São Paulo, segunda-feira, 18 de maio de 2009

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice

Moeda local fraqueja, e Polônia aguarda o euro


O instável zloty está causando temor no setor empresarial

Por CARTER DOUGHERTY

SZCZECIN, Polônia — Os líderes empresariais de Szczecin, cidade na fronteira entre Polônia e Alemanha, aguardam com ansiedade que a Polônia adote o euro.
Vinte anos depois do fim do comunismo, a economia da região foi reconstruída à imagem ocidental por empresários que venceram todo tipo de desafio, como conseguir que seus carregamentos passassem por guardas de fronteira e criar produtos que seus vizinhos europeus realmente quisessem comprar.
Mas essa experiência não os preparou para a conflagração global que fez a moeda polonesa, o zloty, vivenciar uma montanha-russa no ano passado. A lição amarga foi que seu sucesso duramente conquistado não bastava.
“Em momentos de forte crescimento econômico, as pessoas pensavam menos no euro do que em uma época como esta”, disse Dariusz Wiacaszek, presidente da Câmara de Comércio do Norte, sediada em Szczecin. “Nenhum empresário hoje poderia dizer racionalmente que não quer o euro.”
Raramente a união monetária de décadas da Europa enfrentou um desafio como o que é colocado atualmente pela crise econômica global. Mas desde que o turbilhão varreu a região, no final de 2008, a Polônia deixou de ver o euro, hoje usado em 16 países, como uma simples opção para o futuro, mas sim algo que não pode mais dispensar.
A economia do país deverá ficar estagnada este ano, muito abaixo dos 5,3% de crescimento que teve em 2008. Alguns críticos temem que aceitar o euro possa prejudicar ainda mais o crescimento, ao limitar as opções fiscais da Polônia e impedi-la de desvalorizar a moeda para ajudar a indústria.
Espanha, Grécia e Itália enfrentaram questões semelhantes antes de adotar o euro. Cada qual tendia a enfraquecer a moeda nacional enquanto perdia fatias de mercado para seus vizinhos com indústrias mais fortes, como a Alemanha. Hoje que eles estão trancados no euro, têm pela frente um processo mais doloroso de cortes de salários e empregos para restabelecer a competitividade. Mas aderir ao euro também afastaria a instabilidade do zloty que, segundo os empresários, torna praticamente impossível planejar a longo prazo —algo que os três membros da zona do euro também já experimentaram.
“Mal posso esperar para entrar na zona do euro”, disse Janusz Korzeniewicz, dono da Jako, empresa que transforma blocos de granito em tampos de mesa, em pedras de pavimentação e em materiais de construção.
Donald Tusk, premiê da Polônia, reagiu dando os primeiros passos sérios para trocar o zloty pelo euro desde que a Polônia entrou para a União Europeia, em 2004. Um governo nacionalista em Varsóvia resistiu à mudança durante anos, mas a crise concentrou a atenção na questão dentro do governo de centro-direita de Tusk.
O governo hoje pretende se deslocar lentamente para o euro até o final deste ano, como um precursor da afiliação plena até 2012, quando espera cumprir os critérios sobre inflação e política fiscal para aderir.
A empresa Jako exporta a maior parte do que produz de uma pequena instalação próxima a Szczecin, grande cidade portuária e ponte entre a Europa Oriental e a Ocidental depois da queda da Cortina de Ferro.
Como uma moeda mais fraca ajuda os exportadores a oferecer seus artigos por preços menores no exterior, Korzeniewicz deveria aprovar a queda do zloty. Mas sua matéria-prima é importada, por isso um zloty mais fraco lembra que uma taxa de câmbio estável ofereceria custos mais previsíveis.
Ryszard Mikolajewski, 53, que importa equipamentos de aquecimento e refrigeração, enfrentou um problema mais difícil. No ano passado, ele compôs uma lista de preços baseada em uma taxa de câmbio de 3,5 zlotys por euro, mas viu a moeda polonesa cair para quase 4,69 no mês passado —justamente quando vencia sua dívida de 17 mil euros com um fornecedor.
“Tenho o mesmo problema que um restaurante”, disse Mikolajewski. “Não posso mudar os meus preços toda semana.”
Entre os riscos mais recentes estavam contratos de opção cambial comprados no ano passado por muitas empresas polonesas para se proteger de um zloty mais forte, incluindo a Police Chemical Works, ao norte de Szczecin. Quando o zloty caiu acentuadamente, a empresa perdeu o equivalente a 34 milhões de euros.
“Depois dessas últimas experiências, muito duras, não há outro caminho a seguir”, disse Ryszard Siwiec, principal executivo da companhia.


Texto Anterior: Diplomata defende Paquistão nos EUA
Próximo Texto: Queda em investimentos detém a Índia
Índice



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.