São Paulo, segunda-feira, 18 de maio de 2009

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Gado vira porto seguro na França

Por STEVEN ERLANGER

ST.-VICTOR-DE-CESSIEU, França — Os franceses, conhecidos por sua desconfiança em relação aos bancos, não estão apenas guardando o dinheiro embaixo do colchão nestes tempos nervosos de recessão e juros minúsculos. Também estão investindo em vacas.
Para Pierre Marguerit, 60, as vacas são um investimento seguro, que permitirão o crescimento a longo prazo com uma fonte renovável.
O investimento nos novilhos holsteins de Marguerit deve render de 4% a 5% de lucro líquido por ano, ele disse, com base no “crescimento natural” —a venda dos novilhos. Isso se compara com uma taxa de juros atual de 0,75% na conta bancária básica na França.
No ano passado, seus negócios cresceram 40% e neste ano “praticamente dobraram”, disse Marguerit, diretor-gerente da Élevage et Patrimoine, empresa de investimento no leste da França, perto dos Alpes, e presidente da Gestel, que trabalha com agricultores e investidores.
“As pessoas pouparam dinheiro e não querem desperdiçá-lo”, ele disse. “As ações caíram muito e as pessoas veem isso. Precisamos de um lugar para colocar nosso dinheiro em um investimento de longo prazo, algo mais estável.”
No momento há cerca de 37 mil vacas sob contrato na França, em cerca de 880 fazendas, segundo a Associação Francesa de Investimento em Gado. Mas o mercado potencial é enorme, insiste Marguerit, talvez alcançando um milhão de cabeças na França e 6 milhões na Europa em geral.
Um casal típico compra de 10 a 20 vacas leiteiras por cerca de R$ 3.500 cada e pode decidir vender os novilhos todo ano ou guardá-los como capital adicional. “Neste momento difícil, é um investimento muito melhor que imóveis e muito mais palpável que o mercado de ações”, disse Marguerit. Então ele passou a elogiar o novo interesse por “coisas naturais, orgânicas e duradouras” entre os franceses, que sempre romantizaram o campo. “Isto faz parte do patrimônio”, disse. Nesta profunda crise, “estamos tendo um momento de percepção —estamos num pouso forçado, e as pessoas fazem perguntas reais.”
Diversificar em vacas? Por que não? Para Richard Durand, o arranjo libera capital para aperfeiçoamentos em seu pequeno laticínio de 200 hectares em St.-Victor-de-Cessieu, a cerca de 50 km de Lyon. Ele dá a seus cem holsteins o melhor de tudo, incluindo uma vista das montanhas e dos campos verdejantes onde eles passam o verão. Melhor ainda, eles podem receber massagens —uma grande escova redonda na qual se esfregam sempre que desejam.
Ele chama sua propriedade de “Fazenda das Vacas Felizes”, e é o que parecem, até onde se pode ver. Durand “aluga” 37 de suas cem vacas, que ele conhece pelo nome e não apenas pelas etiquetas numeradas em suas orelhas. Durand, 48, cresceu nesse mundo. Ele conta que tinha de limpar seus cascos com os dedos e mostra o trenó automático que hoje corre pelo meio de seu celeiro moderno, varrendo os excrementos e a palha suja das vacas felizes.
Atualmente ele se limita a fazer queijo, enquanto outros lidam com a palha e a ordenha duas vezes por dia. Durand fornece seu excelente queijo branco, sua manteiga e seu iogurte para mercados da região, e a maioria de seus 757 mil litros de leite produzidos por ano é vendida para a cooperativa local.
Criar vacas de propriedade de outros dá a Durand mais deduções de impostos e libera até 17% de seu capital para investimentos. Em uma pequena oficina junto ao celeiro, Durand tem uma lista de expressões francesas que citam a vaca. Ele indica uma: “o tempo das vacas magras” —um período para apertar os cintos.


Colaborou Maïa de la Baume


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