São Paulo, segunda-feira, 21 de junho de 2010

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TENDÊNCIAS MUNDIAIS

Moda olha ao passado para obter lucros


Varejistas creem que o "vintage" atrairá consumidores

Por STEPHANIE CLIFFORD

O verão de 2010 no hemisfério Norte, para algumas grifes de roupas, está muito parecido com o verão de 1910, o de 1949 e o de 1957 -basicamente, com qualquer tempo menos o atual.
A grife Eddie Bauer está relançando jaquetas que vendia a pilotos da Segunda Guerra Mundial e alpinistas dos anos 1950. O biquíni de babados da Jantzen segue o estilo do maiô de "pin-up girl" que a empresa vendia nos anos 1940. A Sperry Top-Siders está vendendo sapatos esportivos brancos baseados em peças de arquivo.
E a L.L. Bean criou um sapato de caça que era vendido em 1914 com o aviso: "Você não pode esperar sucesso na caça a animais de grande porte se seus pés não estiverem corretamente calçados".
As grifes estão vasculhando seus arquivos, na esperança de que estilos de roupa do passado, com clima clássico, consigam atenuar a ansiedade dos consumidores em tempos de insegurança.
Neste momento em que alguns americanos sentem que não podem confiar no governo ou em Wall Street, as grifes apostam nas chances de suas linhas "vintage" evocarem memórias de tempos melhores -e convencerem os clientes a abrir as carteiras.
"É quando as pessoas estão insatisfeitas com o presente que elas começam a apreciar o passado ou sentir nostalgia dele", disse Nigel Hollis, analista global chefe da firma de pesquisas Millward Brown. "As empresas estão apostando nesse filão."
Segundo pesquisas Gallup feitas nos últimos anos, o público sente pouca confiança na maioria das instituições americanas, especialmente o Congresso e as grandes empresas.
E os consumidores não estão gastando: após meses de crescimento nas vendas, por exemplo, o Censo relatou recentemente que as vendas ao varejo caíram 1,2% em maio, muito mais que o previsto por analistas.
Esse cenário eleva mais ainda a importância de artigos que possam atrair o interesse dos consumidores. Embora as empresas não costumem ter vendas grandes de produtos "vintage", a maioria relata que essas linhas estão vendendo mais que o projetado. E os preços desses artigos tendem a ser mais altos: a L.L. Bean, por exemplo, cobra 25% mais por seus artigos "Signature".
"Há algo importante ocorrendo no mercado e na mentalidade dos consumidores dos EUA que está levando as pessoas a aderir às marcas que remetem ao passado", disse Neil S. Fiske, executivo-chefe da Eddie Bauer, que lançou artigos "heritage" (do passado) no ano passado. "As pessoas querem poder acreditar em coisas que sejam americanas e querem fazer parte de coisas que tenham longevidade."
Trazer de volta produtos do passado, esquecidos há muito tempo, pode ser ao mesmo tempo divertido e difícil. Segundo as grifes, isso já foi tentado antes, mas nunca antes na escala atual.
Na fabricante de roupas L.L. Bean, a tarefa coube a Alex Carleton, diretor criativo da coleção "Signature" da empresa. Guardados nos fundos da velha casa vitoriana do fundador da empresa, em Maine, os arquivos dos quase cem anos da companhia incluem salas repletas de roupas, armários cheios de botas, todos os catálogos que a empresa já produziu, cartas de pessoas como Babe Ruth e os diários de caça de Bean, o fundador.
O arquivista exige que os visitantes vistam luvas de algodão branco quando tocam em qualquer coisa, e Carleton o faz.
Algumas peças que ele encontrou foram inspiradoras.
Carleton redesenhou uma saia-envelope, promovida no catálogo de 1957 como sendo "apropriada para uso esportivo e para acampar", agora como saia-envelope casual de cambraia de linho, mais justa e mais curta que a original. Na recriação de um casaco de caçador dos anos 1940 ele removeu o forro plástico na parte traseira do casaco, criado originalmente para levar patos que tinham acabado de ser abatidos e ainda estavam ensanguentados.
Carleton trouxe à tona alguns itens especialmente bizarros dos anos 1970, uma era na qual pretende se inspirar para a coleção outono/2011. Alguns deles: uma faixa de angorá que era amarrada em volta do torso, com o objetivo de aquecer a região lombar, e um parca masculino.
A popularidade das peças nostálgicas não se deve apenas à economia difícil, disse o presidente da Land's End, Nick Coe, dizendo que espera que a linha Canvas, de inspiração histórica, venda bem mesmo que a economia melhore. E tampouco se deve sempre a recordações boas, já que a economia durante boa parte dos anos 1970 foi um desastre.
"Os hábitos mudaram seriamente em relação ao consumo desenfreado da década passada", disse Coe. "Não se trata necessariamente de economizar, mas de procurar artigos de valor real."


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