São Paulo, segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

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Parlamentares negros enfrentam situação inédita


Alguns congressistas temem que sua influência diminua

Por DAVID M. HERZENHORN

WASHINGTON - Há 40 anos, o Caucus Parlamentar Negro é o centro do poder negro em Washington, o grupo ao qual recorrer para cortejar a população afro-descendente e seus políticos. Mas com a posse de Obama, que transfere poder real e simbólico para a Casa Branca, os membros desse caucus (agrupamento parlamentar) se deparam com uma realidade perturbadora: o novo presidente pode promover sua pauta, mas também pode reduzir sua influência.
Alguns integrantes do caucus estão atualmente entre os políticos mais influentes da Câmara, caso do deputado James Clyburn, da Carolina do Sul, líder da maioria democrata, e dos presidentes de três comissões importantes.
O Caucus Negro atravessa uma crise de identidade. Nas últimas semanas, seus líderes tiveram de sair em defesa da própria existência do grupo, composto por 41 deputados democratas. O bloco também enfrenta uma complicada mudança geracional, já que a velha-guarda da luta pelos direitos civis, na década de 1960, começa a passar o bastão a políticos negros mais jovens, que não querem ser confinados às questões raciais.
Alguns militantes do movimento negro consideram que, ao escolher vários negros para o primeiro escalão -como Eric Holder para a pasta da Justiça, Susan Rice como embaixadora na ONU e Valerie Jarrett como assessora especial-, Obama deve fazer com que o novo governo suplante o caucus nas questões raciais, ou pelo menos que ofereça novas alternativas de poder.
"Ninguém está confiante em como se mover na presença de um presidente negro", disse Glen Ford, editor-executivo da publicação eletrônica "Black Agenda Report". "Isso nunca aconteceu antes. Como se organizar quando o irmão está na Casa Branca?"
Como único senador negro, Obama foi membro do caucus, mas só ocasionalmente comparecia às reuniões. Sua idade e sua posição política relativamente moderada o colocavam à direita nesse grupo fortemente esquerdista. Os integrantes do caucus claramente se regozijaram com a eleição de Obama. Mas muitos deles inicialmente apoiaram a candidatura de Hillary Clinton.
O caucus divergiu de Obama a respeito da nomeação do negro Roland Burris para a vaga deixada pelo presidente eleito no Senado. Alguns integrantes pressionaram os líderes democratas a darem posse a Burris, que foi indicado pelo governador de Illinois, Rod Blagojevich, que sofreu impeachment. Obama foi contra a indicação.
A próxima presidente do caucus, a deputada Barbara Lee, da Califórnia, já deixou claro que os parlamentares negros não vão ficar na dependência de Obama para promover causas que lhes são caras.
"Certamente Obama é um membro do Caucus Parlamentar Negro, mas acho que é importante reconhecer que ele é o presidente do país", disse ela.
Alguns parlamentares negros influentes dizem esperar que o caucus lembre Obama de suas raízes. "Barack Obama precisa ouvir a nosso respeito", disse Clyburn. "E precisamos ser uma caixa de ressonância para ele."
Assessores de Obama dizem que o foco dele na economia é um exemplo de como sua agenda está em harmonia com a do caucus, já que o desemprego é mais elevado entre os negros. Mas os céticos dizem que combater os problemas econômicos gerais não é a mesma coisa que resolver as razões subjacentes para o maior desemprego entre os negros. Alguns democratas negros previram que o caucus terá mais musculatura do que nunca com Obama na Casa Branca e se animaram com a perspectiva de um presidente que entenda suas lutas.
O deputado Charles Rangel, de Nova York, membro-fundador do caucus, disse: "Como afro-descendentes, passamos metade do nosso tempo tentando explicar às pessoas por que precisamos de ajuda e [falando sobre] o estigma da escravidão, o preconceito e a discriminação".
"Se existe um presidente que sabe disso tudo, aí podemos ir logo ao ponto", acrescentou Rangel. "Não vamos receber tratamento preferencial por ele ser negro, mas ele saberá quem somos, o que é a luta e por que nossa agenda legislativa está aí."


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