de Genebra, que inclui locais como Vernier.
Com a constante chegada de imigrantes à região, uma escassez habitacional semelhante se repete atualmente.
A dúvida é entre construir outro projeto gigantesco como o Le Lignon, ou optar por um menor adensamento habitacional, um caminho mais aceito hoje.
Vernier, com 34 mil habitantes, há muito tempo se gaba do comprimento do Le Lignon, que tem cerca de 1 km de extensão.
Atualmente, o prédio de apartamentos mais longo que existe é o Bymuren, que serpenteia por 1,5 km, a oeste de Copenhague. Dois outros prédios, em Viena (Aústria) e Berlim (Alemanha), têm quase o mesmo tamanho do prédio Le Lignon.
"Ele foi um produto do período do pós-guerra, do 'baby boom', quando a região precisava construir por causa do crescimento demográfico, e isso tinha de ser feito rapidamente", disse o artista Justin McMahon, 34, criado justamente no Le Lignon.
A ideia, segundo ele, foi tirada do trabalho de Le Corbusier, arquiteto francês de origem suíça que ficou famoso por seus projetos grandes para moradias baratas.
Louis Payot participou da equipe que projetou o Le Lignon. "A ideia era um lugar no campo, com apartamentos se estendendo pelo prédio e com vista para ambos os lados", disse Payot, 89.
Construído em uma antiga fazenda de 28 hectares, o Le Lignon parece um paredão com 12 a 14 andares, serpenteando por um penhasco sobre o rio Rhone. Numa ponta existem duas torres altas, com apartamentos adicionais. Entre o prédio e o rio há um shopping, igrejas e escolas. Quatro garagens estão no subsolo.
Praticamente desde o começo, os sofisticados moradores de Genebra passaram a ver o monstrengo de Vernier com desdém. Apelidaram o prédio de "coelheira", e na década de 1990 sua reputação despencou, ao mesmo tempo em que cresceu o número de moradores imigrantes, e também o desemprego juvenil e a criminalidade.
O desemprego entre os condôminos permanece alto e as pichações ainda abundam, mas na última década a criminalidade diminuiu, graças ao aumento do policiamento e a programas que colocam os jovens desempregados envolvidos em projetos de pintura de garagens ou de criação de murais nas paredes.
O assistente social Thierry Apothéloz, 40, prefeito de Vernier há oito anos, não se empolga com os planos recentemente divulgados pela Arábia Saudita para construir um arranha-céu de uso misto -residencial e comercial- com uma altura semelhante ao comprimento do Le Lignon.
"Não é a mesma coisa, prefiro horizontal", disse Apothéloz, que morou com a esposa no Le Lignon por 12 anos. "Aqui você tem a impressão de estar num espaço compartilhado."



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