São Paulo, segunda-feira, 18 de maio de 2009

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análise

Washington tenta injetar dose certa de otimismo

Por DAVID E. SANGER

WASHINGTON — A fórmula para restaurar a confiança nacional americana pode ser difícil de encontrar. Ela não foi encontrada por Herbert Hoover (1929-33) depois do crash de 1929, por Lyndon B. Johnson (1963-69) após a ofensiva vietcongue do Tet na Guerra do Vietnã, por Jimmy Carter (1977-81) após o choque da energia ou por George W. Bush (2001-09) depois de o Iraque ter se convertido de vitória rápida em insurgência sangrenta.
Mas, num momento de crise, é justamente ela que o presidente Barack Obama precisa buscar. Enquanto o governo anunciava, recentemente, que os maiores bancos dos EUA se afastaram do precipício e que as demissões começam a diminuir, Obama vem tentando garimpar um bem precioso a líderes em tempos de difíceis: o otimismo.
Suas referências passadas a “vislumbres de esperança” ganharam um “upgrade” modesto na Casa Branca no último dia 8, com a declaração do presidente —na qual ele tropeçou, subtraindo um pouco da assertividade da frase— que “as engrenagens de nossa máquina econômica parecem ter voltado, lentamente, a girar”.
Seus assessores têm procurado cautelosamente por metáforas semelhantes e então ressaltando, como fez Obama, que a real recuperação ainda levará meses, se não anos.
O medo e a aversão ao risco têm sido parte dos problemas da economia desde que a recessão começou, e os assessores de Obama têm plena consciência dos riscos que encerra uma espiral descendente de pessimismo. Nas últimas semanas, sua equipe econômica vem identificando sinais de que o pior talvez já tenha passado. Ao mesmo tempo, ela tem divulgado os resultados do exame feito da situação dos bancos, num desejo de tranquilizar mercados financeiros e consumidores. Eles ganharam algum apoio do presidente do Fed (Banco Central dos EUA), Ben Bernanke, que previu que a economia deve começar a crescer outra vez até o final do ano.
“Recorde esse paradoxo central da crise”, disse o assessor econômico chefe de Obama, Lawrence Summers, em março, quando todos os indicadores eram negativos: “Ao mesmo tempo em que o problema foi causado por complacência e otimismo excessivos, o que precisamos hoje é de mais otimismo e confiança”.
As palavras do próprio Obama no dia 8 assinalaram seu temor em se adiantar aos números. O presidente passou mais tempo falando sobre as cartas que recebeu de pessoas desesperadas e desempregadas do que sobre o declínio do ritmo em que os americanos vêm perdendo seus empregos. Afinal, 539 mil vagas de trabalho perdidas em um único mês não são motivo para comemoração, mesmo que representem uma melhora em relação ao mês anterior.
“Há uma espécie de nuance delicada em tudo isso, não?”, comentou Robert Dallek, historiador presidencial conhecido por ter narrado como o hábil político Lyndon Johnson nunca conseguiu afastar o público da ideia de que tudo estava desmoronando. “Você não quer vir a público para dizer que a recessão terminou. Quer apresentar uma versão da fala de [Winston] Churchill sobre como isso não é o fim, nem mesmo o começo do fim, mas sim o fim do começo.”
No caso de Obama, as pesquisas indicavam que uma grande parte da população estava predisposta a prestar atenção às notícias boas. A parcela de americanos que acredita que o país está avançando no rumo certo subiu para 41% no mês passado, segundo pesquisa “New York Times”/CBS News, contra 15% em janeiro, apesar de a economia ter piorado nesse período.
Mas não faltam céticos, desde historiadores econômicos que sabem que a história é repleta de falsas recuperações até aqueles que argumentam que Obama criou uma inversão na situação ao custo de déficits fenomenais e de um papel novo e enorme do governo no setor privado.
Robert Reich, secretário do Trabalho no governo de Bill Clinton e um dos críticos da Obama na esquerda, foi à TV recentemente para argumentar que, para criar esse senso de otimismo, a equipe de Obama enviesou resultados quando falou da capacidade dos bancos de sobreviver a uma recessão mais profunda.
O secretário do Tesouro, Tim Geithner, defendeu a abordagem do governo.
“Uma parte enorme da dinâmica de uma crise é a confiança”, disse, no dia 8.
Mas funcionários do governo reconhecem que os números que têm mais ressonância entre os americanos, as estatísticas do desemprego, normalmente são os últimos a se recuperar. Os números também são sujeitos a quedas inesperadas, fato que explica a hesitação de Obama em descrever as cifras sobre o desemprego como início de uma tendência de melhora.
“A parte mais difícil é equilibrar otimismo e credibilidade”, disse Dallek. “A frase de Hoover de que ‘os dias felizes voltaram’ não teve credibilidade. O ‘missão cumprida’ de Bush virou piada. Ninguém quer cometer o mesmo erro.”


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