São Paulo, segunda-feira, 21 de junho de 2010

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Na Índia, progresso colide com o trânsito

Por HEATHER TIMMONS e HARI KUMAR

NOVA DÉLI - Cada vez mais indianos morrem nas ruas, estradas e avenidas. A Índia em 2006 superou a China em quantidade de mortes no trânsito e continua avançando na liderança, apesar de ter uma população fortemente rural, menos habitantes que a China e bem menos carros do que muitos países ocidentais.
Enquanto em outros grandes países emergentes o número de mortes no trânsito vem caindo ou se estabilizando, na Índia essa cifra subiu 40% num período de cinco anos, até superar 118 mil em 2008, último dado disponível.
Uma letal mistura de mau planejamento rodoviário, fiscalização inadequada, expansão da frota de carros e caminhões e aumento no número de motoristas inexperientes faz com que a Índia seja a líder mundial das mortes no trânsito.
Isso mostra como, a despeito do crescimento econômico expressivo e da maior importância do país no cenário global, o governo ainda tem dificuldades para garantir a segurança dos seus mais de 1 bilhão de habitantes.
A China, por sua vez, também passou por um boom automobilístico. Mas as cifras oficiais mostram que as mortes no trânsito vêm caindo na maior parte da última década, chegando a 73,5 mil em 2008. Novas rodovias segregam os carros de pedestres, tratores e de outros veículos lentos, e o governo reprime motoristas alcoolizados e outras infrações.
A situação das estradas representa "um fracasso total por parte do governo da Índia", disse Rakesh Singh, pai de um garoto de 16 anos que morreu no ano passado, no acostamento de uma estrada no Estado de Uttar Pradesh, ao ser atropelado por um caminhão. O motorista fugiu.
Especialistas apontam várias causas para a falta de segurança no trânsito. A polícia com frequência está sobrecarregada demais para fiscalizar as leis de tráfego, ou aceita subornos para ignorá-las; veículos pesados, pedestres, carroças e bicicletas compartilham as estradas; as punições para infratores são brandas, tardias ou nulas; e é fácil comprar uma carteira de motorista.
Kamal Nath, ministro indiano dos Transportes Rodoviários, afirmou que a segurança nas rodovias é "prioridade" para o governo. Mas especialistas internacionais dizem que as autoridades da Índia têm demorado a agir.
Para Etienne Krug, diretor do departamento de prevenção da violência da Organização Mundial da Saúde, a redução das mortes nas estradas "exige compromisso político do mais alto nível", e o governo da Índia está "apenas despertando para a questão".
Responsáveis pelo planejamento governamental advertem que tão cedo o número de vítimas não deve cair. Quando rodovias são construídas, "sempre há mais acidentes", afirmou Atul Kumar, gerente-geral de segurança nas estradas da Autoridade Nacional Rodoviária da Índia, que é parte do ministério de Nath. No resto do mundo, um aumento no número de estradas velozes nem sempre significa uma elevação das mortes. No Brasil, por exemplo, autoestradas novas e privatizadas têm índices muito menores de acidentes fatais do que outras rodovias.
Singh, pai do menino atropelado, passou dias à procura do motorista fugitivo, sem a ajuda da polícia local. Finalmente, teve de colocar os policiais no seu próprio carro para que fizessem a prisão. "Ninguém quer ser responsável", disse ele. "Estão todos tirando o corpo fora."


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