São Paulo, segunda-feira, 19 de outubro de 2009

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Glamour nas bancas almeja a elite africana

Por ROBB YOUNG

A África subsaariana não evoca a imagem de uma mulher com unhas perfeitamente cuidadas folheando revistas de luxo em busca da última bolsa ou dos cortes de cabelo das celebridades. Mas essas mulheres existem, e em número muito maior do que pode sugerir a imagem da África pintada na mídia noticiosa.
Nos bairros ricos de cidades como Lagos, na Nigéria; Nairóbi, no Quênia; Luanda, em Angola; e Dacar, no Senegal, senhoras abastadas, empresários de sucesso ou donas de casa de renda média formam um grupo demográfico interessante, que no passado dependia das revistas de moda internacionais para se informar sobre estilo e beleza.
Mas, nos últimos anos, enquanto editoras americanas se expandiram para a Ásia, a Europa oriental e o Oriente Médio, um punhado de editoras africanas tratou de ocupar seu território editorial. Em consequência, surgiu uma série de novos títulos como “Arise”, “HauTe”, “Helm” e “True Love”, que dão uma visão africana da moda.
“Francamente, as leitoras africanas da camada mais rica e com mobilidade estão pedindo esse tipo de revista”, disse Helen Jennings, editora da “Arise”, publicação mensal de estilo lançada no final de 2008 pelo magnata da mídia nigeriana Nduka Obaigbena, também dono do principal jornal do país, “ThisDay”.
“Como as revistas locais não são tão requintadas ou progressistas, e nenhum outro título internacional fala diretamente ao público africano, a ‘Arise’ causou comoção.”
Entre as revistas na África de língua inglesa, somente a ‘Arise’ inclui conteúdo pan-africano e global —uma mistura que Jennings chama de “afropolitana”.
Com uma circulação declarada de cerca de 60 mil e 140 páginas por mês em média, a revista é distribuída em sete outros países africanos e na Europa e América do Norte. Em seus editoriais de moda, em que não se poupam recursos, roupas de estilistas africanos aparecem ao lado de marcas globais como Yves Saint Laurent, Loewe e Ralph Lauren, usando famosas modelos negras internacionais como Oluchi Onweagba e Rahma Mohamed.
Entrevistas com celebridades negras, como os cantores e compositores Akon e V.V. Brown, atraem os anunciantes globais. Tommy Hilfiger, Juicy Couture, Graff, L’Oréal e Lacoste estão representados nas páginas da revista. E seu prestígio ajudou a atrair anúncios de marcas de moda baseadas em Nigéria, Gana e Tanzânia.
Mas em “Arise” o glamour e a celebridade são temperados por um olhar para o underground e um apreço pela reportagem irreverente. Uma edição recente incluiu uma narrativa apimentada sobre as WAGs (sigla britânica para as mulheres e namoradas de jogadores de futebol) africanas, que apareceu juntamente com artigos sobre skatistas de Uganda, um prodígio da multimídia da Costa do Marfim e a subcultura dos motoqueiros vestidos de couro que surgiu na África do Sul pós-apartheid.
O setor editorial africano progrediu nas últimas décadas, mas persistem obstáculos para o sucesso, como o isolamento de parceiros comerciais importantes e a rede de distribuição subdesenvolvida.
Enquanto o apoio de um financista pode ser suficiente para lançar uma revista, vários fatores, incluindo o tamanho do mercado, a alfabetização e a riqueza, são necessários para sustentá-la. A maioria das estatísticas da África subsaariana nessas categorias é pobre, mas às vezes não revela o verdadeiro potencial.
O índice de alfabetização é baixo em muitos países subsaarianos, mas partes da população com renda suficiente para comprar revistas têm índices de alfabetização muito melhores que as médias nacionais. O índice da Nigéria é superior a 70%, e o do Quênia fica acima de 80%; ambos se tornaram centros editoriais regionais.
“Na maioria dos países da África subsaariana, somente 5% a 10% da população estão no topo da pirâmide de renda”, disse Sakina Balde, analista da firma de pesquisas de mercado Euromonitor International. “Embora isso possa parecer insignificante, nos países de grande população como a Nigéria, por exemplo, representa um grande número de indivíduos.”


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