São Paulo, segunda-feira, 19 de outubro de 2009

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DINHEIRO & NEGÓCIOS

Grupos de aquisições lucram mesmo quando empresas sofrem


“Muitas pessoas foram prejudicadas por pensar que esta fosse uma grande companhia onde trabalhar. Elas pretendiam passar o resto de suas vidas aqui”

NOBLE ROGERS
Demitido da Simmons Bedding após 22 anos na empresa



Por JULIE CRESWELL

Durante a maior parte dos 133 anos desde sua fundação, em uma cidadezinha de Wisconsin, a Simmons Bedding Company gozou de uma história ilustre. Seus presidentes dormiram a bordo do Air Force One, seus anúncios figuravam Henry Ford e H. G. Wells, e a ex-primeira-dama americana Eleanor Roosevelt elogiou as virtudes do colchão Simmons Beautyrest.
Sua história recente também foi notável, mas por outro motivo.
A Simmons diz que em breve vai pedir concordata, como parte de um acordo de seus atuais proprietários para vender a empresa. É a sétima vez que ela é vendida em pouco mais de 20 anos —após ser propriedade, durante curtos períodos, de uma série de grupos de investimentos conhecidos como “private equity”, que compram companhias desvalorizadas em geral com dinheiro emprestado.
Para muitos dos investidores da empresa, a venda será um desastre. Seus acionistas deverão perder mais de US$ 575 milhões. A queda da companhia também devastou funcionários como Noble Rogers, que trabalhou durante 22 anos na Simmons, a maior parte do tempo em uma fábrica perto de Atlanta. Ele é um dos mil empregados —mais de 25% da força de trabalho— demitidos no ano passado.
Mas a Thomas H. Lee Partners (THL), de Boston, não apenas escapou ilesa como teve lucro. A firma de investimentos comprou a Simmons em 2003 e recebeu centenas de milhões de dólares da companhia em dividendos especiais. Também se pagou outros milhões em honorários, primeiro por comprar a empresa e depois por ajudar a dirigi-la.
Os bancos de investimentos de Wall Street também lucraram. Receberam milhões por ajudar a cuidar das aquisições e por vender os títulos que possibilitaram esses negócios. Ao todo, os vários proprietários de capital privado ganharam cerca de US$ 750 milhões em lucros da Simmons ao longo dos anos.
Como tantas pessoas puderam ganhar tanto dinheiro com uma empresa que foi levada à falência é uma história destes tempos financeiros e o exemplo de um fenômeno crescente nos EUA corporativos.
“Pela minha experiência, nenhuma das firmas de ‘private equity’ estava construindo uma marca para o futuro”, disse Robert Hellyer, ex-presidente da Simmons, que trabalhou para vários dos compradores de capital privado antes de ser convidado a deixar a empresa em 2005.
A cada passo do caminho os compradores colocavam a Simmons em dívidas mais profundas. Os financistas emprestavam cada vez mais dinheiro para pagar preços cada vez mais altos pela empresa, permitindo que cada proprietário anterior lucrasse bastante na venda.
Mas a carga afundou uma companhia saudável. Hoje a Simmons deve US$ 1,3 bilhão, comparados com US$ 164 milhões em 1991.
Investidores privados puderam comprar companhias como a Simmons com dinheiro emprestado e aplicar relativamente pouco de seu próprio capital. Em seguida, muitas vezes emprestavam ainda mais dinheiro usando os ativos da companhia como garantia. Para os financistas, as recompensas foram enormes.
Depois de comprar a Simmons, a THL emprestou mais. Usou US$ 375 milhões para pagar um dividendo, assim recuperando todo o dinheiro que investiu. Resultado: a THL se garantiu um lucro, independentemente do desempenho da Simmons. Não importa que a empresa tenha sido deixada devendo muito mais do que valia. Os investidores que compraram essa dívida estão recebendo virtualmente nada no novo acordo.
Rogers trabalhou na Simmons durante 22 anos, a maior parte do tempo em uma fábrica em Mableton, perto de Atlanta. Ao longo dos anos, enquanto a Simmons passava de uma firma de “private equity” para outra, ele via poucas mudanças no chão de fábrica.
Depois, em 2008, quando a desaceleração econômica começou a prejudicar as vendas, a Simmons demitiu todo o plantão noturno da fábrica de Mableton. E, em 18 de setembro daquele ano, reuniu os empregados para dizer que a fábrica ia fechar.
“Tantas pessoas foram prejudicadas porque pensavam que esta fosse uma ótima empresa para se trabalhar e pretendiam passar o resto de suas vidas aqui. Elas compraram casas e carros aqui”, lembrou Rogers.
A Simmons é uma de centenas de empresas engolidas por firmas de investimento em capital privado na primeira parte desta década, durante o maior surto de aquisições corporativas que o mundo já viu.
Um número desproporcional de empresas que foram adquiridas durante esse frenesi hoje enfrenta dívidas enormes. Mais da metade das cerca de 220 companhias que de alguma forma ficaram inadimplentes neste ano nos EUA foi propriedade em algum momento ou ainda é controlada por firmas de capital privado, segundo analistas da Standard & Poor’s.
Executivos da THL alegam que a Simmons foi vítima de tempos econômicos difíceis, e não de má administração ou excesso de dívida.
Os problemas da Simmons, disse Scott A. Schoen, copresidente da THL que fazia parte do conselho da Simmons, são totalmente causados pela recessão “sem precedentes e imprevisível” que abalou toda a indústria de colchões.
A Simmons espera sair da falência pelas mãos de duas novas firmas de “private equity”. Uma é a Ares Management, dona da gigante dos colchões Serta.
“A Simmons fez muita gente ganhar muito dinheiro”, disse David Perry, editor-executivo da revista “Furniture Today”. “Mas há uma indagação crescente na indústria sobre quantas vezes mais isso pode se repetir. Quanto suco ainda é possível espremer dessa laranja?”


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