São Paulo, segunda-feira, 20 de abril de 2009

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Cartas ao International Weekly

Pobreza e extremismo
(“Raízes do Extremismo”, coluna Inteligência, de Ori Brafman, 23 de março)
Queria cumprimentar pelo artigo que li no suplemento do “New York Times” em “The Observer” (de Londres). Vocês escreveram tão bem o que estou tentando dizer a minha família, meus amigos e todos ao meu redor. A pobreza é a origem de muitos dos problemas de nossa sociedade hoje. Estou convencido de que se conseguirmos atacá-la veremos sérias melhoras em uma ampla variedade de problemas e desafios que o mundo enfrenta hoje. Aprendi que sua tese é uma realidade quando conversei com uma pessoa que trabalhou na África em projetos de conscientização sobre Aids. Ele me disse (em tom duro e quase sem emoção) que se as garotas não fossem tão pobres não venderiam seus corpos nem fariam sexo sem proteção.
Isso me fez pensar que eu mesmo poderia contribuir. Por exemplo: acabo de começar um ‘Facebook Cause’ para despertar a consciência sobre uma forma de arte chamada Tingatinga, estilo de pintura popular da Tanzânia, onde pintores se uniram para formar a Sociedade Cooperativa de Artes. Esse é um exemplo fantástico de como as pessoas podem fazer uma diferença trabalhando juntas e desenvolvendo a cultura e a identidade locais. Elas efetivamente se libertaram e a suas famílias da pobreza que as esperava. Um dia espero ser capaz de montar um projeto para ajudá-las, porque elas precisam de treinamento em certas áreas e de mais reconhecimento internacional.
Stef Van den Heuvel
Londres, Reino Unido

Estados laicos
(“Um Estado moral não requer religião”, coluna Lente, 16 de março)
O Estado não precisa de religião, mas de normas constitucionais que não discriminem nenhum cidadão por sua conduta privada nem por suas crenças. Em uma república com cidadãos educados em uma autodisciplina que os habilite a respeitar as leis —e não por medo do castigo— e no uso de uma liberdade responsável que as convide a trabalhar para seus desejos —sem prejudicar a terceiros indevidamente— não há necessidade de polícia nem de religião para guiar a conduta pública. A fragilidade humana é uma constante. O problema real para uma boa república é que o povo saiba votar, escolhendo entre várias propostas.
Hugo F. Campanelli
Universidade Nacional de La Plata, Argentina

No México, um equilíbrio delicado
(“EUA abastecem cartéis do México com armas”, Tendências Mundiais, 9 de março)
Seria preciso perguntar de que lado vocês estão nesse debate sobre o estado de direito no México. Um Estado pode sobreviver somente caso se façam cumprir os contratos sociais estabelecidos. Não fazê-lo seria como dizer que Elliot Ness errou ao lutar contra o crime organizado nos EUA.
Em meu país se fez piada da viagem à lua, dizendo que a primeira coisa que os astronautas encontraram ao pousar foi um menino que lhes disse: “Posso tomar conta da nave?” Esse tipo de chantagem encerra uma degeneração paulatina da moral e da ética cidadãs.
Se optarmos por manter o chamado “equilíbrio”, cairemos continuamente na armadilha de aceitar as pressões, venham de onde vierem. Já vimos o mesmo processo no bloqueio dos EUA a Cuba: “Ou pensam como eu ou os destruo”. Cuba não morreu de fome porque houve países que comercializaram com ela. Inclusive houve americanos que, por meio de terceiros, fizeram o mesmo.
No caso de um Estado constituído que luta para erradicar os males que o afligem, não se pode contemporizar com os que levantam a bandeira de inimigos do sistema. O sistema está, ou deveria estar, em posição de dialogar, de reformar leis ou fazer emendas aos contratos sociais que vão perdendo a atualidade. Esse é um processo normal dentro da democracia, já que nem homens nem Estados têm garantia de permanência dentro de um quadro estabelecido sob circunstâncias cambiantes. Reagir com fragilidade diante das pressões, sob o pretexto de manter um status quo não me parece o melhor, dentro da lógica humana que pede constantemente para abandonar as atitudes trogloditas.
Rodolfo Letona
San Francisco Zapotitlàn, Guatemala



Cartas de leitores de todo o mundo são ocasionalmente publicadas no suplemento do “New York Times”. Leitores da Folha podem enviar comentários a nytweekly@nytimes.com


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