São Paulo, segunda-feira, 18 de maio de 2009

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Diplomata defende Paquistão nos EUA

Por MARK LANDLER

WASHINGTON — Husain Haqqani foi arrancado de uma rua no Paquistão em 4 de maio de 1999 e colocado à força num carro; um cobertor foi colocado sobre sua cabeça. Ele conseguiu guardar seu celular escondido no bolso e, sem ser visto, ligou para o número de uma amiga para avisar a ela que estava tendo problemas.
Essa ligação pode ter salvado sua vida, disse Haqqani, hoje embaixador do Paquistão nos Estados Unidos. A notícia de sua detenção fez com que fosse mais difícil para seus captores, agentes de inteligência paquistaneses, o ferirem, disse Haqqani. Mesmo assim, ele foi espancado e mantido numa prisão por dois meses, até uma corte ordenar que fosse solto.
Enquanto o governo de Barack Obama enfrenta mais uma crise que se agrava no Paquistão, Haqqani vem se tornando figura influente em Washington: eloquente intérprete público da confusa política de seu país, mas também defensor incansável e resoluto da imagem e da reputação do Paquistão.
A ameaça do Taleban vem dando a Haqqani, 52, acesso aos mais altos escalões do governo Obama e do Congresso.
Ele conversa várias vezes por semana com Richard Holbrooke, enviado especial dos EUA ao Afeganistão e ao Paquistão, que o descreve como “um dos embaixadores mais habilidosos que já conheci”. Haqqani calcula que já conheceu 90 parlamentares americanos. E ele é presença constante na CNN, mas páginas de editoriais de jornais americanos e em institutos de pesquisas nos arredores de Washington.
Seus críticos, porém, dizem que Haqqani se alinha com quem quer que esteja no poder. Antes de deixar o Paquistão, em 2002, depois de desentender-se com o general e ex-presidente Pervez Musharraf, ele trabalhara para as duas figuras políticas mais importantes de seu país —os ex-premiês Nawaz Sharif e Benazir Bhutto—, passando de uma para outra com presteza, dependendo do lado que estivesse em ascensão.
Ex-jornalista, Haqqani cultivou fontes no círculo de Musharraf. Mas não demorou a se tornar crítico destacado do governo de Musharraf. Ele se alinhou solidamente com Benazir Bhutto, e, depois de ela ser assassinada, em 2007, com seu marido, Ali Asif Zardari, o atual presidente.
Desde que se mudou para os EUA, Haqqani desenvolveu uma afinidade com a cultura americana. A experiência no país só fez crescer a desconfiança com que é visto no Paquistão.
“As pessoas o veem mais como enviado dos EUA que como enviado do Paquistão”, comentou o advogado paquistanês Mowahid Hussain Shah. “Ele é visto como alguém que é competente e inteligente, mas que não é constante.”
Haqqani admite prontamente ter transferido sua fidelidade ao longo dos anos. Mas nega que seja oportunista, dizendo que passou por uma transformação pessoal, de ativista islâmico na juventude para partidário conservador de Sharif e então a acólito do populismo do clã Bhutto.
“Mudar de opinião é oportunismo?”, perguntou. “Seria oportunismo se eu obtivesse ganhos comerciais ou financeiros mudando de opinião. Essa é uma acusação que nunca me foi feita.”
Haqqani gosta de misturar jornalismo e política, e isso o levou a ter problemas em 1999, quando era porta-voz da oposição a Sharif, então primeiro-ministro. Depois de seu sequestro, foi acusado de corrupção, mas a acusação foi arquivada mais tarde.
Ele se vê como mediador entre velhos amigos cujo relacionamento inclui muita história repleta de problemas. “Vejo meu papel como sendo o de ajudar os americanos a compreender que o Paquistão está passando por uma transformação”, disse ele. “Depois disso, tenho que persuadir os americanos a ajudarem o Paquistão nessa transformação.”
A crença de Haqqani na democracia paquistanesa é sincera e foi conquistada a duras penas, disse Teresita Schaffer, ex-diplomata americana que ficou amiga de Haqqani quando ambos eram embaixadores no Sri Lanka. Mas, disse ela, como embaixador, suas opiniões só poderiam mesmo ser positivas. “Ele tem passado por cima, em seu cargo atual, da questão de se o governo [paquistanês] tem competência suficiente para fazer o empreendimento democrático funcionar”, disse Schaffer.


“Meu papel é ajudar os americanos a compreender que o Paquistão passa por uma transformação”


HUSAIN HAQQANI
Embaixador paquistanês nos Estados Unidos




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