São Paulo, segunda-feira, 20 de setembro de 2010

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Próxima geração de estilistas desenha para o mundo

NOVA YORK - Uma nova geração de estilistas jovens e ligados à internet, em Nova York, tem o potencial de transformar a moda, atuando em uma cidade que nem sempre foi tão hospitaleira com estilistas de talento.
Formando um grupo impressionante, eles apresentaram suas coleções de primavera na Semana de Moda de Nova York, entre 9 e 16 de setembro. O "New York Times" convidou seis dos mais promissores para uma mesa-redonda.
Joseph Altuzarra começou a criar sua coleção afinada para mulheres depois de trabalhar para a Givenchy, em Paris. Sophie Theallet, que também já trabalhou em Paris, é a recente ganhadora de uma subvenção do Conselho de Estilistas de Moda dos EUA e da revista "Vogue". Alexa Adams e Flora Gill, da Ohne Titel, trabalharam para Karl Lagerfeld -Gill estava viajando e não pôde participar do debate. Wayne Lee, cuja grife é a Wayne, começou como compradora da Barneys.
Max Osterweis, da Suno, montou uma coleção que destaca os têxteis do Quênia e ajudou a revigorar a indústria de roupas desse país. Patrick Ervell começou a criar roupas masculinas após trabalhar para revistas como a "V'. Segue o bate-papo, editado para efeitos de clareza e espaço.

PERGUNTA - Vocês sentem que está ocorrendo uma mudança na moda?
ADAMS - A única coisa que posso citar é a globalização da moda, que acho realmente espantosa. Antigamente havia uma ideia de uma moda americana, uma moda francesa ou uma moda europeia, ou, talvez, uma moda asiática ou uma moda japonesa. Hoje em dia não é mais assim.
ALTUZARRA - Há um senso inegável de comunidade aqui, algo que é muito diferente de um lugar como Paris ou Milão. Acho que isso está mais presente em Londres, mas a ideia de que você pode fazer sucesso como estilista jovem é algo muito importante na indústria em Nova York. Acho também que, quando você olha para Paris ou Milão, simplesmente há tantas maisons realmente imensas, enormes. É muito mais difícil penetrar nesses mercados.
THEALLET - Em Nova York, é possível fazer alguma coisa, porque as pessoas se dispõem a descobrir coisas sobre você, elas lhe dão essa oportunidade, e acho isso fantástico. Isso é algo que você não encontra em Paris, com certeza, porque lá é mais fechado. Aqui tudo é mais aberto. Todos os estilistas se conhecem, a gente faz coisas juntos.

PERGUNTA - Como vocês todos lidam com a velocidade da exposição, que é fruto do frenesi da mídia?
OSTERWEIS - A gente recebeu muita atenção antes mesmo de termos um único artigo em uma loja. A revista "Time" foi ao Quênia para passar uma semana conosco lá, dois ou três meses antes de termos qualquer coisa nas lojas.
ALTUZARRA - Acho que é possível controlar a exposição. Ou seja, você não é obrigado a dizer "sim" a tudo. Você pode escolher, selecionar e decidir como quer crescer. É claro que a parte da internet é um pouco mais difícil de controlar.
ADAMS - Para todos nós, que somos novos, é uma oportunidade enorme, na realidade. É quase como, não uma democratização da moda, mas como algo em que existe essa atenção da mídia em busca de coisas novas. Você pode optar pela exposição que quer, em vez de suplicar para tornar-se parte da história de grifes mais antigas e empresas maiores. Eu gosto especialmente da divulgação em blogs e na internet, porque acho realmente interessante ver os pontos de vista diferentes de tantas pessoas. A moda não precisa ser algo monolítico, não precisa ser uma só voz.

PERGUNTA - Quem inspira vocês, como estilistas? Quem são os exemplos pelos quais vocês se pautam?
ALTUZARRA - Acho que não necessariamente esteticamente, mas como empresa, Dries Van Noten, porque é baseado nas roupas, o que parece praticamente impossível.
OSTERWEIS - Eu também gosto de Dries, e gosto muito de Junya Watanabe e Rei (Kawakubo).
ADAMS - Sempre me inspirei na maneira como Raf Simons vem fazendo seu negócio crescer.
ERVELL - Quando eu era adolescente, na década de 1990, eu me inspirava muito em Helmut Lang.
THEALLET - Azzedine Alaia, é claro, porque ele cria coleções exatamente do jeito que quer. Dries, como vocês falaram, pelo jeito como cria seu negócio, e a Prada também. E Yves Saint Laurent.
LEE - Eu realmente admiro Martin Margiela. Ele é muito visionário, mas vem controlando sua exposição, e sua linha sempre se mantém fiel àquilo em que ele acredita.

PERGUNTA - Então nenhum estilista americano?
ALTUZARRA - Eu estava pensando nisso antes. Uma grife como a Ralph Lauren eu admiro. Só não sei se isso é algo que seria possível conseguir hoje. Aquele nível e aquelas dimensões, essa linha de produtos que abrange tudo, esse estilo de vida. Nessa escala, algo como a Prada é um pouco mais atingível. O que acho interessante na Prada é que há também essa ideia de um legado criado. A Prada não é tão antiga assim como grife, mas a sensação que se tem é que é bem antiga, e acho isso realmente inteligente, e foi isso o que Ralph Lauren fez. Essencialmente, ele se apropriou da América como seu legado e sua herança.

PERGUNTA - O que vocês quiseram dizer quando falaram que seria impossível simplesmente vender e criar roupas hoje?
ALTUZARRA - É exatamente isso que quero dizer. Às vezes há uma disparidade muito interessante entre o que os clientes estão procurando, o que os compradores estão procurando e o que os estilistas estão fazendo. Você pode fazer algo realmente bem na Itália, com material lindo, e vai custar US$ 2.000 no varejo, mas a Zara vai fazer a mesma coisa em Portugal um mês depois por apenas US$ 250. As pessoas que realmente têm discernimento vão comprar seu produto, mas a maioria vai querer apenas a aparência do que você criou e vai comprar na Zara.
OSTERWEIS - Você vende internacionalmente online?
ERVELL - A gente vende, mas a maioria dos pedidos vem da América do Norte.
ADAMS - Estamos tendo um crescimento enorme na China. O que estamos vendo é que há mais dinheiro na China e que há pessoas interessadas em comprar roupas de estilistas novos. A idade não é realmente um problema para nós na Ásia, especialmente na China.
ERVELL - Para mim também, a Ásia -a Ásia sem o Japão- vem sendo realmente grande, Hong Kong, Coreia do Sul, Taiwan e agora também, começando, a China continental. Vem sendo uma parte realmente grande de nosso crescimento.
ALTUZARRA - Você cria uma linha de produtos diferente para eles?
ERVELL - Não. Os mesmos preços no atacado.
ADAMS - Não fazemos tamanhos diferentes. Fazemos a mesma coisa projetada para todo o resto do mundo.

PERGUNTA - Uma última pergunta: como vocês sabem quando chegaram lá?
LEE - Acho que todos nós chegamos lá. Todos nós estamos concretizando nossos sonhos. Estamos todos fazendo o que queremos fazer, então, em certo sentido, chegamos lá.


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