São Paulo, segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

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O NOVO VISUAL

Michelle socorre a moda dos EUA

Por GUY TREBAY

À lista de males globais que se espera que o governo Obama corrija se pode acrescentar o atoleiro em que se afundou a moda americana. É verdade que esse problema terá que aguardar no fim da fila, depois da hemorragia econômica e dos conflitos em Gaza, Afeganistão, Irã, Iraque e Paquistão. Também é verdade que essa questão dificilmente será uma das preocupações do próprio presidente.
Mas o âmbito da responsabilidade na política se estende aos familiares de Barack Obama. E isso inclui a primeira-dama, que ao longo da campanha demonstrou não apenas uma compreensão do poder das roupas em transmitir uma mensagem, como uma disposição em ajustar essa mensagem conforme a necessidade do momento.
Michelle Obama não esteve sozinha nesse ponto: Cindy McCain modificou sua imagem ao longo da campanha, abrandando sua aparência para parecer mais popular.
Mas Michelle fez algo mais ousado -e até inesperado- durante a campanha. Ela assinalou um interesse tanto em parecer elegante como em promover a causa da moda americana e daqueles que a criam e produzem. Ela usou roupas da J. Crew e, às vezes causando controvérsia, criações de queridinhos da moda como Isabel Toledo, Thakoon Panichgul e Narciso Rodriguez. Levou à campanha uma abordagem sofisticada, misturando peças caras com outras de preços acessíveis, além de uma determinação em adaptar o trabalho de estilistas para seu próprio gosto -acrescentando joias ou moletons, usando vestidos formais com sapatos sem salto ou até mesmo alterando detalhes de vestidos-, além de uma convicção evidente de que é a mulher quem deve vestir as roupas, e não vice-versa.
Por mais insignificante que isso possa parecer dentro do âmbito maior das coisas, não é um detalhe menor quando se considera o estado lastimável em que a moda americana se encontra nos últimos tempos, com lojas de redes e de departamentos fechando suas portas, a confiança dos consumidores no nível mais baixo em décadas e muitos fabricantes esforçando-se para não afundar.
Hamish Bowles, editor da "Vogue" e curador de uma exposição de 2001 sobre o estilo de Jacqueline Kennedy no Metropolitan Museum of Art, em Nova York, disse, falando de Michelle, que "ela já exerceu efeito extremamente potente" sobre o setor da moda.
"Basta olhar os estilistas que a atraem para perceber que ela tem uma avaliação aguçada em termos de moda", disse Bowles.
Seu apreço por estilistas americanos não passou despercebido pelos varejistas prejudicados nos últimos anos pelo enfraquecimento do poder de compra do dólar na Europa, origem da maior parte da moda de estilistas, e pela aparente decisão dos consumidores dos EUA de aguardar o fim da recessão para renovar seus guarda-roupas.
"É certo, neste momento, dar destaque à moda e aos estilistas americanos", comentou Stephanie Solomon, diretora de moda da Bloomingdale's, embora esse "certo" possa ser em grande medida ligado à etiqueta de US$ 5.000 que costuma estar afixado a um vestido importado da grife Lanvin.
"Para começo de conversa, Michelle Obama é muito elegante e tem ótimo gosto", disse Solomon. "Mas ela também reconhece o valor de vestidos lindos e de preços módicos. Ela se veste de um modo que indica que o gosto não está necessariamente ligado às grifes ou ao status, mas com o que fica bem em seu corpo e faz você ficar glamurosa. E ponto final." E isso, acrescentou, "é muito novo e apropriado para o período atual".
Steven Kolb, diretor-executivo do Conselho de Estilistas de Moda dos EUA, disse que a moda americana, assim como os bancos e a indústria automotiva do país, se encontra "numa encruzilhada", precisando urgentemente de algum tipo de incentivo. Quer ela goste disso, quer não, espera-se tradicionalmente da primeira-dama que ela aproveite sua posição para ajudar a promover produtos americanos.
"Ela tem uns 25 anos menos que as últimas primeiras-damas, e sua idade a abre para uma abordagem mais jovem", disse a estilista Anna Sui. "Adorei sua escolha de Narciso", acrescentou, referindo-se ao vestido do estilista Narciso Rodriguez que Michelle usou na noite da eleição, numa versão que adaptou do original mostrado na passarela e customizou com o acréscimo de um cardigã.
"Ela pode potencialmente fazer o que fez Jackie Kennedy, conferindo uma nova consciência e perspectiva, simplesmente por não ser tão intencionalmente 'primeira-dama' e por misturar artigos de estilistas com outros de prêt-à-porter", disse Sui. "Ela pode dar um incentivo grande à indústria da moda americana -e estamos precisando de toda a ajuda possível."


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