São Paulo, segunda-feira, 21 de março de 2011 |
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Carnaval é resultado de choque entre cultura e comércio Fantasias "made in China" péssimas para economia local Por JOHN ELIGON PORT-OF-SPAIN, Trinidad e Tobago - O governo trinitário e outros estão se esforçando para fazer do Carnaval do país uma atividade mais lucrativa e exportável. Mas está ocorrendo uma batalha entre tradição e comércio. Dean Ackin comanda uma das mais populares bandas de Carnaval. As bandas são blocos que trajam fantasias e brincam Carnaval -ou brincam o Mas, como se diz no país- no grande desfile de rua que dura dois dias no início de março. As cerca de 5.000 vagas na banda de Ackin, a Tribe, se esgotam todos os anos. A demanda vem sendo tão grande que Ackin acaba de fundar uma segunda banda. As estimativas quanto aos lucros do Carnaval variam entre pouco mais de US$ 27 milhões e centenas de milhões de dólares. A festa atrai cerca de 40 mil visitantes a Trinidad, todos os anos. Os turistas são incentivados a comprar fantasias, que custam qualquer coisa entre US$ 200 e US$ 400 a US$ 1.000 cobrados por uma banda como a Tribe por uma experiência que inclui bebidas por dois dias, refeições, segurança e traslados. Ackin, 38, opta por fantasias mais baratas e menores, às vezes produzidas fora de Trinidad, em lugar das fantasias tradicionais, mais conservadoras. Críticos afirmam que as fantasias importadas estão distorcendo as criações tradicionais e tirando empregos do país. Muitas bandas importam fantasias da China. Ackin diz que suas bandas importaram cerca de 20% dos elementos de suas fantasias, o que seria necessário para atender à demanda e conseguir produtos de alta qualidade que não são encontrados em Trinidad. "Para eles, o que importa de fato é o lucro", disse Stephen Derek, que produz fantasias tradicionais. De fato, o Carnaval de Trinidad começou a assemelhar-se "ao do Brasil, sob muitos aspectos", disse o ministro das Artes e do Multiculturalismo, Winston Peters, "onde só se usam biquínis decorados e coisas com enfeites de cabeça. Não posso ser contra, porque é isso o que as pessoas querem. Ao mesmo tempo, não queremos que o Mas tradicional de nosso país desapareça." O ministro propôs imposto de 2.000% sobre fantasias importadas. O choque entre gerações vem suscitando dúvidas sobre como o Carnaval molda o país. Estará a dependência de biquínis produzidos em massa sufocando a criatividade tradicional? Ou será que reflete um novo desejo de superar a reputação de Trinidad de complacência em desenvolver fluxos de renda que não se limitem à produção de petróleo? As pessoas de ambos os lados na disputa parecem concordar que Trinidad precisa fazer uso melhor dos recursos nacionais e das habilidades das pessoas que atuam no negócio do Carnaval para criar uma indústria exportável. O governo estuda a possibilidade de aumentar os valores pagos em prêmios para as bandas com as melhores fantasias e criou uma banda na qual qualquer pessoa pode desfilar usando fantasia feita em casa. Uma nova Academia do Mas ensina os ofícios ligados ao Carnaval e fornece certificados aos alunos. Para os defensores da tradição, a transformação das bandas em negócios mudou a ordem social passada, na qual as bandas eram compostas de amigos que se reuniam para se divertir, criar fantasias e comer e beber juntos. Com reportagem de Vijai Singh Texto Anterior: Música para quem tem internet Próximo Texto: Batalha para controlar uma empresa Índice | Comunicar Erros |
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