São Paulo, segunda-feira, 18 de maio de 2009

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Queda em investimentos detém a Índia

Por VIKAS BAJAJ e SOMINI SENGUPTA

GURGAON, Índia — Não muito tempo atrás, os líderes indianos previam confiantemente que seu país sairia praticamente ileso da crise econômica global. Hoje parece que essa visão foi otimista demais, principalmente em Gurgaon, ao sul de Nova Déli, ex-símbolo do sucesso econômico da Índia.
Há poucos anos, as obras de construção na cidade fervilhavam 24 horas por dia, com equipes trabalhando sem parar, alimentando-se na escuridão em caminhões dentro da obra durante os intervalos. Hoje os canteiros estão vazios. O mercado de arte antes florescente desacelerou e se arrasta. E profissionais com diplomas cobiçados, como Sumit Sapra, estão desempregados ou aceitam cortes de salários para manter seus empregos.
Sapra é membro dessa geração ambiciosa de jovens indianos que surfou na onda da economia global. Em cinco anos ele mudou de emprego três vezes, quadruplicando seu salário no caminho. Mesmo quando estava satisfeito com seu cargo mantinha o currículo em sites de empregos, de olho em melhores ofertas. E gastou à vontade. Em três anos comprou três carros, cada um mais luxuoso que o anterior.
O último e mais bem pago emprego de Sapra foi na sede indiana de serviços financeiros da General Electric, que investe dinheiro ocidental em projetos de energia na Índia. Mas, em dezembro passado, o dinheiro estrangeiro parou de entrar, e Sapra foi demitido.
“Primeiro era o dinheiro que procurava alguns projetos”, disse Sapra, 30, sobre a mudança que pareceu ocorrer da noite para o dia. “Hoje é o inverso.”
O crescimento fenomenal da Índia nos últimos cinco anos foi alimentado em grande parte por enormes injeções de dinheiro. Os investimentos representaram cerca de 39% do PIB do país no ano fiscal de 2008, contra 25% cinco anos atrás. Em seu pico, mais de um terço dos investimentos veio do estrangeiro, segundo o Crédit Suisse. Mas, nos últimos três meses do ano passado, os empréstimos e investimentos diretos estrangeiros caíram quase um terço, atingindo seu nível mais baixo em mais de dois anos.
Em relatório recente, o Fundo Monetário Internacional disse que as companhias indianas estavam entre as mais vulneráveis do mundo, depois das americanas, porque emprestaram agressivamente durante o boom. Usando dados da firma de classificação de crédito Moody’s, o FMI estimou em um relatório recente que as moratórias entre as firmas não financeiras do sul da Ásia poderiam chegar a 20% no próximo ano, contra expectativa de 4,2% um ano antes.
O declínio em investimento estrangeiro cobrou um pesado preço de setores como o imobiliário, o de manufaturas, o de infraestrutura e até o de arte, que fora reforçado pela demanda da globalização, com seus novos ricos na Índia e no exterior. No último trimestre de 2008, o índice de crescimento da economia despencou para cerca de 5,3%, o mais baixo em cinco anos. Enquanto a demanda do consumidor, especialmente no campo, manteve a economia crescendo, a súbita desaceleração dos fundos estrangeiros tornará mais difícil para o país crescer com rapidez suficiente para tirar centenas de milhões de pessoas da pobreza.
“Se a Índia quiser voltar ao índice de crescimento de 8% a 9%, investimento privado e baixo custo de capital são essenciais”, disse Jahangir Aziz, economista chefe para a Índia do JPMorgan Chase.
Os políticos indianos acreditam que o país crescerá 6% no próximo ano, mas o FMI prevê um crescimento de 4,5%.
Para ajudar a preencher a lacuna deixada pelo investimento estrangeiro, o governo está gastando mais em infraestrutura e programas sociais. O Banco Central da Índia cortou suas taxas de juros referenciais, mas o custo dos empréstimos privados não caiu tanto.
Depois de uma terrível queda de 58% no mercado de ações indiano no ano passado, o mercado subiu 42% desde seu piso em março, e um pouco de dinheiro estrangeiro começou a fluir para as ações. Mas economistas como Aziz dizem que o governo precisa fazer muito mais.
Enquanto isso, a atividade em Gurgaon desacelerou radicalmente. Junto à rodovia de Nova Déli, há um gigantesco buraco no chão onde a maior construtora do país, DLF, pretendia construir seu maior shopping center, o Mall of India. Diretores da DLF dizem que poderão reduzir o tamanho do shopping e acrescentar espaço de escritórios para substituir a área de lojas planejada.
Sunil Kumar Verma, que instala pisos de mármore para construtoras em Gurgaon, disse que os negócios estão tão ruins que a metade de seus 40 funcionários voltou para casa em Bihar, Estado pobre no leste onde também não há muito trabalho para eles. “Tudo o que podem fazer é ficar sentados, comer e dormir”, disse Verma.


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