São Paulo, segunda-feira, 21 de junho de 2010

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LENTE

Os últimos bastiões do preconceito

Em tempos supostamente esclarecidos, só um tolo preconceituoso contaria uma piada cruel sobre uma minoria.
Na realidade, a vida não é tão simples. Formas mais sutis de discriminação, algumas delas baseadas na aparência e na atração, persistem mesmo onde o preconceito declarado contra raça ou religião é reprovado.
Basta perguntar a pessoas gordas. Muitas sentem que a ridicularização que sofrem é mais dolorosa por ser socialmente aceitável. Pesquisas mostram que, embora haja mais pessoas acima do peso que nunca, o estigma contra elas está se intensificando. E, como relatou o "New York Times", a obesidade é muitas vezes criticada como um fracasso pessoal, apesar de a ciência apontar principalmente para causas genéticas.
Enquanto isso, as pessoas gordas são culpadas por questões como o aumento dos custos da assistência à saúde e até pelo maior consumo de combustível.
Muitos se queixam de que ser obeso afeta suas perspectivas de emprego.
"Somos uma espécie de saco de pancada", disse ao "Times" Marilyn Wann, autora de "Fat? So?" (Gorda? E daí?). "Você pode fazer coisas discriminatórias, danosas e detestáveis às pessoas gordas em público, e não só ser aceito como ser visto como uma espécie de super-herói."
Ela acrescentou: "A única coisa que qualquer pessoa pode diagnosticar precisamente olhando para uma pessoa gorda é seu próprio nível de estereótipo e preconceito sobre a gordura".
O preconceito etário é outra forma sutil de discriminação, especialmente em Hollywood, onde juventude e beleza reinam supremas. Neste ano, um grupo de redatores de TV mais velhos ganhou um processo de US$ 70 milhões na Justiça por discriminação etária.
Mas Tony Segall, o advogado do Sindicato dos Escritores do Oeste, advertiu que "ainda há um acentuado declínio nos índices de emprego conforme os escritores envelhecem".
Outros recorrem à cirurgia plástica, a ponto de que em algumas sociedades as mulheres se sentem estigmatizadas se não passarem pelo bisturi.
"As mulheres sempre sofreram pressões para ter boa aparência", disse ao "Times" Susan Burke, 50, enfermeira de Nova Jersey que pensou muito sobre fazer cirurgia cosmética. "Mas [a pressão] aumentou recentemente porque nos habituamos a ver rostos perfeitos e sem rugas. Hoje, quando você vê alguém que parece uma uva passa ou uma ameixa, parece tão incomum que você quase sente repulsa."
Parte da pressão é econômica. "Se você quiser vender uma casa de US$ 1 milhão, precisa ter boa aparência", disse a corretora de imóveis Tracey McCallum, de Bowie, Maryland. Ela tem apenas 33 anos mas já tomou injeções de Botox, fez peeling químico e tratamentos a laser.
Alguns poderiam dizer que ela é paranoica. Mas, conforme escreveu Maureen Dowd no "Times", estudos mostram que as pessoas de boa aparência conseguem um "prêmio de beleza" de 5% a mais nos salários.
Fumantes de cigarros estão se habituando a seu status de quase párias, e a maioria aceitou que o hábito não é bem-vindo em escritórios, bares e restaurantes, conforme a proibição do fumo é aprovada nos EUA e no exterior. Em Belmont, Califórnia, porém, alguns ficaram irritados quando a cidade proibiu o fumo praticamente em todo lugar, incluindo dentro de prédios de apartamentos.
Sob a perspectiva de Edith Frederickson, fumante há mais de 50 anos, a lei foi discriminatória. "Eles estão lhe dizendo como deve viver e o que fazer", ela afirmou ao "Times" no ano passado.
Obstinada, ela disse que não vai parar de fumar em casa. "Continuarei sendo uma criminosa."
KEVIN DELANEY


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