São Paulo, segunda-feira, 18 de maio de 2009

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Arte & Estilo

Teoria junguiana ajuda no preparo de atores

Por SARAH KERSHAW

Enquanto se preparava para o papel de Addison Montgomery Shepherd, ou a infame doutora McDreamy, como é conhecida pelos fãs do seriado de TV “Grey’s Anatomy” (transmitido no Brasil pelo canal Sony), Kate Walsh foi procurar inspiração nas profundezas de sua vida onírica. Utilizando uma técnica cada vez mais popular, influenciada pela psicologia junguiana, em que os atores estudam e representam os personagens em seus sonhos, Walsh foi atrás de pistas para compreender seu personagem em seu próprio inconsciente.
Nos últimos dez anos, o trabalho com sonhos, como a técnica é conhecida, vem tomando seu lugar entre as técnicas cada vez mais numerosas usadas no treinamento de atores e na discussão prolongada sobre o que conduz às performances mais autênticas.
O trabalho com sonhos surgiu a partir da técnica de representação conhecida como “Method”, ou método, e hoje é ensinado no “lar” do Method em Nova York, o Actors Studio, e por vários professores em Los Angeles e outros lugares.
Os professores dizem que pelo menos mil atores já passaram pelo treinamento e que vem aumentando o interesse pela técnica, inspirada nas teorias de Carl Jung. Este acreditava que sonhos são a expressão do inconsciente e que os símbolos e imagens presentes neles comunicam informações cruciais à mente consciente.
O trabalho com sonhos é empregado por atores como Kate Walsh, Meg Ryan e Harvey Keitel, que disseram em entrevistas que ele é essencial no preparo para seus papéis. “Os atores estão sempre à procura de maneiras de se aproximarem da psicologia, da vida e da experiência dos personagens que estão criando”, disse Keitel.
Os atores parecem sentir-se atraídos pela obra de Jung, que certa vez escreveu: “O sonho é um teatro no qual o próprio sonhador é a cena, o ator, o ponto, o autor, o produtor, o público e o crítico”.
As teorias de Jung começaram a ser adaptadas para o treinamento de atores no início dos anos 1980 pela atriz e professora de teatro Sandra Seacat, que mais tarde trabalhou com Meg Ryan, Harvey Keitel e muitos outros.
Estrela de “Sintonia de Amor” e “Harry e Sally – Feitos Um Para o Outro”, Meg Ryan disse que já se interessava por Jung havia muito tempo e que há anos vem incorporando o trabalho com sonhos em sua carreira.
Os professores de representação usam o trabalho com sonhos para ensinar seus alunos a usar sonhos para fazer a conexão entre suas dificuldades pessoais e as dos personagens que representam. Uma atriz que se prepara para representar Blanche DuBois em “Um Bonde Chamado Desejo”, por exemplo, pode escrever uma carta a si mesma, pedindo a seu “próprio interior” que lhe revele em um sonho de que maneira suas experiências talvez sejam semelhantes às da atormentada Blanche.
O trabalho com sonhos também suscita ceticismo. Robert Brustein, diretor-fundador dos teatros de Yale e do Repertório Americano, disse que é um exemplo de treinamento no qual focar a psique e as emoções do ator pode converter personagens escritos nas pessoas que os estão representando, em lugar de o inverso.
“Blanche DuBois é uma personagem plena criada por Tennessee Williams”, disse Brustein. “Não é necessária a vida onírica de uma atriz para que ela seja representada. Ela tem sua própria vida onírica.”


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