São Paulo, segunda-feira, 21 de junho de 2010

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DINHEIRO & NEGÓCIOS

Dívida fantasma de US$ 2,6 tri assusta bancos europeus


Recessão no continente pode desencadear calotes

Por JACK EWING

FRANKFURT - É um mistério de US$ 2,6 trilhões.
Essa é a quantia que bancos e outras instituições financeiras estrangeiras emprestaram a entidades públicas e privadas de Grécia, Espanha e Portugal. Analistas e investidores supõem que uma parcela significativa dessa montanha de dívidas jamais será paga.
O problema é que ninguém -nem investidores, nem autoridades, nem mesmo os próprios bancos- sabe exatamente quais bancos estão sentados sobre as maiores pilhas de dívidas podres dentro dessa bolada.
E a dúvida, como sempre ocorre durante crises econômicas, pode levar à paralisia. No começo do mês passado, os bancos europeus -que aparentemente detêm mais de metade dessa dívida de € 2,2 trilhões (R$ 4,84 trilhões)- quase pararam de emprestar dinheiro uns aos outros.
Agora, com as restrições nos recursos públicos e a erosão da confiança nas economias europeias, alguns analistas dizem que os bancos do continente precisam contabilizar seus infortúnios de modo transparente e rigoroso. Sem isso, alegam, ninguém será capaz de combater de modo efetivo os crescentes problemas europeus.
Antes que a crise grega viesse à tona neste ano, os investidores prestavam pouca atenção à quantia que os bancos europeus emprestavam para fora dos seus países -então, foi uma surpresa descobrir quão vulneráveis eles estavam diante de economias fracas como as de Grécia e Portugal.
"Todo o mundo sabia que havia muita dívida por aí", afirmou Nick Matthews, economista sênior do Royal Bank of Scotland e coautor de um relatório que contabiliza as dívidas grega, espanhola e portuguesa.
"Mas acho que a extensão da exposição foi muito mais elevada do que a maioria das pessoas originalmente achava."
Rapidamente a preocupação espalhou-se para além dos títulos soberanos emitidos pelos três países e pela Itália e a Irlanda, também seriamente endividadas.
A dívida do setor privado nas nações em apuros também chama a atenção, porque quando os governos pagam mais pelo financiamento, o mesmo acontece com as empresas desses países.
A recessão, junto com um maior pagamento de juros, pode levar a uma onda de calotes corporativos, alertou o Banco Central Europeu em 31 de maio.
O organismo estima que os maiores bancos do continente irão registrar € 123 bilhões (R$ 270 bilhões) em inadimplências neste ano, e outros € 105 bilhões no ano que vem, embora as quantias sejam parcialmente compensadas por lucros em outros itens.
Analistas do Royal Bank of Scotland estimaram que, dos € 2,2 trilhões emprestados a Grécia, Espanha e Portugal por bancos e outras instituições europeias de fora desses países, cerca de € 567 bilhões são dívidas públicas, € 534 bilhões são empréstimos a empresas não bancárias do setor privado, e cerca de € 1 trilhão é de empréstimos a outros bancos.
A Espanha recebeu € 1,5 trilhão, bem acima dos € 338 bilhões da Grécia, onde a crise se originou.
Fora isso, há pouquíssimos outros detalhes divulgados sobre esses empréstimos, que equivalem a 22% do PIB europeu.
Em 7 de maio, o custo do seguro de dívidas para os bancos europeus atingiu níveis superiores àqueles registrados imediatamente após a quebra do Lehman Brothers nos EUA. O BC europeu advertiu que o prêmio pelo risco estava subindo a níveis que ameaçavam a sua própria capacidade de cumprir sua função fundamental de controlar as taxas de juros.
Três dias depois, os governos da União Europeia se juntaram ao FMI para oferecer quase US$ 1 trilhão em garantias de empréstimos aos bancos europeus. Ao mesmo tempo, o BC europeu começou a comprar pela primeira vez papéis dos governos, para evitar uma desova de títulos soberanos de Grécia, Espanha e outros países.
Descobrir quais bancos podem estar mais expostos à Grécia e talvez a outros países continua sendo principalmente um jogo de adivinhação.
Os órgãos reguladores de cada país sabem quais títulos seus bancos domésticos detêm, mas relutam em compartilhar esse dado além das suas fronteiras. Lucas Papademos, emtão vice-presidente do BC europeu, disse em 31 de maio que um pequeno número de bancos estava "confiando em excesso" nas suas linhas de crédito emergenciais. Mas Papademos, cujo mandato terminou no dia seguinte, não foi mais específico.
"O mercado sabe pouquíssimo sobre onde estão os verdadeiros riscos", diz Nicolas Véron, economista em Bruxelas. "Enquanto não houver uma aparência de clareza, a confiança não irá voltar ao sistema bancário."


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