São Paulo, segunda-feira, 18 de maio de 2009

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Diário de Balmedie

Proprietário teimoso atrapalha planos escoceses de Trump

Por SARAH LYALL

BALMEDIE, Escócia — Desde que se recusou a vender a Donald Trump uma casa inconvenientemente localizada no meio de um projeto imobiliário de US$ 1,5 bilhão pertencente ao empresário, Michael Forbes tem recebido um número excepcional de visitas de agentes locais.
Um deles, contou Forbes, veio ver se havia maus tratos às suas galinhas, seus gansos e seu cavalo (não havia). Outro veio ver se ele tinha uma arma não registrada (não tinha). E um terceiro veio investigar relatos de que havia uma substância inflamável num velho tanque da propriedade (não havia).
Forbes, um pescador e operário de uma pedreira de granito, vive em Balmedie há 41 anos, desde os 15. Ele diz que não se importa e não vai se mudar, queiram ou não. Mas a desagradável atenção que ele vem despertando não surpreende os esparsos e sofridos adversários do grandioso projeto de Trump para um condomínio-clube de golfe, que já recebeu aprovação preliminar e pode começar a ser erguido no começo de 2010.
Escaldados pelos infrutíferos esforços para impedir os planos, eles estão aprendendo que, em tempo de miséria financeira, pouca gente se solidariza com argumentos que priorizam o meio ambiente à economia.
Trump, incorporador imobiliário de Nova York, apareceu há alguns anos e comprou 570 hectares em Balmedie à beira do mar do Norte, a 13 km de Aberdeen (o lote de 9 hectares que pertence a Forbes é parte do empreendimento projetado, numa duna de areia frágil).
Trump declarou que aquele era o lugar perfeito para fazer dois campos de golfe, um hotel de 450 leitos, 950 casas de veraneio 500 residências, um centro de conferências e uma escola de golfe. Ambientalistas de toda a Escócia se horrorizaram. Mas os moradores não quiseram ouvir falar em meio ambiente e não reagiram bem quando uma comissão local de planejamento votou contra o plano.
Os sete funcionários que votaram “não” se viram num jornal de Aberdeen sob a manchete “traidores”. O jornal manipulou suas fotos para que as cabeças virassem nabos, símbolo escocês para a estupidez.
A decisão foi revertida por intervenção do governo escocês, em Edimburgo. Os críticos do projeto continuam contrários a ele, mas nada disso incomoda Trump.
“Essa é provavelmente a propriedade mais ímpar do mundo para o que estamos fazendo”, declarou ele por telefone. E acrescentou: “Acabo de vender uma casa por US$ 100 milhões em Palm Beach, mas não quero ficar me gabando.”
As pessoas de Balmedie não sabem bem como agir com relação a Trump, que costuma chegar ao local em seu jato particular, emitir uma série de declarações a respeito da superioridade dos seus planos e ir embora.
Elas não sabem se ele entende a Escócia, por exemplo. “Sou todo a favor do desenvolvimento e de as pessoas construírem resorts de golfe”, disse o morador Bill Grant, 54, no centro de Aberdeen. “Mas ele está fazendo no lugar errado.”
Grant explicou que as dunas tendem a sofrer com o notório “haar”, a espessa bruma que vem do mar. “Não dá para ver a sua mão na frente do rosto”, disse Grant. “Se você estivesse jogando golfe, ia precisar de um dispositivo de localização para achar a bola.”
Quanto a Forbes, ele pintou um grande slogan anti-Trump ao lado do seu celeiro. Também devolveu, fechada, a última carta que recebeu das Organizações Trump. “Acho que eu vou incomodá-los mais do que eles a mim”, afirmou.


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