São Paulo, segunda-feira, 20 de dezembro de 2010

Texto Anterior | Próximo Texto | Índice | Comunicar Erros

CIÊNCIA & TECNOLOGIA

Uma odisseia visual no cérebro

ON-LINE: IMAGINANDO A MENTE
Um show de slides com as imagens de "Retratos da Mente" e uma conversa com o especialista no assunto Carl Schoonover: nytimes.com/science


Por ABIGAIL ZUGER, M.D.
Quem já viu a mente? Nem eu, nem você, nem qualquer um dos neurocientistas que se dedicam a revelar os segredos dessa força invisível.
Os especialistas estão chegando perto: as últimas décadas produziram uma explosão de novas técnicas para sondar as curvas cinzentas do cérebro em busca da mente que pensa, sente, sofre e raciocina.
Mas é um campo que permanece tecnologicamente complexo, fora do alcance dos que não são cientistas.
Carl Schoonover assumiu isso como um desafio. Aos 27 anos, Schoonover está no meio de um programa de doutorado em neurociência na Universidade Columbia em Nova York e decidiu atrair o leitor para seu campo de estudo pela beleza das imagens.
Ele as compilou em um belo livro de arte, "Portraits of the Mind: Visualizing the Brain From Antiquity to the 21st Century" (retratos da mente: visualizando o cérebro da antiguidade ao século 21), que inclui ensaios de importantes neurocientistas e longas legendas de Schoonover -mas as palavras assumem um lugar secundário diante das imagens maravilhosas, desde as primeiras delicadas representações de neurônios esboçadas em preto e branco vitoriano às gigantes formas multicoloridas que as mesmas estruturas exibem nas telas de LEDs do século 21.
Os cientistas são frequentemente seduzidos pela beleza. Às vezes, a emoção é a magia de uma fabulosa técnica para captar dados fugidios.
Considere uma pequena foto em preto e branco desfocada de um ícone do rosto do "Smiley". A imagem é um milagre: a câmera de vídeo em alta velocidade que foi enfocada no cérebro exposto de um macaco que olha para um rosto amarelo do Smiley. Enquanto o macaco olhava para a face, os vasos sanguíneos que abastecem as células nervosas na parte visual de seu cérebro incharam rapidamente, formando o mesmo desenho.
Podemos dizer o que estava na mente do macaco inspecionando seu cérebro. A imagem forma uma ligação entre corpóreo e evanescente, entre corpo e espírito. E por trás da foto se estende longa história de inspiradas deduções neurocientíficas e erros igualmente inspirados, todos destinados a esclarecer a ligação.
É muito adequado que a história seja visual, pois as aparências enganaram os antigos durante milênios. Aristóteles concluiu que as circunvoluções úmidas do cérebro serviam apenas para resfriar o coração, o evidente lar da alma racional.
Em 1873, o cientista italiano Camillo Golgi desenvolveu uma tintura preta para salientar os feixes nervosos microfinos. Quinze anos depois, o cientista espanhol Santiago Ramón y Cajal, empregando a tintura com extrema habilidade, apresentou ao mundo populações visíveis de neurônios individuais. As raízes, ou dendritos, dessas células nervosas alongadas reúnem a informação. Os troncos, ou axônios, a transmitem.
Hoje, essas mesmas silhuetas esqueléticas brilham, por cortesia de genes inseridos que codificam moléculas fluorescentes. A variação mais drástica desses métodos para salientar neurônios com cores, chamada de Brainbow, transforma os cérebros de camundongos vivos em florestas de neon com árvores ramificadas.
Enquanto isso, o tráfego em longos grupos de neurônios torna-se visível com uma variação da técnica de escaneamento de difusão. Aqui, os neurônios parecem macarrão.
No ensaio final do livro, Joy Hirsch, especialista em neuroimagens em Columbia, simpatiza com os leitores que detestam a ideia de que eles sejam apenas circuitos neurais.
"Essas células e moléculas, banhadas em coquetéis neuroquímicos em gânglios basais, são supostamente a base do meu amor e da ligação com meu marido", ela escreve. "No início de minha jornada acadêmica, eu teria resistido a esse fato inevitável da biologia sob as alegações desorientadas de que uma base física diminuiria a grandiosidade e a sensualidade de minha opção de parceiro de vida."
Hoje, a doutora Hirsch diz que abraça "a unidade entre cérebro físico e mente". E ela acha que ninguém tem muita opção para aceitar isso.
"As pessoas supuseram durante milhares de anos que deveria haver outra coisa", escreve o autor científico Jonah Lehrer na introdução. "No entanto, não há nada: isso é tudo o que somos."


Texto Anterior: Nova bolha assombra setor de tecnologia

Próximo Texto: A matemática desafiava os egípcios
Índice | Comunicar Erros



Copyright Empresa Folha da Manhã S/A. Todos os direitos reservados. É proibida a reprodução do conteúdo desta página em qualquer meio de comunicação, eletrônico ou impresso, sem autorização escrita da Folhapress.