São Paulo, segunda-feira, 21 de março de 2011

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Batalha para controlar uma empresa

Um magnata da moda trava enorme conflito cultural

Por LIZ ALDERMAN
PARIS - Bernard Arnault, o homem mais rico da França e a força por trás do vasto império LVMH Moët Hennessy Louis Vuitton, quer deixar o affaire John Galliano para trás. Recentemente, Arnault demitiu seu estilista astro, depois de uma diatribe antissemita despejada por Galliano em um bar parisiense. Por mais desagradável o incidente com Galliano tenha sido para a Dior, uma das empresas de Arnault, o empresário não perdeu de vista seu alvo mais recente de aquisição: a Hermès International. Desde outubro, Arnault vem buscando comprar a Hermès, empresa familiar de 174 anos de idade cujos lenços de seda e bolsas Kelly e Birkin são altamente cobiçados.
Arnault diz que não vai interferir com a administração ou as tradições da Hermès. "Somos investidores totalmente pacíficos", disse ele. "Mas, como líderes nos produtos de mais alta qualidade do mundo, acreditamos que podemos contribuir com certo 'savoir-faire' para aprimorar o funcionamento do negócio da Hermès."
Para as pessoas da Hermès, o grupo LVMH representa tudo o que a Hermès não é. Bernard Arnault passou as últimas três décadas comprando uma marca de luxo depois de outra e então contratando estilistas como Galliano e Marc Jacobs (este para a Louis Vuitton) para injetar sangue novo em grifes antigas. O fato de Galliano ter recebido as chaves da Dior e então ter se autodestruído pareceu confirmar os piores temores dos executivos da Hermès.
Arnault diz que a Hermès não tem nada a perder. "Eu jamais prejudicaria a qualidade da Hermès", diz ele. "Se quisesse trabalhar conosco, a Hermès poderia ser uma empresa de qualidade ainda mais alta e rara."
Ele gostaria, por exemplo, de ver a Hermès deixar de vender seus artigos em lojas duty-free de aeroportos, eliminar todos os descontos e contratar funcionários mais jovens. Arnault eliminou os descontos na Louis Vuitton, em um esforço para elevar o valor das bolsas de couro com monograma e dos outros acessórios da grife. Ele imbuiu esses artigos de uma qualidade de elite e os converteu em objetos imprescindíveis.
Axel Dumas, 40, é membro da sexta geração da família proprietária da Hermès. Ele diz que o que a presença não convidada de Arnault conseguiu foi aumentar ainda mais a solidariedade entre as gerações mais jovens e a geração mais velha.
"De certo modo, isto nos aproximou mais ainda", disse Dumas, que vai assumir posto de chefia.
As vendas do grupo LVMH subiram 19% no ano passado e, pela primeira vez, superaram os 20 bilhões de euros. Os lucros aumentaram 73%, para 3 bilhões de euros. A receita de artigos de moda e de couro, como as bolsas Louis Vuitton, aumentou em 20%.
No ano passado, a Hermès teve lucro de 421,7 milhões de euros sobre vendas de 2,4 bilhões de euros. Uma bolsa Birkin, cujo nome se deve a Jane Birkin, custa entre 3.500 e 40 mil euros. Em outubro, o LVMH anunciou que tinha adquirido 17% da Hermès, com meta de aumentar participação.
Arnault tinha aumentado sua participação na Hermès na surdina, não comprando as ações da empresa, mas usando uma das armas mais potentes no mundo das finanças: derivativos. Ele utilizou instrumentos chamados "equity swaps" (troca de dívidas por ativos) que lhe deram a opção de comprar grande parcela da Hermès ao longo de um prazo determinado.
Agora, a família está buscando criar uma companhia especial que detenha mais de 50% de suas ações no negócio, visando evitar outra incursão.
Pierre Gode, assessor principal de Bernard Arnault, diz que o grupo LVMH vai esperar pela Hermès -"um século ou até dois".
"Se algum dia a família quiser deixar a empresa, acreditamos que vamos acalmar esse receio de que representamos o mercado de massas."
Dumas afirma que sua família jamais vai vender a Hermès. Tudo o que a família pode fazer, diz ele, é se manter firme diante de algo que seus integrantes vêem como sendo uma batalha pela própria alma da Hermès. Para Dumas, "se isso não nos destruir, vai nos fortalecer".


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