São Paulo, segunda-feira, 20 de setembro de 2010

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Classe empresarial surge das cinzas do sistema de castas

Por LYDIA POLGREEN

CHENNAI, Índia - Chezi K. Ganesan divide seu tempo entre San Jose, Califórnia, e esta pujante metrópole costeira da Índia, dirigindo sua firma de fabricação de chips de computador que fatura US$ 6 milhões por ano.
Sua família percorreu um longo caminho. Seu avô não tinha permissão para ficar muito perto de pessoas das castas superiores, e as mulheres de sua casta, a nadar, antigamente eram obrigadas a mostrar os seios diante de homens de casta superior como lembrete de sua baixa posição.
"A casta não tem impacto na vida atual", disse Ganesan em um dos clubes sociais exclusivos de Chennai. "Não é mais uma barreira."
A espetacular ascensão dos nadar, de trabalhadores braçais desprezados para líderes empresariais, em um dos Estados mais prósperos da Índia dá pistas significativas sobre o dilema das castas na Índia e como ele impediu o progresso econômico em muitas áreas do país.
A Índia desfruta um boom econômico, com crescimento de quase dois dígitos. Mas o sul do país disparou à frente da maior parte do restante em virtualmente todos os sentidos -as pessoas aqui ganham mais, têm melhor instrução, vivem mais e têm menos filhos.
Um fator crucial é o colapso do sistema de castas ao longo do último meio século, um fator que reforça muitos outros motivos pelos quais o sul prosperou -governos mais estáveis, melhor infraestrutura e uma posição geográfica que lhe oferece ligações mais estreitas com a economia global.
"A ruptura da hierarquia de castas eliminou as ligações tradicionais entre casta e profissão e liberou enormes energias empresariais no sul", disse Ashutosh Varshney, professor na Universidade Brown em Providence, Rhode Island (EUA), que estudou o papel das castas no desenvolvimento do sul da Índia.
A Constituição indiana aboliu as castas, a hierarquia social que ordenou a vida na Índia durante milênios, e instituiu um sistema de cotas para ajudar os de baixo a ascender. Mas as divisões de castas persistem assim mesmo, com as superiores dominando muitas esferas da vida.
Enquanto no sul os membros das castas inferiores se concentraram no desenvolvimento econômico e na educação como rota para a prosperidade, no norte o objetivo dos grupos baseados em castas foi o poder político e seus despojos.
A casta é tão crucial para a política no norte que os partidos baseados nelas pressionaram o governo para incluí-las no censo da Índia pela primeira vez desde a independência. Eles esperam que, ao mostrar seu grande número, os partidos baseados em castas consigam obrigar o governo a reservar mais cargos para suas comunidades.
Os nadar do Estado de Tamil Nadu pertencem a uma comunidade do sistema de castas indiano, ocupando um lugar pouco acima dos intocáveis, hoje chamados dalit. Os acadêmicos e analistas observaram a ascensão da casta nadar em busca de pistas sobre o papel das barreiras de castas para impedir o progresso econômico na Índia.
Ao contrário do norte do país, onde os movimentos políticos baseados em castas são um fenômeno razoavelmente recente, as castas inferiores no sul do país começaram a se agitar contra o domínio das superiores no início do século 20.
Como esses movimentos surgiram antes da independência e da possibilidade de eleger um poder político, eles se concentraram em questões como dignidade, educação e autoconfiança, disse Varshney.
Os nadar criaram associações empresariais para fornecer a seus membros crédito que não poderiam obter dos bancos. Fundaram instituições de caridade para pagar a educação de crianças pobres. Construíram templos e salões de casamentos para evitar a discriminação das castas superiores.
Em consequência, quando veio a independência, as castas inferiores do sul, que já tinham rompido o monopólio das superiores no poder econômico, desfrutaram de poder político quase desde o início. Tamil Nadu conseguiu 69% dos cargos públicos e lugares na educação superior para as castas oprimidas, o que ajudou a rapidamente colocar pessoas das castas inferiores na corrente dominante.
Quando a economia da Índia se liberalizou na década de 1990, o sul estava mais preparado para aproveitar a globalização, disse Samuel Paul, do Centro de Assuntos Públicos, instituição de pesquisa que examinou de perto a crescente divisão entre norte e sul do país. "O sul estava pronto", disse Paul.
Empresários nadar como C. Manickavel surfaram com habilidade as ondas da prosperidade que se quebraram sobre a Índia desde a liberalização. O pai de Manickavel criou uma pequena empresa gráfica em Chennai, que no auge ganhava US$ 40 mil por ano. Depois de frequentar uma das melhores escolas de engenharia da Índia, Manickavel transformou a empresa em uma operação que fatura US$ 1 milhão por ano e cria livros eletrônicos para editoras americanas.
"Supostamente somos uma comunidade atrasada, mas não acreditamos nisso", disse. "Somos tão bons quanto quaisquer outros."


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