São Paulo, segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

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TEMAS EM DEBATE

Fim do combustível fóssil é meta de Chu

Por KENNETH CHANG e ANDREW C. REVKIN

EMERYVILLE, Califórnia - Steven Chu, escolhido pelo presidente eleito Barack Obama como secretário de Energia, reconhece que a poluição emitida por carros, usinas elétricas e indústrias é uma causa direta do aquecimento global e tem defendido ações urgentes para reduzir as emissões.
Diretor do Laboratório Nacional Lawrence Berkeley, na Califórnia, ele fez poucas declarações públicas sobre seus planos para o departamento. Mas suas ações na direção do Lawrence Berkeley, incluindo a criação do Instituto Conjunto Bioenergia (JBEI), oferecem pistas de como ele pode atrelar os outros 17 laboratórios nacionais dos EUA -ou, pelo menos, os que não se dedicam a pesquisas com armas nucleares- para tratar de questões climáticas e energéticas.
Chu já disse em várias ocasiões que o livre mercado não será suficiente para efetuar as mudanças necessárias no uso da energia, e Obama chamou a atenção para seus esforços com combustíveis renováveis quando anunciou a seleção de seu nome. Chu tem boas credenciais científicas -dividiu o Nobel de Física em 1997 por seu trabalho usando lasers para resfriar átomos a temperaturas abaixo de zero- e experiência administrativa. O laboratório Lawrence Berkeley tem 4.000 funcionários e orçamento de US$ 650 milhões.
O JBEI, cuja missão é usar a chamada biologia sintética para converter celulose de plantas em combustível, mudou para suas instalações em Emeryville em maio do ano passado. O instituto tem a aparência e o ambiente de uma empresa recém-criada, e não de um laboratório federal de pesquisas. Mas é financiado pelo Departamento de Energia, com verba de US$ 135 milhões para cinco anos.
O JBEI é uma de várias investidas do laboratório na área dos combustíveis alternativos, na qual o laboratório praticamente não fizera pesquisas antes de Chu tornar-se seu diretor, em 2004.
Diferentemente da maioria dos laboratórios federais, cujos orçamentos ficaram estagnados ou foram reduzidos nos últimos quatro anos, a verba do Lawrence Berkeley subiu 20% nesse período.
Tradicionalmente, os pesquisadores do laboratório exploravam várias ciências básicas, como física, química e biologia. Desde os anos 1970, o laboratório tem uma divisão que trabalha com pesquisas em conservação de energia -desenvolvendo padrões de consumo energético de eletrodomésticos, por exemplo. Mas a maioria de seus cientistas trabalhava sobre seus interesses específicos.
Chu decidiu que o laboratório deveria fazer um esforço mais conjunto sobre a energia, que ele via como uma das questões mais urgentes do século 21. Ele recrutou cientistas e aproveitou o prestígio obtido com o Nobel para chamar a atenção à necessidade de substituição dos combustíveis fósseis.
"Ele chegou com essa visão, e acho que isso realmente mudou as direções de suas pesquisas de forma positiva", comentou o vice-diretor do laboratório, A. Paul Alivisatos. Steven Chu também vem manifestando disposição para mudar os modos de trabalho tradicionais dos laboratórios nacionais. Um segundo centro de pesquisas com biocombustíveis criado sob sua orientação é financiado por US$ 500 milhões da petrolífera BP, colaboração de magnitude inusitada para um laboratório nacional.
Em meados de 2005, cerca de nove meses depois de tornar-se diretor do Lawrence Berkeley, Chu reuniu-se com Jay Keasling, diretor da divisão de biociências físicas do laboratório, e Alivisatos, então chefe da divisão de ciências materiais. "Ele falou: 'Quero trabalhar com energia, com combustíveis usados nos transportes'", recordou Keasling, hoje também executivo-chefe do JBEI.
Na batalha para reduzir as emissões de dióxido de carbono, carros, caminhões e aviões representam um problema difícil porque a maioria das fontes alternativas de energia -nuclear, eólica, solar- não funciona na escala pequena necessária para os transportes, e a tecnologia de baterias ainda precisa de avanços adicionais. Os biocombustíveis, fermentados e destilados a partir de plantas, podem oferecer uma solução. Embora sua queima ainda emita dióxido de carbono, é o mesmo dióxido de carbono que as plantas tinham sugado do ar.
Mas o plantio para a produção de combustível compete com o cultivo de alimentos. E o álcool de milho, o biocombustível em uso hoje nos EUA, requer energia considerável para ser produzido, o que reduz quaisquer benefícios ecológicos.
Chu espera encontrar (ou produzir por bioengenharia) plantas melhores para a produção de biocombustíveis e desenvolver processos de quebra e conversão da celulose em combustível, a custos que possam competir com a gasolina.


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